Poesia Eterna – Luz na noite escura
(Recanto de poética dedicado à obra de S. João da Cruz)
Parceria com o Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro
Chama viva*
Esta chama de amor,
que é o Espírito Santo,
o qual a alma sente já em si,
não só como fogo
que a tem consumada
e transformada em suave amor,
mas como fogo que,
além disso,
arde nela e deita chama…
E aquela chama,
cada vez que chameja,
banha a alma em glória
e a refresca em têmpera de vida divina.
E esta é a operação do Espírito Santo
na alma transformada em amor,
de modo que os actos interiores que faz é chamejar,
que são inflamações de amor,
em que unida a vontade da alma,
ama subidissimamente,
feita um amor com aquela chama.
E assim, estes actos de amor da alma
são preciosíssimos;
e num só ela merece mais e vale mais
que em tudo quanto fez em toda a sua vida
sem esta transformação,
por mais que isso fosse.
E a diferença que há entre o hábito e o acto,
há entre a transformação em amor
e a chama de amor,
e é a mesma que há entre o madeiro inflamado
e a sua chama:
pois a chama é efeito do fogo que ali está…
E os actos desta alma
são a chama que nasce do fogo de amor,
que salta tanto mais veemente
quanto mais intenso é o fogo da união
na qual chama se unem
e sobem os actos da vontade,
arrebatada e absorta
na chama do Espírito Santo,
que é como o anjo que subiu para Deus
na chama do sacrifício de Manué (Jz 13, 20).
E assim, neste estado
não pode a alma fazer actos,
pois o Espírito Santo os faz todos
e a eles a move; e por isso,
todos os seus actos são divinos,
pois é feita e movida por Deus.
E assim parece à alma que
cada vez que esta chama flameja,
fazendo-a amar com sabor e têmpera divina,
lhe está dando vida eterna,
pois levanta-a a operação de Deus em Deus.
(CH B 1, 3-4 in Eulogio Pacho, As mais belas páginas de S. João da Cruz, Edições Carmelo, Avessadas p. 68.)
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