Sáb. Mai 24th, 2025

Questões de educação


António Franco

    1. Foram divulgadas, há poucos dias, as notas das Provas Finais do 9.º ano, cujos resultados registaram uma melhoria a Português e uma descida a Matemática, tendo havido quase 60% de alunos com “negativa” a esta disciplina.
2. Nos exames do Secundário, repetiu-se a descida a Matemática.
3. Apesar deste cenário, ou talvez por causa dele, o Presidente da República promulgou, apesar das críticas que fez, a nova legislação sobre exames que torna obrigatória a realização de apenas três provas para conclusão do Secundário, sendo a de Português obrigatória e as outras duas à escolha dos estudantes. Desta nova legislação resulta, ainda, que o exame de Matemática deixa de ser obrigatório para conclusão  dos Cursos das Áreas de Ciências e de Economia. Resta saber como irão as Universidades alterar as provas de ingresso exigidas, uma vez que, se não houver alterações, alguns alunos terão de realizar quatro e não três exames, como, por exemplo, acontece com Medicina.
4. Deveria o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa ter vetado esta legislação? Na minha opinião, sim, porque isso permitiria um debate mais alargado sobre o assunto e sobre as consequências que poderá vir a ter. Além disso, a exemplo do que se passou com a lei das 35 horas, os avisos (ou ameaças) do Presidente nada alteraram, nem este interveio como disse que iria fazer se daí resultasse um aumento das despesas previstas no Orçamento de Estado, o que veio a suceder.
5. Se à não obrigatoriedade de realização do exame de Matemática no Secundário, somarmos as alterações previstas com as novas Aprendizagens Essenciais de Matemática e delírios como as escolas terem “uma matemática para a cidadania”, “valorizarem o pensamento computacional”, bem como aplicarem a Matemática “em matérias como os salários, impostos, descontos ou promoções”, estamos conversados sobre o que aí vem a nível do Ensino Secundário. Chama-se a isto trabalhar para as estatisticas, como tem sido usual nos últimos anos, que se têm caraterizado por um facilitismo crescente, transformando os professores em meros funcionários administrativos que preenchem papéis e grelhas em quantidades crescentes como forma de justificarem a passagem de alunos que nada sabem. O Ministério, em nome das estatísticas, compromete o futuro a muitos jovens e, por arrastamento, o do país.
6. De tudo isto resulta um fosso crescente entre as escolas públicas e as privadas pois estas, apesar de tudo, conseguem evitar muito deste “pedagogês” e, por estranho que pareça, conseguem que os alunos tenham aulas, o que lhes dá uma clara vantagem na aquisição e compreensão de conhecimentos e, como tal, na realização de provas e exames.
7. A título de conclusão, resta-me acrescentar o receio de que tudo isto resulte da necessidade de termos bons resultados nas várias estatísticas europeias e não da urgência em prepararmos os alunos para enfrentarem um futuro cada vez mais desafiante.
8. Como diz o nosso povo, “Quem vier atrás que feche a porta”, o que, no caso da educação, apenas acontece alguns anos depois.

Imagem de F1 Digitals por Pixabay