Sáb. Mai 24th, 2025

Questões de educação


António Franco

  1. A propósito da greve de professores se ter estendido para a época de exames, Mário Nogueira reconheceu que há possibilidade de decretar serviços mínimos (entretanto decretados), embora a educação não seja, por ele, considerada necessidade social impreterível. “Se não houver exames por causa da greve estes podem ser recalendarizados ou o Ministério pode mesmo prescindir deles”, disse o sindicalista. Mais uma vez, Mário Nogueira revela um total desprezo pelos alunos e pelas implicações que não realizar exames pode ter nas suas vidas. Além disso, manda um tiro no pé ao afirmar que a educação não pode ser considerada uma necessidade social impreterível. De uma só vez, dá mais uma machadada no importantíssimo papel desempenhado pelos professores, marimba-se para o futuro dos alunos e do país e espeta mais um prego no caixão da sua credibilidade, perante os outros atores do sistema educativo.
  2.    O sindicato STOP, não querendo ficar atrás, decretou greve à avaliação final de todos os anos. Temos competição.
  3. Perante a loucura do que se passa neste momento em algumas escolas estatais, chego a pensar que há um interesse oculto em beneficiar o ensino particular e as famílias mais abonadas ou, como em muitos casos que conheço, dispostas a fazer grandes sacrifícios para matricularem os seus filhos em escolas privadas, de forma a evitar o caos que se vive em muitas escolas. A título de exemplo, um amigo confidenciou-me que, em alguns casos na escola em que trabalha, há disciplinas com exame nacional, em que o número de aulas lecionadas, entre faltas e greves, corresponde apenas a um período de aulas. Que resultados são esperados nestas situações? Estão à espera de milagres?
  4. O Ministro da Educação anunciou as novas regras de conclusão do secundário. Depois da campanha sobre a suposta inflação das notas e de todo o folclore gerado à volta da questão, admira-me que o peso dos exames tenha diminuído para 25%, o que possibilita que a suposta inflação, a existir, tenha ainda maior importância na classificação final. Isso e a diminuição do número de exames obrigatórios. Já agora, o que vai acontecer com os cursos que exigem três provas e nenhuma é a de Português, como é o caso de Medicina? Logo se vê? Quando chegará o dia em que as regras serão conhecidas desde o apito inicial do jogo? No dia de São Nunca à Tarde?
  5. Entretanto, no país real, setenta e cinco por cento dos alunos de TIC não conseguiram acabar as suas provas de aferição dessa disciplina devido a problemas técnicos. Se uma prova de aferição serve para aferir algo, esta não servirá para aferir as competências dos alunos nesta disciplina, tal a disparidade de situações ocorridas. Houve alunos que perderam as suas respostas várias vezes porque a aplicação estava sempre a ir abaixo e outros que tiveram a tarde inteira para resolver a prova. Já sobre servir para aferir a competência deste Ministério estamos conversados.
  6. A esfregar as mãos de contentamento, devem estar as escolas de ensino particular pois, na grande maioria dos casos, viram subir em flecha as inscrições de alunos para o próximo ano letivo. Um dia destes, a AEEP (Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular) ainda vai atribuir uma medalha, pelos serviços prestados ao ensino particular e cooperativo, a Mário Nogueira e a André Pestana.
  7. Saíram os rankings. As vozes habituais expressaram a sua repulsa pela sua publicação, entre as quais a do Ministro, que continua a inventar rankings alternativos para conseguir provar que algumas das escolas que estão nos últimos lugares são melhores do que as outras. Talvez o facto de os alunos terem tido, ao longo do ano, aulas e professores a todas as disciplinas tenha contribuído para a boa prestação (entre outros fatores) de algumas escolas. Tenho esperança que alguém possa fazer chegar esta simples constatação a João Costa, a Mário Nogueira e a André Pestana.
  8. Outro facto possível de constatar nos rankings é que, ao contrário do mito urbano que nos diz que a inflação de notas é maior no ensino privado, verifica-se que, quando analisadas as primeiras 200 escolas, o diferencial é maior nas escolas públicas (3,33 valores, 28%) do que nas privadas (2,35 valores, 18%), para uma média geral de 2,94 valores (24%). Para esta e outras constatações igualmente curiosas e que contrariam a ideia geral, consulte-se a análise feita por Pedro Ribas Araújo, em https://m.facebook.com/story.php?

Imagem de David Schwarzenberg por Pixabay