Qui. Mar 28th, 2024

Notícia e foto recolhidas do Correio do Vouga

Deixou uma grande obra poética e foi o maior tradutor português da poesia espanhola. Está sepultado no cemitério de Pardilhó.

Poeta e tradutor, José Bento de Almeida e Silva Nascimento nasceu em Pardilhó, em 17 de Novembro de 1932. O seu percurso literário divide-se pela poesia e sobretudo pela tradução de literatura em língua espanhola, da qual foi grande divulgador em Portugal. Aliás, segundo o poeta e tradutor espanhol Francisco Brines, a obra que José Bento realizou é «a mais completa de tradução do espanhol para qualquer língua». Profissionalmente foi alguns anos professor do Ensino Secundário e trabalhou para várias empresas, na sua área de formação, contabilidade, da qual publicou igualmente diversos livros. Morreu aos 86 anos de idade no dia 26 de Outubro de 2019, Sábado, no Hospital Amadora-Sintra, onde se encontrava internado. A notícia foi divulgada pelos principais órgãos de comunicação portugueses, tendo merecido uma mensagem de pesar do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

De temperamento particularmente discreto, nunca procurou e por isso não conheceu notoriedade junto do grande público. Dele disse José Saramago que era «um homem discreto, tímido», avesso a aparições públicas. Contudo, foi um dos grandes nomes das letras portuguesas, reconhecido pelas maiores autoridades na matéria, que lhe atribuíram vários dos principais prémios literários, tanto em Portugal como em Espanha, sendo inclusive distinguido pelo Presidente da República Portuguesa e pelo Rei de Espanha. Recebeu, entre outros, o Prémio de Tradução do Pen Clube Português (1985 e 2005; também o de Poesia em 1992), o Grande Prémio Internacional de Tradução Literária, da Associação Portuguesa de Tradutores (1986, 2005), a Medalha de Ouro de Mérito das Belas Artes (1991, concedida pelo Rei de Espanha), a Ordem do Infante D. Henrique (1992, agraciado pelo Presidente da República Mário Soares), o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus (1992), o Prémio de Tradução Paulo Quintela, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2002), o Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura (2006 – 1.ª edição), o Prémio Luís Miguel Nava (2013) e o Prémio Cervantes, atribuído pelo governo espanhol, reconhecendo a sua actividade como tradutor. O Prémio Hispano-Luso de Tradução, da Junta da Extremadura e da Associação de Escritores Extremenhos (Espanha), recebeu em 2006 o nome de José Bento, em sua homenagem.

A sua obra de poesia encontra-se dispersa por revistas de poesia, desde a década de 1950, e em vários livros, entre os quais se destacam o “Silabário” (1992, reunindo a sua obra poética), “Um sossegado silêncio” (2002), “Alguns Motetos” (2003, organizado e prefaciado pelo agora Cardeal José Tolentino de Mendonça) e “Sítios” (2011). Principalmente conhecido como tradutor de inúmeras obras literárias da língua espanhola, incluindo-se três grandes “Antologias de Poesia Espanhola” (1985, 1993/1996, 2001) e “O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha” (2005).

Embora residisse na área da Grande Lisboa, nunca esqueceu a terra natal, Pardilhó. Nasceu em 1932 na casa dos avós paternos, situada na Rua Maurício de Almeida, próxima da loja da Feliz. Muito jovem começou a mostrar talento literário, com os primeiros artigos publicados no jornal local “O Concelho de Estarreja” e escrevendo uma marcante peça de teatro de revista, de costumes regionais, intitulada “Padas de Pardilhó” (1950). Embora esta peça de teatro fosse um interessante retrato de época da freguesia, José Bento renegava-a como escrito imaturo da juventude e sublinhava ter sido escrita em co-autoria. No fim da vida afirmou várias vezes o desejo de vir a ser sepultado em Pardilhó, junto dos seus familiares, como veio a suceder.

Marco Pereira