Sáb. Mar 22nd, 2025

Oratório Peregrino

Um oratório à maneira de um viático para tempos de carestia
Uma proposta desenvolvida em parceria com

Irmãs do Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro


LIV Passo | SÃO JOSÉ E O EVANGELHO DO TRABALHO

 

O Papa Leão XIII  com a Encíclica Quamquam Pluries (1889) exprime um sentimento paterno para os trabalhadores preocupando-se com a situação deles. O ponto de referência é o mistério da encarnação, que coloca em realce a dignidade do trabalho através de São José. “Os proletários, os operários e quantos são desafortunados… devem recorrer a São José e dele tomarem o seu modelo. Ele, se bem que da estirpe real, unido em matrimónio com a mais santa e excelsa entre as mulheres, e pai putativo do Filho de Deus, passou a sua vida no trabalho… O trabalho operário, longe de ser desonra…”. Da mesma forma, a Encíclica Rerum Novarum (1891), também de Leão XIII, afirma que Jesus “Embora sendo filho de Deus e Deus ele próprio, quis ser visto e considerado Filho do carpinteiro, e não negou que uma grande parte da sua vida transcorreu no trabalho manual”.

A  Exortação Apostólica Redemptoris Custos (nº 22) evidencia claramente a missão de São José quando afirma que “Graças ao seu banco de trabalho, junto do qual exercitava o próprio ofício juntamente com Jesus, José aproximou o trabalho humano ao mistério da redenção”.

A Encíclica Laborem Exercens de João Paulo II, focaliza que o testemunho da pregação apostólica expresso nos evangelhos, realça o fato de que Aquele que sendo Deus, tornou-se semelhante a nós em tudo (Hb 2,17), menos no pecado, dedicou a maior parte dos anos da sua vida sobre a terra ao trabalho manual, junto a um banco de carpinteiro (nº 6). Neste sentido  “São José tem uma grande importância para Jesus, se verdadeiramente o Filho de Deus feito homem o escolheu para se revestir a si mesmo da sua aparente filiação… Jesus o Cristo, quis assumir a sua qualificação humana e  social deste operário  (Paulo VI – Alocução 19/3/1964). Jesus “não se serviu das realidades humanas apenas para se manifestar, mas uniu-se a elas para santificá-las com sua humanidade” (S Th, III q.8,a.1). Porque o trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência humana, Jesus escolheu esta dimensão para qualificar o seu estado social.

José, pelo fato de ser unido em matrimônio com Maria, e pela transmissão do título de Filho de Davi a Jesus, deu além do título davídico, indispensável para o reconhecimento de Jesus como Messias, também aquela dimensão humana que o caracteriza, ou seja, “O estado civil, a categoria social, a condição económica, a experiência profissional, o ambiente familiar e a educação humana”. Portanto, Cristo quis assumir a sua qualificação humana e social de José, o carpinteiro de Nazaré.

Ao escolher ser considerado Filho de José (Lc 3,23), Jesus herdou, como afirmamos, o título de  Filho de Davi, mas contemporaneamente assumiu também o título de “Filho do Carpinteiro”(Mt 13,55), e na carpintaria de Nazaré trabalhou com mãos de homem (GS 22), santificando o trabalho.

Jesus trabalhou com José na carpintaria, o que fez com que nenhuma outra pessoa, depois de Maria, estivesse tão próxima das mãos, da mente, da vontade e do coração de Jesus quanto José; por isso, Pio XII afirma que ele foi o Santo no qual penetrou grandemente o espírito do Evangelho.

Não é ele o filho do carpinteiro? Esta interrogação que os habitantes de Nazaré fazem acerca de Jesus chama muito a atenção. José de Nazaré não era um “Zé Ninguém”… Mas era “O carpinteiro”. Como sabemos, um carpinteiro,  numa cidade pequena como Nazaré, naqueles tempos tinha diversas funções e não trabalhava somente com  madeira, mas  também com ferro (era ferreiro), preparava alicerces de casas, planejava e fazia valas para os mais diversos fins; quem sabe era até pedreiro… Era o Homem do Trabalho.

            E o trabalho dignifica o homem, como sempre nos disse a Palavra de Deus e como sempre diz a Igreja. Ser trabalhador é cooperar na criação, é continuar a criação e  tornar a felicidade presente no nosso mundo. No trabalho deveríamos exercer toda a nossa liberdade de filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança e empenharmo-nos na transformação do mundo.

            O valor do  trabalho não está simplesmente nele mesmo. Na verdade, podemos dizer que o trabalho é um “termômetro do homem”. Ele qualifica-o como alguém que constrói a liberdade e a paz ou alguém que não se preocupa por estes valores.

Voltando à realidade de José, o carpinteiro, podemos dizer que Jesus realizou a redenção em três etapas: a primeira, foi a sua vida escondida, na oficina de Nazaré; a segunda, na vida pública, enquanto pregava e anunciava o Reino de Deus; e a terceira no Mistério Pascal e na sua Paixão, Morte e Ressurreição.  Interessa-nos aqui a primeira; a vida oculta, especialmente junto do pai carpinteiro que, certamente,  olhava muitas vezes para seu filho e  lembrava-se do que ouvira de Simeão – que aquele Menino iria ser  grande. Se Jesus crescia em sabedoria,  em estatura e em graça diante de Deus, e dos homens era José, juntamente com Maria, que o acompanhava. Certamente José tinha a presença  mais marcante, pois a sociedade do tempo confiava a educação do filho homem ao pai. José educou o Filho de Deus ensinando-o a ser homem. A oficina de Nazaré teve grandes momentos de trabalho e santidade e nela Jesus, ao lado de José, iniciou a salvação da humanidade.

Jesus desejou ser chamado filho do carpinteiro, operário como o seu pai. A Igreja viu  nestes acontecimentos o reconhecimento de imensos valores humanos e cristãos no trabalho. Se na criação  houve a  imposição da lei do trabalho, foi naquela carpintaria que o Filho de Deus e o mais feliz dos homens mostraram o valor desta lei. São José partilhou a vivência do  trabalho que o Redentor oferece aos homens. Os valores das coisas não estão em si próprias, mas na força e no carinho que cada pessoa coloca ao realizá-las. Portanto, imaginemos os valores que aquelas coisas que José e Jesus construíam… Imaginemos o valor do trabalho que eles faziam e do trabalho em si mesmo, que eles dignificaram.

Oração

São José,

alimentados pela Palavra de Deus,

à qual eras assíduo e fiel na escuta e prática da mesma,

faz-nos com a tua ajuda e intercessão,

capazes de escutarmos a sua Palavra

e com ela iluminarmos os nossos trabalhos de cada dia,

e as nossas relações com os companheiros de trabalho

para sermos portadores da boa nova de Jesus

em todas as nossas actividades

e assim colaborarmos com Deus na criação do mundo.

Ajuda-nos, S. José,

Que a grandeza do nosso trabalho

não está no que fazemos,

mas no amor com que o fazemos.

Amen.


Imagem de S. José Operário, recolhida de Vatican News