Papa Francisco: o seu legado | Rubrica dedicada à reflexão sobre o legado do Pontificado do Papa Francisco
Carlos Borrego
(Professor Emérito da UA, ex-Ministro do Ambiente, engenheiro, ambientalista e católico)

A partida do Papa Francisco na segunda-feira de Páscoa, 21 de abril de 2025, deixa uma profunda marca no coração da Igreja e do mundo. A sua herança permanece viva, especialmente na educação superior, onde foi incansável defensor do diálogo entre ciência e fé. Para o Papa, universidade e evangelho não eram opostos, mas espaços que se iluminam mutuamente na busca pela verdade e pelo bem comum.
Desde o início do pontificado, o Papa argentino defendeu uma educação integral, que vá além da formação técnica e promova consciências éticas, críticas e abertas à transcendência. O Papa mostrava a universidade como terreno fértil para um diálogo fecundo entre saber científico e sabedoria cristã. Como ele disse, a Igreja é de todos – de “todos, todos, todos”.
Na encíclica «LAUDATO Si’, mi Signore» (primeira encíclica ambiental da história), uniu as ciências naturais com a teologia e a ética ao propor uma “ecologia integral”, desafiando as universidades a respeitarem tanto os dados científicos como a dignidade humana. Já em «FRATELLI TUTTI», reforçou a ideia da ciência comprometida com a fraternidade e o bem comum, superando visões utilitaristas ou fragmentadas do conhecimento.
Crítico do reducionismo científico e do relativismo moral, Francisco via a ciência e a fé não como concorrentes, mas aliadas na missão de compreender e cuidar do mundo. Incentivou as universidades católicas a serem pontes entre saberes, lugares onde a investigação científica seja guiada por valores humanos profundos e onde a fé possa dialogar com liberdade, humildade e escuta.
A sua vinda a Portugal na Jornada Mundial da Juventude 2023 foi emblemática. Ao reunir milhares de jovens em Lisboa, Francisco voltou a reafirmou a importância da juventude como protagonista da cultura do encontro e da esperança. A sua proximidade com estudantes e educadores demonstrou a confiança na educação como força transformadora da sociedade.
A sua morte deixa um vazio, mas também uma missão. O testemunho do Papa desafia-nos a continuar a construir universidades que sejam católicas no sentido mais amplo da palavra: abertas a toda a realidade, comprometidas com a verdade, atentas às feridas do mundo e guiadas por um amor que une razão e espiritualidade.
O legado do Papa Francisco para o ensino universitário é uma convocação: formar não apenas profissionais competentes, mas cidadãos conscientes, abertos ao diálogo e comprometidos com a transformação do mundo. Em tempos de polarizações e incertezas, o Papa reacende o papel humanizador da educação e desafia as universidades a serem faróis de esperança e responsabilidade.
Sentiremos saudades do pastor que nos lembrou que “a realidade é mais importante que a ideia” e nos ensinou que a verdadeira sabedoria nasce do encontro: entre pessoas, entre saberes e entre ciência e fé.
Francisco em Quito, no Equador, em 2015