Ter. Jan 14th, 2025

Poesia Eterna – Luz na noite escura

(Recanto de poética dedicado à obra de S. João da Cruz)

Parceria com o Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro

Chama viva*

Esta chama de amor,

que é o Espírito Santo,

o qual a alma sente já em si,

não só como fogo

que a tem consumada

e transformada em suave amor,

mas como fogo que,

além disso,

arde nela e deita chama…

E aquela chama,

cada vez que chameja,

banha a alma em glória

e a refresca em têmpera de vida divina.

E esta é a operação do Espírito Santo

na alma transformada em amor,

de modo que os actos interiores que faz é chamejar,

que são inflamações de amor,

em que unida a vontade da alma,

ama subidissimamente,

feita um amor com aquela chama.

E assim, estes actos de amor da alma

são preciosíssimos;

e num só ela merece mais e vale mais

que em tudo quanto fez em toda a sua vida

sem esta transformação,

por mais que isso fosse.

E a diferença que há entre o hábito e o acto,

há entre a transformação em amor

e a chama de amor,

e é a mesma que há entre o madeiro inflamado

e a sua chama:

pois a chama é efeito do fogo que ali está…

E os actos desta alma

são a chama que nasce do fogo de amor,

que salta tanto mais veemente

quanto mais intenso é o fogo da união

na qual chama se unem

e sobem os actos da vontade,

arrebatada e absorta

na chama do Espírito Santo,

que é como o anjo que subiu para Deus

na chama do sacrifício de Manué (Jz 13, 20).

E assim, neste estado

não pode a alma fazer actos,

pois o Espírito Santo os faz todos

e a eles a move; e por isso,

todos os seus actos são divinos,

pois é feita e movida por Deus.

E assim parece à alma que

cada vez que esta chama flameja,

fazendo-a amar com sabor e têmpera divina,

lhe está dando vida eterna,

pois levanta-a a operação de Deus em Deus.

(CH B 1, 3-4 in Eulogio Pacho, As mais belas páginas de S. João da Cruz, Edições Carmelo, Avessadas p. 68.)

Imagem de David Mark por Pixabay