Ter. Jul 8th, 2025

Os elementos penitenciais propostos na Bula do Papa Francisco para a Proclamação do Jubileu deste ano – A Esperança não engana – são a peregrinação, a Indulgência jubilar e a conversão, eixos à volta dos quais deve girar todo o ano jubilar. Peregrinar supõe que nos ponhamos a caminho em direção a Deus e aos irmãos, sendo este o gesto da nossa peregrinação da diocese de Aveiro à casa da Mãe de Jesus, em Fátima, enquanto a Indulgência nos permite descobrir como é ilimitada a misericórdia de Deus e a nossa necessidade de conversão enquanto Igreja. O perdão quando é recebido não muda o passado, mas pode permitir-nos mudar o futuro e viver de forma diferente, sem rancor, ódio e vingança.

O Evangelho de S. João coloca as Bodas de Caná no sexto dia, quando Jesus dá início aos sinais que o vão revelar como Filho de Deus. O sexto dia, que na Criação foi o dia do homem, no Evangelho de João é o “dia do Senhor”, abarcando simbolicamente toda a Sua atividade, até que chegue a sua Páscoa, simbolizada no sétimo dia, de modo que o Ressuscitado possa sair ao encontro dos seus discípulos no primeiro dia da semana (20, 1). Perante o texto proclamado não devemos perguntar “o que se passou nas bodas de Caná”, mas sim “que significado tem o primeiro sinal (milagre) que Jesus realiza por ocasião de umas bodas em Caná?”

Os elementos centrais são a Água e o Vinho. A água é depositada em seis talhas de pedra destinadas às purificações dos judeus, e que tinham ficado vazias. O número seis simboliza a imperfeição desses ritos

O vinho é sinal de amor e de alegria (Sl 104, 5); Ecl 10, 19). O Cântico dos Cânticos apresenta-o como símbolo do amor entre o esposo e a esposa, que por sua vez, simboliza o amor de Deus com o seu povo (Ct 1, 2; 7, 10; 8, 2). O vinho representa a totalidade do banquete, banquete de bodas a que tantas vezes se compara o Reino de Deus. Apenas Maria, que sendo do povo judeu já pertencia ao novo Israel, se dá conta que não têm vinho

“Ainda não chegou a minha hora”. A Sua hora é a Páscoa, e em Caná ainda não chegou a sua hora, há apenas um sinal que a antecipa. Maria, situada ainda na Antiga aliança, converte-se em símbolo do novo Israel. Atenta às necessidades dos irmãos, deseja o vinho novo do Reino e com plena confiança no seu Filho, apela a que todos escutemos a Sua Palavra: “Fazei o que Ele vos disser!”, como um eco da palavra do Pai (Mc 9, 7).

Somos peregrinos de esperança e desejamos o Reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo. Por isso, a sabedoria de Deus, de que fala o livro de Ben Sirá, está personificada em Jesus, sendo como a mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança.

A esperança cristã manifesta-se, desde o princípio da pregação de Jesus, no anúncio das bem-aventuranças. As bem-aventuranças elevam a nossa esperança para o céu, como nova terra prometida e traçam-lhe o caminho através das provações que aguardam os discípulos de Jesus. Exprime-se e alimenta-se na oração, particularmente na oração do Pai-Nosso, resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar (cf. CCE 1820).

A Mensagem de Fátima, no seguimento do pedido de Nossa Senhora aos pastorinhos para que rezassem o terço pela paz no mundo e pela conversão dos pecadores, leva-nos à contemplação do amor de Deus manifestado na Santíssima Trindade. A Ir Lúcia dirá que «continuamos a nossa oração olhando para Nossa Senhora transformada em templo vivo da Santíssima Trindade: o Espírito Santo que desceu sobre ela, o Pai que estendeu sobre ela a sua obra, e o Filho que o Altíssimo gerou no seu seio virginal Este mistério da Santíssima Trindade é a base, o princípio e o fim de toda a nossa oração, de todo o nosso ser e de toda a nossa vida» (M 39).

O pequeno Francisco compreendeu bem o mistério do amor de Deus na luz imensa que penetrava no mais íntimo da sua alma: “Nós estávamos a arder, naquela luz que é Deus, e não nos queimávamos. Como é Deus!!! Não se pode dizer! Isto sim, que a gente nunca pode dizer! Mas que pena Ele estar tão triste! Se eu O pudesse consolar!…” (M III, 145)

Hoje é o primeiro sábado desta Quaresma que iniciámos há dias e não podemos deixar de lembrar o que a Ir Lúcia narra a propósito da aparição do mês de julho: Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria como caminho para nos conduzir a Deus e meio para impedir a guerra, através da comunhão reparadora dos primeiros sábados (cf. M III, 125).

A esperança encontra, no coração da Mãe de Deus, o “sim” que ao longo da sua vida alimentou a sua condição de crente e discípula. Nós, os peregrinos de Fátima, damos testemunho de que não vivemos como aqueles que não têm esperança e que podemos dar as razões da nossa esperança, porque a Virgem Maria é o ícone do Ressuscitado que atravessou também as dores da história. Fátima, como referiu o Papa Bento XVI, em Lisboa, na sua visita a Portugal, é como “uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta”. Precisamos de transbordar de esperança (cf. Rm 15,13) para testemunhar de modo credível e atraente a fé e o amor que trazemos no coração; para que a fé seja jubilosa, a caridade entusiasta; para que cada um seja capaz de oferecer ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma

escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem o recebe (Papa Francisco, Bula 18).

Ponhamos no coração de Maria, nossa Mãe, as grandes intenções que nos trouxeram como peregrinos a este santuário: a paz no mundo, particularmente na martirizada Ucrânia, na faixa de Gaza, no Sudão do Sul, em Moçambique e em tantas zonas do nosso planeta; a vida e a missão do Papa Francisco no momento difícil que está a viver, lembrando as palavras da pequena Jacinta, quando os pastorinhos estavam presos na cadeia de Ourém – “Ó meu Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores, pelo Santo Padre e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria” (M I); a nossa Diocese e as suas intenções, particularmente as vocações sacerdotais e de consagração e o sonho que Deus tem para cada um de nós – sermos comunidades cristãs que coloquem Cristo ressuscitado no centro da sua vida, vivermos a comunhão como sinal visível dessa presença e formar discípulos missionários que saibam dar razões da sua fé.

Maria, Mãe da Esperança, rogai por nós.

Fátima, 8 de março de 2025.

+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro.

 

 

CONSAGRAÇÃO DA DIOCESE DE AVEIRO A NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

Ave, ó cheia de graça.
Estamos aqui como Igreja diocesana de Aveiro,
diante da vossa imagem, Maria, nossa Mãe,
convictos de que cada um de nós é precioso aos vossos olhos.
Deixamo-nos alcançar pelo vosso olhar maternal
e recebemos a consoladora carícia do vosso sorriso.
Guardai a nossa vida entre os vossos braços:
vivificai e alimentai a fé dos nossos sacerdotes,
diáconos e consagrados;
amparai e iluminai a esperança de tantos leigos que trabalham
por um mundo mais justo e mais humano;
suscitai e animai a caridade para com os mais pobres,
doentes, desempregados, refugiados
e todas as vítimas da injustiça da nossa sociedade;
abençoai e robustecei todo o desejo de bem
das nossas crianças, adolescentes e jovens;
amparai os velhinhos que vivem na solidão e no abandono;
iluminai os nossos jovens na descoberta da sua vocação e,
de um modo especial,
protegei o nosso seminário e os nossos seminaristas;
alimentai e fortalecei o amor das nossas famílias,
para que elas sejam escola de virtudes humanas e cristãs;
dai-nos coragem para defendermos a vida
desde o seu início até ao seu final;
guiai a todos nós no caminho da santidade.

Acolhei, ó Mãe, esta nossa súplica:
Vós, estrela-do-mar,
não nos deixeis naufragar na tempestade da guerra;
Vós, arca da nova aliança,
inspirai projetos e caminhos de reconciliação;
Vós, «terra do Céu»,
trazei de volta ao mundo a concórdia de Deus;
Apagai o ódio, acalmai a vingança, ensinai-nos o perdão;
Libertai-nos da guerra, preservai o mundo da ameaça nuclear;
Rainha do Rosário,
despertai em nós a necessidade de rezar e amar;
Rainha da família humana,
mostrai aos povos o caminho da fraternidade;
Rainha da paz,
alcançai a paz para o mundo.

Deus Criador e Deus de Amor,
Em vós vivemos, nos movemos e existimos.
Envia-nos o vosso Espírito,
Para sermos discípulos de Cristo Ressuscitado,
vivermos com alegria e responsabilidade,
sermos peregrinos de esperança neste Ano Jubilar,
em comunhão com toda a Igreja.
Protegei a nossa Diocese,
para que unidos possamos caminhar
ao encontro do vosso amado Filho,
Jesus Cristo Nosso Senhor,
Ele que é Deus e convosco vive e reina,
na unidade do Espírito Santo,
pelos séculos dos séculos.
Amen.