Sex. Mar 29th, 2024

Pe. Georgino Rocha 

Hora decisiva, a que Jesus vive no encontro com Pilatos, ocorrido no palácio do governador romano. Está em causa a confirmação da sentença de morte, já pronunciada pelas autoridades político-religiosas judaicas. Hora em que se condensa a urgência humana de saber quem é Jesus e o permanente desejo de Deus de dar a conhecer quem Ele é. A pergunta de Pilatos desvenda esta corrente profunda da humanidade. A resposta de Jesus revela claramente a sua identidade expressa na missão da realeza ao serviço da verdade. Dois homens frente a frente: o acusado de querer ser rei mostra uma autoridade moral que deixa o seu interlocutor perplexo e sem alegações. Apenas a pergunta que percorre toda a história: o que é a verdade? – Jo 18, 33b-37. É esta que humaniza a vida e dignifica as relações humanas. E quanta falta faz, sempre, mas sobretudo, hoje.

O Papa Francisco assinala com uma interpelante mensagem o Dia Mundial dos Jovens celebrado neste domingo. Tem como referência o episódio de Saulo/Paulo a caminho de Damasco e glosa a ordem que se faz ouvir: «Levanta-te e testemunha!». “Ao abraçar a vida nova que nos é dada no Batismo, recebemos também uma missão do Senhor: «Serás minha testemunha». É uma missão que pede a nossa dedicação e faz mudar a vida”.

Sábios filósofos e gente simples, escritores e analfabetos, reis e súbditos, crentes e agnósticos, deixam registos da procura que o coração humano vai fazendo, “às apalpadelas”, na esperança de ver satisfeita a fome que o impele a prosseguir sempre mais. Agostinho, o santo bispo de Hipona, dá voz a esta procura e nome a este desejo, no seu livro “Confissões”. Coração inquieto que experimenta momentos fugazes de felicidade, vive situações de amargura frustrante e busca novas oportunidades para saciar o “eterno” desejo que o anima… até em Deus se encontrar. E então exclama: “ Oh eterna verdade, verdadeira caridade e cara eternidade. Vós sois o meu Deus: por vós suspiro dia e noite”.

Servir a verdade é o núcleo da missão de Jesus, da sua realeza. Quando a verdade impregna toda a vida e suas circunstâncias, a convivência social e as suas instituições são revigoradas com uma seiva salutar donde brota a justiça e a paz; a autoridade faz-se serviço e os detentores do poder dão preferência aos empobrecidos pela ordem estabelecida; as relações humanas são entre iguais e revelam a comum dignidade de todos, deixando a claro a injustiça de qualquer descriminação e exclusão. O acesso aos bens fundamentais é aceite por todos como regra que garante, a cada um, o nível de vida digno e honesta.

A verdade a respeito de Deus faz-nos ver na fraternidade assim vivida, “o rosto” do Pai de família que trabalha dia e noite, incansavelmente, e dá alento aos esforços humanos para que proporcionem, a cada pessoa, a sua realização integral e feliz. Faz-nos ver o sentido dos passos do nosso peregrinar, rumo à casa paterna, onde uma multidão de irmãos nos espera em jubiloso convívio. Faz-nos ver a importância de cada momento, ponto de encontro do tempo com a eternidade.

A verdade brilha no agir de Jesus. Ele é a verdade. Mais do que palavras, apresenta o exemplo da vida em atitudes que nos comunicam a sua realeza e desvendam o seu reino. É o caminho, também. O contraste é flagrante. Os pilatos de todos os tempos lavram a sua própria sentença. Jesus, o condenado vitorioso, garante a definitividade da realeza que dá testemunho da verdade. Não se confunde com este mundo pois é de outra ordem, mas infunde-lhe um novo espírito divino que o renova radicalmente e lhe abre horizontes de infinito. Acolhe-o e verás.

«Se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar que lhe deem muitas lições ou longas instruções. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus», garante o Papa Francisco na Exortação «A Alegria do Evangelho», 120.


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