No 25.º aniversário da morte de Júlia d’Almendra (1904-92) (4)
A sua formação em Paris
Por Domingos Peixoto
Abandonada definitivamente a carreira de violinista, Júlia d’Almendra passa a dedicar-se em exclusividade ao estudo e promoção do canto gregoriano e da música sacra em geral. Após alguns anos de leccionação no Instituto de Serviço Social (entre 1943 e 1946), partiu para Paris neste último ano, como bolseira do Governo Francês, para estudar no Instituto Gregoriano de Paris[1] e na Sorbonne; conclui a licenciatura em 1948, obtendo o título de Mestre de Capela por aquele Instituto. A sua tese Les Modes Grégoriens dans l’oeuvre de Claude Debussy, publicada em 1950, foi apontada como um estudo pioneiro e de referência pelo eminente musicólogo francês Jacques Chailley (1910-99). Também a crítica internacional foi unânime em considerá-la uma importante contribuição para um conhecimento mais profundo do compositor francês[2].
Durante dois anos, Júlia d’Almendra estudou Paleografia Musical na Sorbonne com Jacques Chailley, Director do Instituto de Musicologia desta universidade e futuro Presidente da Confederação Internacional de Música Sacra. Concluiu ainda na capital francesa o curso especial do Método Ward, orientado pelo Professor Jos Lennards, Director do Instituto Ward e inspector oficial das escolas na Holanda, que nessa altura regia o curso em Paris. A estadia em França proporcionara a Júlia d’Almendra a oportunidade de participar nos grandes concertos do Palácio de Chaillot, na Catedral de Notre-Dame e noutras igrejas da capital francesa. Fora seu professor de Órgão uma prestigiada figura, não só no meio musical, mas também no meio literário – Édouard Souberbielle (1899-1986) que, além de um dos maiores organistas do seu tempo, era grande estudioso da música e da língua portuguesa, que dominava a ponto de traduzir para francês os sonetos de Camões e parte da obra de Florbela Espanca. Dedicou um extenso artigo ao órgão da Capela da Universidade de Coimbra: Visite à l’Orgue de la Chapelle Royalle de l’Université de Coimbra, editado em Paris pelo Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1969.
[1] Fundado em 1923 e dirigido, desde 1933, por Auguste Le Guennant, que marcaria uma presença assídua nas Semanas Gregorianas de Fátima (CG n.º 6, p.21).
[2] I. Giga, op. Cit., pp.29-33.
(Foto: http://centroward.wixsite.com/centrowardlisboa/j)