Oratório Peregrino
Um oratório à maneira de um viático para tempos de carestia
Uma proposta desenvolvida em parceria com
Irmãs do Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro
XIII – Cristo pertence-nos
«Jesus… que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo… começou a lavar os pés aos discípulos» (Jo 13, 1-15).
Quer lavar os pés aos seus discípulos. Sente necessidade de mostrar as verdadeiras disposições da sua alma aos seus apóstolos e a nós. Pôs-se a nossos pés, faz o gesto mais humilde que pode fazer. Vemos nele uma atitude de humildade cheia de amor… Essa é a atitude de Jesus connosco. É uma atitude verdadeira, fez este gesto antes da paixão, e continua a fazer.
Na oração, recordai este gesto. Jesus está aí, à nossa disposição, para nos purificar e santificar. A paixão é transitória; este gesto é a sua atitude de fundo. Esta disposição é muito eloquente, comovedora: não rebaixa a Nosso senhor, mas engrandece-O. É algo que nos desconcerta. Ele põe-se ao nosso serviço, entrega-se por nós. Afirma a missão que Deus lhe deu, uma missão que O põem à nossa disposição. Entrega-se à Igreja, a cada um de nós. Nunca tenhamos medo de recorrer a Ele; assim deixamos que cumpra o seu papel de mestre, de Cristo, de mediador. Serve-nos com essa humildade, essa simplicidade afectuosa com que lavou os pés aos seus discípulos. Está aí, de joelhos, para nos servir. Assim começa a sua Paixão.
«Compreendeis o que fiz convosco? Cristo inclinou-se diante dos seus apóstolos para que eles, por sua vez, lavem também os pés aos seus discípulos. Tornamo-nos servidores, porque o que nos foi dado, foi-nos dado para o darmos aos homens (I 6-8-45).
O Padre Eugénio Maria viveu de Cristo. A minha alma está cheia de Nosso Senhor… Como padre e mestre, mostra-nos a Cristo, caminho que leva atá ao infinito. Indica grandes perspectivas e, ao mesmo tempo, acrescenta notas práticas. Em Quero ver a Deus precisa o itinerário:
Fixar sempre o olhar em Jesus… A sabedoria do Verbo se manifestará, obscura ou saborosa… A alma terá que participar nos mistérios dolorosos de Cristo pelo despojamento e a pobreza total… esperando participar do triunfo da sua vida (QV 91).
O mistério de Cristo, com as suas horas de alegria, as suas horas escuras, as suas horas de esperança, realiza-se na vida do cristão.
Quando ora antes da sua Paixão, Cristo só pede uma coisa: que todos sejam um com Ele, como Ele e o Pai são um. Esta unidade é vital. Porquê? Deus fez-se homem e salvador dos homens. Somos de Cristo. Jesus mostrou-nos o seu amor em todos os seus gestos, em todos os seus actos. Mais além dos acontecimentos dolorosos da Paixão, se nos revela a grande misericórdia de Deus, manifestada em Jesus, de quem ninguém nos pode separar.
Portanto, o Padre Eugénio Maria contempla-O no Evangelho; não há um sentimento nem um período da vida de Cristo pelo qual não se interesse profundamente: o amor anseia tudo. Jesus, vimos pôr-nos a teu lado… fala-nos, descobre-te a nós, diz-lhe muitas vezes. Jesus, o companheiro, o irmão, o Filho de Deus, viveu uma vida como a nossa: Mostra-nos as tuas reacções. Quero formar parte do teu círculo de amigos, quero pôr os meus passos nos teus. Quero amar como Vós, com os mesmos meios que Vós (C – 88-335).
«Se Eu não te lavar, nada terás a haver comigo». Aceitemos que este pastor nos guie. É desconcertante! Entregamo-nos a Ele, Ele aceita-nos, e… deixa-nos num recanto! Não O encontramos. Temos que abandonar a Jesus? Nunca. Se perseveramos na noite e aceitamos a sua ausência, encontrá-Lo-emos mais profundamente, a sua Pessoa divina e a sua Sabedoria, que ultrapassa a nossa inteligência, e não reduziremos a alma de Cristo à nossa, mas poderemos penetrar na d’Ele. Quando comungamos com a sabedoria que nos deslumbra, temos a impressão de que Jesus desaparece. Não, não desapareceu, mas nós convertemo-nos noutro Cristo» (I 20-2-51).
Jesus acolhe o meu grito
Para fazer dele a tua oração;
que eu transforme o teu grito na minha oração,
não duvide de ti
quando começo a parecer-me contigo.
Jesus, faz-nos compreender… Talvez tenhamos que estar mais atentos e aceitar que a sua luz ilumine a nossa pobreza e nos mostre o que espera de nós: é o momento da fidelidade. Às vezes, a luz de Cristo brilha na nossa vida, mas, e depois? Depois a luz apaga-se. É uma chamada para algo que todavia não se realizou, temos que ser fiéis. Temos que seguir a chamada que esta luz nos faz, e segui-la na obscuridade.
Noite aberta à luz… Cristo devolve a alegria. Ele que é perdão, toma o lugar do pecador; Ele que é amor toma o lugar do amado. O homem recebe a salvação, o seu «sim» fá-lo entrar no mistério de Cristo e participar na sua Redenção. «Também vós deveis lavar os pés uns aos outros».
Isto realiza-se simplesmente,
imersos na vida:
Cristo já não morre,
mas os seus membros sofrem.
Há 50.000 maneiras
de entrar em contacto com Ele,
na secura, na angústia, no fastio!
Uno-me a Cristo.
Vou ao seu encontro de vez em quando,
ofereço-lhe o meu sofrimento.
Cristo está em mim, e eu sou Cristo.
Vive em mim pela fé,
Assume o meu sofrimento, seja qual for.
O que se entrega a Deus pelos homens
Está só, como Cristo.
Os outros dormem, até Pedro…
Estou só, mas Cristo vive em mim.
Jesus, o que desejo
é a semelhança de amor contigo.
Jesus é toda a nossa oração. Ao amá-lo encontramos o seu Corpo, que é a Igreja, e tanto ela como Ele nos apaixonam. Seguimos incansavelmente o movimento do amor. Porque nos entregamos a Cristo, com Ele damos a vida ao mundo. O cristão transformado em Cristo vive ao mesmo tempo algo da felicidade no Tabor e do sofrimento do Getsémani. Não escolhe a alegria ou o sofrimento, escolhe tudo. Recebe Jesus completo, com todo o seu mistério. Como quereis que não seja feliz, sejam quais forem os meus sofrimentos? Diz o Padre Eugénio Maria. Esta alegria surpreende toda a gente, mas é normal (I 10-2-67).
Jesus não explicou o sofrimento, mas, com a sua morte, carregou com ele até à sua raiz, que é o pecado. E libertou-nos definitivamente dele. Enquanto caminha na noite, o cristão é sustentado pela claridade que lhe chega do rosto de Jesus e do mistério e do mistério da vida que brota d’Ele. Jesus, amo-te, parece-me que te amo perfeitamente. Perto da cruz descobre também a Maria, sua mãe. Sabe que o sofrimento é um mal, mas do mal, Deus faz surgir o bem: a vitória do Ressuscitado.
Chegados aqui, o caminho ilumina-se como um amanhecer. Cristo leva a sua ovelha sobre os seus ombros. O mias belo dom que se pode fazer a deus e ao mundo é dar-lhe um santo: nós mesmos. Porquê duvidar? O acto mais livre que podemos fazer a jesus é um acto de confiança. Faz que caminhe com humildade para uma união que não seja puro sentimento, mas uma união do ser, por graça. O ramo dá fruto em abundância.
No caminho,
na suavidade infinita e vivificante
da ressurreição,
Jesus, transformaste em Pão de Vida.
Assusta-nos a tua presença
gloriosa e escondida.
Que alegria para Ti
que força para nós se este Pão
chegasse a ser nosso «Pão de cada dia»;
se tivéssemos cada dia mais fome
e sede de ti;
se, por obra do Espírito Santo,
nos transformássemos em ti.
Sim, vem, Senhor Jesus.