‘Um olhar sobre o ecumenismo’ é uma parceria com o jornal diocesano Correio do Vouga
Alberto Teixeira
(Missão Ortodoxa da Protecção da Mãe de Deus em Santiago, Aveiro. Capela de Nª Srª da Ajuda no Campus da Universidade)
Nas igrejas ortodoxas existe uma relação complexa com o ecumenismo
CV: Os cristãos ortodoxos dão alguma importância ao ecumenismo?
Alberto: Para perceber a resposta que vou dar, convém esclarecer que as Igrejas Ortodoxas não têm um governo único e comum, como acontece com a Igreja Católica Romana.
As Igrejas Ortodoxas são de carácter regional ou local, podendo estar em comunhão através de um Patriarcado, ou entre si e, ou serem autocéfalas.
Essa característica “regional”, faz com que exista uma relação complexa com o ecumenismo.
O preceito da jurisdição canónica é frequentemente projectado para as comunidades na diáspora, nos países onde as identidades linguísticas e culturais aprofundam as diferenças litúrgicas e teológicas.
Enquanto algumas comunidades participam de iniciativas ecuménicas, procurando o diálogo fraterno, há outras que vêem o ecumenismo com cepticismo, considerando-o incompatível com a preservação da teologia e tradições ortodoxas.
Esta diferença existe entre Igrejas Ortodoxas e destas com outras Igrejas Cristãs de quem guardam memórias negativas.
Actualmente existem desafios em relação ao ecumenismo. O cisma interno na Ortodoxia, debate-se com divergências de autoridade, desconfiança e resistência, questões teológicas não resolvidas e a adaptação a um mundo em mudança. O maior dos desafios é a manutenção do equilíbrio das Igrejas Locais com a necessidade de uma unidade global da Igreja Ortodoxa e de todas as Igrejas Cristãs, não baseada no poder administrativo.
Para os ortodoxos a importância do ecumenismo é a de construir pontes e frentes ecuménicas, com reconhecimento mútuo e reconhecendo todos como irmãos e irmãs em Cristo.
Em relação aos cristãos de outras confissões, eles têm pouca informação sobre a ortodoxia identificando-nos como um grupo de leste, ou de mantermos tradições litúrgicas milenares, o que é insuficiente para nos reconhecerem.
CV: Casado com uma católica, como vive o ecumenismo?
Alberto: É uma oportunidade única de viver o ecumenismo no dia a dia, através da nossa união matrimonial, através da expressão concreta do diálogo entre duas tradições cristãs.
Esta unidade no amor proporciona uma oportunidade de enriquecimento mútuo e compreensão entre as duas tradições.
A pastoral familiar enriqueceu a educação da nossa filha, que é exemplo de superação de divergências e da aceitação da diversidade.
Estamos ambos envolvidos profundamente em actividades das nossas Igrejas. Frequentemente partilhamos actividades, mostrando que é possível construir uma vida em respeito mútuo e manter a diferença com amor.