Artigo e imagem recolhidos do SNPC
A narrativa da ressurreição de Lázaro (João 11,1-45) é a página onde Jesus surge mais humano. Vemo-lo estremecer, chorar, comover-se, gritar. Quando ama, o ser humano realiza gestos divinos; quando ama, Deus fá-lo com gestos muito humanos.
Uma força percorre todas as palavras da narrativa: não é a vida que vence a morte, A morte, na realidade, vence e engole a vida. Porém, aquilo que vence a morte é o amor. Todos os presentes naquele dia em Betânia deram-se conta disso: olhai como o amava, dizem, admirados. E as irmãs cunham um nome belíssimo para Lázaro: Aquele-que-Tu-amas.
O motivo da ressurreição de Lázaro é o amor de Jesus, um amor até às lágrimas, até ao grito altivo: vem para fora! As lágrimas de quem ama são a mais poderosa lente de ampliação da vida: vê através de uma lágrima, e compreende coisas que nunca poderás aprender nos livros.
A rebelião de Jesus contra a morte passa por três níveis: 1. Removei a pedra. Fazei rolar os penedos que estão à entrada do coração, os escombros sob as quais vos sepultastes com as vossas próprias mãos; afastai os sentimentos de culpa, a incapacidade de vos perdoardes a vós mesmos e aos outros; afastai a memória amarga do mal recebido, que vos crava às vossas prisões interiores.
“Ressurreição de Lázaro” | Sebastiano del Piombo | 1517
3. Libertem-no e deixem-no ir. Desatai os mortos da sua morte: libertai-vos todos da ideia de que a morte é o fim de uma pessoa. Libertem-no, como se libertam as velas ao vento, como se desatam os nós de quem está dobrado sobre si mesmo, os nós do medo, os emaranhamentos do coração. Libertem-no de máscaras e medos. E depois: deixem-no ir, deem-lhe uma estrada, e amigos com quem caminhar, algumas lágrimas, e uma estrela polar.
Que sentido de futuro e de liberdade emana deste Rabi que sabe amar, chorar e gritar; que liberta e coloca caminhos no coração. E compreendo que Lázaro sou eu. Eu sou Aquele-que-Tu-amas, que nunca aceitarei ver acabar no nada da morte.
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: “Ressurreição de Lázaro” (det.) | Sebastiano del Piombo | 1517