Sex. Mar 28th, 2025

Questões de educação


António Franco

Ao fim de três anos, voltei ao ensino, ou melhor, voltei a trabalhar numa escola.
Após o Colégio onde lecionei trinta e um anos ter encerrado, na sequência dos cortes feitos nos Contratos de Associação, estive três anos afastado das escolas, mas atento ao que ia acontecendo no sistema educativo português.
Muita coisa mudou nestes últimos três anos, a começar pela forma de avaliar.
Agora sim, finalmente está no terreno o pináculo das avaliações que dá pelo nome de MAIA. Com este nome, já conhecia uma “vidente” e também uma abelha, agora um sistema de avaliação…
Não necessitamos de possuir grandes dotes de adivinhação para antecipar as consequências de todo este experimentalismo que utiliza crianças e jovens como cobaias, sem que qualquer resultado positivo seja visível em termos de aprendizagens. Há, no entanto, quem insista em confundir as altas taxas de aprovação daí resultantes, que, a meu ver, se justificam pelo facilitismo reinante em termos de avaliação e pela falta de rigor na marcação e justificação de faltas, com progressos notáveis em termos educativos.
O Ministério da Educação teima em continuar a ser uma espécie de laboratório social onde, à semelhança do Metro de Lisboa, as escadas rolantes e os elevadores estão avariados. Há muito que o elevador social que a escola devia ser deixou de funcionar, com os responsáveis ministeriais a falar de taxas de abandono e de retenção reduzidas, que existem, não porque os alunos sejam mais assíduos e estudiosos, mas porque o sistema está montado para que a passagem seja quase administrativa.
Embora deseje estar enganado, acredito que os próximos testes de Pisa e do TIMSS aí estarão para o demonstrar. A pandemia irá servir de desculpa para os fracos resultados que se adivinham, esquecendo-se que esta também atingiu os restantes países e que os últimos testes realizados já indiciavam essa descida, tendo a culpa sido, rapidamente, atirada para o anterior Ministro da Educação, Nuno Crato. Isto apesar de, por exemplo, as provas do TIMSS terem sido realizadas por alunos do 4.º ano que entraram para o 1.º ano já no tempo de Tiago Brandão Rodrigues, tendo feito todo o 1.º Ciclo durante o seu mandato.
Aliás, recentemente, o Público noticiou que o número de alunos que terminaram o Secundário sem nunca terem reprovado bateu todos os recordes, esquecendo-se de referir que o fim dos exames obrigatórios a quatro disciplinas contribuiu decisivamente para isso, bem como o novo modelo de exames. Só faltou acrescentar que as médias bateram, também, recordes, o que prova que atualmente se estuda mais e melhor do que há 40 anos, período onde se contavam pelos dedos de uma mão os alunos com médias superiores a catorze em cada turma. E isto numa altura em que apenas uma “elite” frequentava o Secundário.
O Ministro da Educação veio também contentar-se com os resultados das Provas de Aferição de 2022, acrescentando que tinha havido um trambolhão nos resultados ao nível da Leitura, entre os alunos do 2.º ano, mas que nas restantes áreas os “resultados são animadores”. Deixou, ainda, escapar que “Embora haja melhorias de resultados, as taxas de acerto dos alunos são ainda muito baixas”. Traduzindo: um aluno que tenha passado a acertar 20% das respostas depois de, no teste anterior, ter acertado apenas 10%, revela um progressão de 100%.. Mas qual terá sido a verdadeira progressão. se os resultados foram apenas animadores? E qual o termo de comparação? E que diferenças existem entre escolas situadas em diferentes zonas de uma mesma cidade? E que conclusões se podem tirar se relacionarmos os resultados com o facto de a escola frequentada estar dependente da morada dos pais do discente? E entre ensino particular e estatal? E entre escolas estatais?
Vivemos num mundo de espelhos e de ilusão. Independentemente dos discursos, o fosso entre as boas escolas (incluindo muitas estatais) e as restantes vai-se aprofundando e o elevador social, para a maioria, deixou de funcionar, comprometendo, de forma trágica, o futuro de muitos jovens.
À semelhança do Metro de Lisboa, apenas se fará alguma coisa, quando alguém constatar que o rei vai nu. Até lá, contentar-nos-emos com estatísticas para estrangeiro ver.
Como diz o povo: “Quem vive no convento é que sabe o que lá vai dentro”, o que, de certeza, não é o caso de João Costa.


Imagem de Peter H por Pixabay