Qui. Jun 19th, 2025

Oratório Peregrino

Um oratório à maneira de um viático para tempos de carestia
Uma proposta desenvolvida em parceria com

Irmãs do Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro


X Passo | Um caminho por etapas

 

 

ORAR requer aprendizagem.

É a história de uma amizade que vai desde o tímido balbuciar de quem tenta entabular um diálogo, até ao silêncio dos enamorados que já não necessitam de palavras.

A partir do momento em que haja amor, pode haver tanta beleza tanto num com noutro. Acompanhemos Teresa, passo a passo, observando-a na descrição das diferentes modulações que a nossa linguagem orante adopta.

HÁ UMA ORAÇÃO

QUE CHAMAMOS “VOCAL”

Para a Santa, esta oração que fazemos com palavras exteriores é o primeiro grau do caminho que, apesar da sua aparente simplicidade, pode e deve desembocar num diálogo com Deus, de intensidade contemplativa.

É verdade que ela nunca foi amiga de verborreias oracionais. É verdade igualmente que foi inimicíssima daquelas orações intermináveis do seu tempo. Também não lhe agradavam as devoções complicadas: “De devoções tontas, livre-nos Deus!” (V 13, 16).

Dentro deste tipo de oração preferiu os salmos (embora não entendesse muitos deles); o Pai-Nosso, que comentou como compêndio e síntese da oração cristã; a Avé-Maria, que pensou comentar depois daquele. E as orações litúrgicas. Desejava que nos seus conventos se recitassem as partes variáveis da Missa juntamente com o sacerdote. E ela mesma fazia isto, com grande proveito, servindo-se de um “missalzito”.

Sentia, enfim, um gosto particular em repetir as últimas palavras do “Glória” dirigidas a Cristo: “Só Vós sois o santo, só Vós sois o Senhor, só Vós o altíssimo Jesus Cristo…”

Apenas um perigo advertia neste tipo de oração: que faltasse a soledade, o devido recolhimento interior. Porque – dizia – não se pode falar ao mesmo tempo com Deus e com o mundo. É necessário, insistia ela, saber com Quem falamos e o que pedimos.

E HÁ OUTRA ORAÇÃO QUE CHAMAMOS

“MEDITAÇÃO” OU “ORAÇÃO MENTAL”

Consiste esta em pensar e entender o que dizemos, e a Quem o dizemos e quem somos nós que ousamos falar com tão grande Senhor (C 25, 3).

Para fazê-la, propõe um método bem simples e alheio a toda a técnica (C 26): um acto interior de conhecimento próprio e de arrependimento. Descobrir com fé a presença de Deus em nós e colocarmo-nos diante d’Ele.

Encetar um diálogo interior com o Mestre: olhando-O dentro de nós e seguindo os mistérios da sua vida que mais sintonizem em cada momento com o nosso particular estado de ânimo.

Os temas preferidos de Teresa foram: o conhecimento da sua própria vida, a vida de Cristo e a visão da natureza: “Aproveitava-me também a mim, ver o campo, a água ou flores. Nestas coisas encontrava eu memória do Criador; digo que me despertavam e recolhiam e serviam de livro” (V 9, 5).

E por fim, para vencer as distracções e outras dificuldades semelhantes recomenda: a leitura atenta, tranquila, do Evangelho ou de outro livro espiritual. Olhar uma imagem do Salvador e falar-Lhe directamente.

E diz finalmente ela também que habituar-se a escutar, na leitura e no silêncio, a voz interior do Mestre, com a prática, contribui para diminuir o cansaço.

«Não sabeis que sois templo de Deus e

que o Espírito de Deus habita em vós?»

Dizíamos que o amor eterno com que Deus nos ama nos faz nascer de novo e nos faz semelhantes ao próprio Deus, participantes da sua divindade. Dizíamos ainda que este amor se manifestou na pessoa do Ressuscitado à Madalena transformando o seu amor humano em divino. Vamos agora ver mais de perto este Amor.

Este amor é Cristo Jesus e nós tocamos este amor quando o vemos pessoa como nós, pessoa com coração, com sentimentos, Pessoa que se baixa e tem compaixão com os enfermos; predilecção pelos pobres; misericórdia com os pecadores, ternura para com as crianças; a fortaleza na denúncia da hipocrisia, da do orgulho e da violência; mansidão diante dos opositores; o zelo pela gloria do Pai e o jubilo pelos seus misteriosos e providentes desígnios de graça.

Pessoa que sofre a tristeza da traição do amigo, o abatimento da solidão, a angústia da morte, o abandono filial e obediente nas mãos do Pai. Em Cristo Jesus vemos a fonte do amor, o seu Coração, onde sem cessar jorra um amor infinito para com o Pai e um amor eterno para com cada um de nós.

Este Coração humano está unido à Pessoa do Verbo Eterno. Jesus é o Verbo Eterno feito Pessoa. É uma Pessoa que em si reúne duas naturezas, a divina e a humana. Jesus é ao mesmo tempo perfeito na sua divindade e perfeito na sua humanidade; igual ao Pai em tudo o que se refere à natureza divina e igual a nós, em tudo o que se refere à natureza humana; verdadeiro filho de Deus e verdadeiro Filho do homem. Por causa da união de Jesus à Pessoa do Verbo de Deus podemos dizer: em Jesus, Deus ama ao modo humano. E vice-versa, o sofrimento humano e a glória humana adquirem intensidade e força divinas.

Este Coração é semelhante a muitos outros, coração de uma pessoa, e ao mesmo tempo único, porque é o coração do Filho de Deus. Cada pessoa habita de algum modo no seu coração e no Coração do Homem de Nazaré habita Deus. Ele é «templo de Deus», por ser Coração do homem Jesus Cristo.

Deus filho está unido com o Pai como Verbo Eterno, «Deus de Deus, Luz da luz… gerado não criado». O filho está unido com o Pai no Espírito Santo, que é o “sopro” do Pai e do Filho e é na Trindade a Pessoa-Amor. O Coração do Homem Jesus Cristo é no sentido trinitário, “templo de Deus”. É o templo interior do Filho que está unido ao Pai no Espírito Santo mediante a unidade da Divindade. É um mistério grande o deste Coração, que é “templo de Deus” e “morada do Altíssimo”.

Ao mesmo tempo que é templo de Deus é também “morada de Deus entre os homens”, o Coração de Jesus no seu templo interior abraça todos os homens. Neste templo todos se encontram abraçados pelo amor eterno, todos escutam a promessa de Jesus à sua vida: «Amei-te com amor eterno. Por isso me és tão querido.»

Que esta força do amor eterno que está no Coração divino penetre o nosso coração e sintamos habitar em nós o Espírito de Amor. Que os nossos corações se tornem “templos santos de Deus” e “moradas do Altíssimo” no meio dos homens. «6Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?  Pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós.» (1Cor 3,16)

 

Oração:

«Podemos viver em comunhão perpétua com o Amor,

Unindo-nos à Sua vontade.

Que não encontre resistência na nossa alma.

Que nela reine sempre o ambiente da fé.

Neste ar puro não se perde essa voz de Deus

Que deve imperar na nossa alma.

Que ela seja como uma participação d’Ele.

Deus, em Si, faz sempre o que quer;

Que nós perdidos como nadas na sua imensidade,

Façamos também o que Ele quer.

Como seremos mais semelhantes a Ele,

Senão fazendo a sua divina vontade?

Ao agir em conformidade com Deus, somos outro Deus;

Numa palavra, somos Ele.»

Carmelo de Cristo Redentor

 

Imagem de Free-Photos por Pixabay