Questões de educação
António Franco
1. Há cerca de 1 mês, o Ministério da Educação anunciou que, à semelhança dos anos anteriores, os alunos só realizarão exames às disciplinas que elegerem como específicas para acesso ao ensino superior.
2. O Ministério alterou, assim, mais uma vez, as regras a meio do jogo, dado que a lei em vigor obriga à realização de quatro exames e, não havendo já epidemia, nada justifica que continue a ser suspensa todos os anos.
3. Apesar disso, o Ministério afirmou que se mantinham as condições do ano anterior. A ser assim, não consigo perceber porque não o anunciou logo no início do ano letivo e o fez apenas em janeiro.
4. Nesse mês, aproveitou ainda para anunciar o futuro desaparecimento dos exames para efeitos de conclusão do Ensino Secundário, acrescentando que os mesmos passariam a ter lugar apenas para acesso ao ensino superior. Pretendia-se, desta forma, terminar com uma pretensa exclusão dos alunos mais pobres que, segundo números atirados para o ar, reprovariam mais do que os outros e, como quase sempre, a solução passaria por facilitar as coisas, acabando com os exames.
5. Em fevereiro, um mês depois, e perante as reações da opinião pública, do Presidente da República e da Ministra do Ensino Superior, deu-se o dito por não dito e anunciou-se que os exames iriam continuar a ser obrigatórios para concluir o Ensino Secundário. Aliás, o anúncio foi feito como se as declarações do mês anterior nunca tivessem sido proferidas.
6. De acordo com o agora anunciado, passarão a ser três os exames obrigatórios e contarão 25% para a classificação final das respetivas disciplinas e não os 30% atuais (caso a lei em vigor estivesse a ser aplicada). Além disso, o seu peso nunca poderá ser inferior a 50% na nota de candidatura ao Ensino Superior. As classificações das disciplinas passarão, ainda, a ter uma ponderação de acordo com os anos da sua duração, o que me parece bem e torna o sistema mais justo, dado refletir melhor a prestação do aluno ao longo dos três anos do Ensino Secundário.
7. Como ainda faltam uns meses para o final do ano letivo, esperemos que desta vez não haja muitas reações negativas, senão ainda teremos outras alterações, anunciadas como se fossem a primeira.
8. Sendo a educação um setor que deveria estar acima das querelas partidárias, não se compreende esta ânsia de cada ministro deixar uma marca sua, alterando-se, neste caso, até aquilo que vinha do tempo do anterior governo de José Sócrates, ao acabar-se com uma série de dados possibilitados pela avaliação externa que permitia, também, aferir o sistema e comparar anos letivos diferentes.
9. Já quanto à papelada, a capacidade inventiva é impressionante e, em muitos casos, é aumentada, ainda, pelas Direções Pedagógicas de alguns Agrupamentos. Cada vez mais o papel da pedagogia é ocupado pela pedagogia do papel, roubando o tempo de que os professores tanto necessitam para preparar melhores aulas e atividades, transformando-os em autênticos escriturários ao serviço da burocracia ministerial.
Imagem de Chuk Yong por Pixabay