70 ANOS DUDH | REFLEXÕES
A Humanidade tem Alzheimer
Edgar Alves*
Sendo o Leo Clube Santa Joana Princesa um movimento jovem e alimentado por jovens, sinto que me está inerente a obrigação de refletir sobre a nossa responsabilidade no que diz respeito à manutenção da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Apesar deste documento não ter consequências legais diretas pela sua natureza, lançou as diretrizes para um mundo mais justo, com mais liberdade, sendo o alicerce de qualquer democracia atual que se afirme como tal, no entanto, nós seres humanos, pela nossa condição, tendemos sempre para tomar decisões em função daquilo que é a nossa experiência pessoal, e pelas nossas vivências, e se analisarmos isto de uma perspetiva macro, é natural que a humanidade tenha uma memória exageradamente curta. Tendo em conta esta natureza que nos é intrínseca, há certos temas em que ter memória curta pode gerar consequências nocivas nos caminhos da humanidade, um desses temas é inevitavelmente a Carta Universal dos Direitos Humanos e toda a sua envolvente.
Nós jovens, temos a responsabilidade de refletir e defender aquilo que nos permite ter e melhorar a qualidade de vida de hoje, porque se dermos o que hoje há como garantido, o rumo da história irá nos pregar partidas como pregou a muitos jovens há alguns anos atrás. Agora a reflexão que nós temos que ter, é o modus operandi da metodologia e os locais destas reflexões, porque os momentos até podem ser criados, mas a credibilidade que nós próprios lhes reconhecemos e as consequências destas reflexões são muito diferentes se forem no Palácio de São Bento, ou em qualquer outro edifício palacial que ainda cumpra as funções para o qual foi construído, ou apenas no nosso seio familiar. Basicamente a mensagem que eu gostava de passar, é que nós jovens conhecemos os nossos problemas e o que está a falhar na nossa formação, sabemos que precisamos de conhecer a nossa história e as consequências de não a discutir, e isto apenas é possível com um plot twist cultural de envergonhar Christopher Nolan, que na minha ingénua visão, ingénua devido à minha tenra idade, tem que ser através de uma reforma educativa e de uma diminuição de substancial das cataratas nas lideranças. Quem melhor que os jovens para perceber o que falta na sua juventude?
Resumindo, há certas reflexões e certos momentos na história que têm que ser incansavelmente e regularmente recordados quase ao ponto de nos chatearmos com eles, e neste momento não sinto que a minha geração os esteja a viver na sua plenitude. No entanto, a única forma de não se perder os direitos que foram conquistados por antigos jovens, é envolver os jovens de hoje na sua discussão e no seu exercício, porque o facto de eu me poder sentar numa mesa redonda com cerca 20 ou 30 jovens, sem que o país de origem, a classe social, ou a cor da pele seja um entrave à discussão, deve-se a estes momentos da história que nunca podem cair no esquecimento de ninguém, e que ninguém se engane porque humanidade sofre de Alzheimer!
*Presidente do Leo Clube Santa Joana Princesa
(Artigo que se insere no âmbito das comemorações do 70º Aniversário da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos – Plataforma “Aveiro Direitos Humanos” / Diário de Aveiro)