No 20.º aniversário da Morte do Pe. Arménio
Padre Arménio – Músico. A sua relação com os órgãos de Aveiro [13]
Domingos Peixoto
O órgão da Igreja do Seminário. A registação
Para o teclado II, na parte superior – que fiou a funcionar – foi utilizada a parte da frente do someiro principal do ‘órgão grande’ da Igreja de Jesus, com 7 meios-registos do lado esquerdo e 8 do lado direito:
Lado esquerdo Lado direito
Principal 4’ Principal 4’
Quinzena 2’ Quinzena 2’
Nazardo 2’ 2/3 Nazardo 2’ 2/3
Bordão 8’ Terceira 1’ 3/5
Flauta 4’ Bordão 8’
Principal 8’ Flauta 4’
[Sem legenda] Principal 8’
———————— Flauta Doce 8’
Para o teclado I, na parte inferior, foi utilizada a parte posterior do mesmo someiro – correspondente aos registos de palheta – para a qual foram construídas as peças para o secreto/caixa de vento, as quais, no entanto, não chegaram a ser instaladas. Embora nos orifícios não tenham sido instalados os puxadores, podem identificar-se os tubos colocados no someiro[1]: Bordão 8’, Flauta 4’ e Flauta 2’ para o lado esquerdo, e Bordão 8’, Flauta 8’, Flauta 4’, Flauta 2’ e Piccolo para o lado direito.
Ao pequeno someiro da pedaleira, colocado ao fundo da caixa, do lado esquerdo, correspondem 3 registos – Bordão 16’, Bordão 8’ e Flauta 4’ – com os tubos dentro e fora da caixa (na parede).
O órgão, embora incompleto, iria tocar na inauguração da Igreja do Seminário de Santa Joana Princesa, em 10 de Junho de 1983, e acompanharia a liturgia durante vários anos. Vem a propósito recordar algumas passagens do testemunho do Pe. José Henriques da Silva, um dos membros da equipa de construtores:
“Confesso que, quando comecei a ver os primeiros tubos, pus tantas reservas, pensando que aquilo não ia dar nada: um órgão de tubos só de madeira. A madeira era a embalagem de máquinas que vinham do norte da Europa, o pinho flandres. Ele falava em 750 tubos […] Entretanto, conseguiu de um órgão velho um conjunto de tubos em folha, o que veio aumentar o emaranhado de peças […] Quando chegou a parte final, concretamente a afinação do órgão, comecei a ficar deslumbrado, pois nunca pensei que deste emaranhado de tubos pudesse surgir uma harmonia assim […] De certo modo, eu comparo a vida do Pe. Arménio no seu todo, como padre, como professor, como grande comunicador, pela sua simpatia, pela sua fé e pelo seu amor à Igreja e a Jesus Cristo, a uma orquestra afinada, ou melhor, ao órgão de tubos que ele deixou na capela do Seminário, com os sons melodiosos que se integram no louvor divino da liturgia terrestre […]”[2].
O tempo foi escasseando cada vez mais, sobretudo durante a fase da formação universitária. Diversas vezes comentou que, depois do doutoramento, iria concluir o órgão. Mas a obra assim ficou, suspensa como uma pergunta que nos interpela. Em Aveiro, uma conversa sobre os órgãos de tubos dificilmente termina sem a pergunta: e o do Pe. Arménio?
[1] Reconstituição feita com a colaboração do Pe. Paulo Cruz.
[2] Sinfonia, pp.45-47.