Sex. Mar 28th, 2025

Aveirenses Ilustres

Vidal Oudinot – Empresário, poeta e pedagogo

Cardoso Ferreira (textos)

Parceria com o Correio do Vouga

Reinaldo Vidal Oudinot nasceu em Arouca, no dia 9 de março de 1869, e faleceu na cidade do Porto, a 29 de julho de 1932. Distinguiu-se como poeta, escritor, pedagogo, jornalista, desportista e empresário.

Apesar de nascido em Arouca, durante o período em que o pai aí exerceu o cargo de escrivão das Finanças, Vidal Oudinot era filho da aveirense Maria Emília Rangel de Quadros Oudinot e do vaguense Fortunato Ferreira Vidal que poderá ter sido familiar próximo do também vaguense Norberto Ferreira Vidal, pai do bispo aveirense D. João Evangelista de Lima Vidal.

Os pais eram proprietários de uma farmácia, possivelmente localizada em Sarrazola (Cacia), na qual trabalhou Vidal Oudinot após ter terminado os estudos superiores. Foi responsável pelo “Boletim Mensal da Pharmacia Vidal Oudinot”, do qual se publicaram cinco números, entre 5 de dezembro de 1895 e 5 de abril de 1896.

Vidal Oudinot tinha experiência jornalística, já que tinha sido o redator principal da revista quinzenal “O Velocipedista”, “dedicada ao Club Velocipedista do Porto”, que se começou a publicar no dia 1 de março de 1893, na cidade do Porto, considerada a primeira revista desportiva publicada em Portugal.

Posteriormente, em Aveiro, foi redator, juntamente com J. Vasconcelos, da “Os Novos” – revista quinzenal de literatura, que se publicou entre 1 de junho de 1896 e 15 de junho de 1896, da qual saíram dois números.

 

Empresário e sócio fundador da “Luzostela”

No dia 1 de fevereiro de 1906, no Cartório Notarial de Vagos, foi assinada a escritura da sociedade em nome coletivo “Brito & Companhia”, posteriormente denominada “Luzostela”, a primeira fábrica portuguesa de lixa, fundada cerca de dois anos antes, em Soza, concelho de Vagos. A escritura contou com as intervenções de “António de Brito Pereira de Resende, comerciante e industrial de Soza (Vagos), António Maria Ferreira, capitalista e proprietário, de Vagos, e Reinaldo Vidal Oudinot, farmacêutico, residente no concelho de Aveiro. Apesar de sedeada em Soza, a empresa adotou como logotipo as armas da cidade de Aveiro, o que poderá antever a ideia de futuramente se instalar em Aveiro, o que acontece em meados de 1914. (1)

Ainda de acordo com Manuel Ferreira Rodrigues, em setembro de 1912, Reinaldo Vidal Oudinot vendeu a sua participação na empresa aos referidos sócios. De realçar que, tal como Vidal Oudinot, também António Maria Ferreira era um importante republicano, tendo sido amigo de Afonso Costa.

Durante o período militar, Vidal Oudinot desempenhou o cargo de farmacêutico de terceira classe e teve o posto de alferes.

Em reunião do executivo, realizada em 23 de novembro de 2016, a Câmara Municipal de Aveiro aprovou a atribuição do topónimo Prof. Vidal Oudinot a uma rua de Cacia.

Professor, inspetor escolar e pedagogo visionário

Após o seu casamento, Vidal Oudinot radicou-se na cidade do Porto onde foi professor por vários anos. Mais tarde, foi Inspetor do Ensino Primário em diversos círculos escolares, nomeadamente em S. Pedro do Sul, Tomar, Porto e Viana do Castelo.

Pouco tempo após a proclamação da República em Portugal, Vidal Oudinot foi nomeado inspetor escolar em S. Pedro do Sul, onde tentou concretizar as suas ideias, consideradas visionárias para a época. No entanto, o facto de ser um convicto mação e republicano levantou problemas nas relações com o executivo da câmara municipal local, cujos membros eram maioritariamente monárquicos e católicos, motivo pelo que não conseguiu implementar as medidas por si preconizadas.

Em Tomar, Vidal Oudinot teve melhor sorte. Assim, em 1913, nessa cidade, pôs em prática a primeira, e provavelmente a única escola ao ar-livre que existiu em Portugal, escola essa destinada aos filhos de famílias carenciadas ou de operários.

Entre as ideias visionárias propostas por Vidal Oudinot estavam medidas como a escola ao ar-livre, o culto da natureza, as lições experimentais, o fim dos castigos corporais, a aberturas de cantinas escolares e de escolas noturnas para adultos junto a cada escola primária.

A par disso, deu grande importância ao ensino da leitura e da literatura infantil, bem como à promoção das caixas de excursões, mantidas por núcleos de alunos e de professores, dedicadas ao teatro, ao canto coral, à ginástica, com cujas récitas angariavam receitas para visitas de estudo a museus, monumentos, fábricas e localidades de interesse.

Defendia ainda a existência de vasos com plantas nas salas de aulas para os alunos cuidarem, bem como a introdução de materiais didáticos inovadores, como jogos e puzzles. No que se refere às escolas ao ar-livre, propunha que as escolas tivessem carteiras desmontáveis de modo a permitir aulas à sombra das árvores em contacto com a natureza.

Vidal Oudinot desenvolveu intensa atividade na imprensa pedagógica e no movimento associativo, tendo publicado, no ano de 1915, a sua obra pedagógica mais conhecida: “Acção (Intra e Extra Escolar): Notas de um inspetor escolar”.

(1) – Manuel Ferreira Rodrigues, in “Empresas e empresários das industrias transformadoras na sub-região da Ria de Aveiro, 1864 – 1931”.

Os vaguenses Ferreira Vidal

Fortunato Ferreira Vidal, natural de Vagos, morreu em Ovar, em fevereiro de 1878. Após ficar viúvo de D. Maria Emília Rangel de Quadros, de quem teve o filho Reinaldo Vidal Oudinot, casou com Maria Augusta de Castro Sequeira, de Estarreja.

Filho de José Ferreira Vidal e de D. Maria Ludovina, Norberto Ferreira Vidal nasceu em Vagos, em 1843, e faleceu em Aveiro, em 1886. Casou com D. Umbelina de Oliveira Vidal. Um dos seus seis filhos foi o bispo João Evangelista de Lima Vidal.

Norberto Ferreira Vidal e Luís da Silva Melo Guimarães foram fundadores da Fábrica de Louça da Fonte Nova. Norberto Ferreira Vidal também foi negociante de tecidos, sócio da moagem a vapor e um dos fundadores do Grémio Aveirense.

Escritor  e poeta

Vidal Oudinot foi um poeta com obra impressa, como o livro “Natureza”, em que as primeiras quadras, intituladas “Profissão de Fé” são dedicadas ao Prémio Nobel da Medicina, Egas Moniz. Essa obra também inclui dois poemas-canção, intitulados “Plantação da árvore” e “Barcarola”, os quais aparecem com as respetivas pautas de músicas da autoria de José Maria Cordeiro.

A vocação poética de Vidal Oudinot começou a manifestar-se ainda durante a sua juventude.

Foi autor dos livros de poesia “Melancolias”, “Silvestres”, “Musa aldeã”, “Pelos campos”, “Natureza” e “Três sóis”, bem como de diversos poemas publicados na imprensa. A sua obra poética integra-se na chamada corrente naturalista.