Aveirenses no Episcopado
Rubrica dedicada à divulgação da história de bispos nascidos no território da diocese de Aveiro, nas suas duas fases: entre 1774 e 1882 – 1.ª fase | depois de 1938 – 2.ª fase
Textos da autoria de Monsenhor João Gonçalves Gaspar, recolhidos do livro Diocese de Aveiro: subsídios para a sua história, Aveiro: Edição da Diocese de Aveiro, 2014.
Textos publicados nos dias 24 e 11 de cada mês | A diocese de Aveiro foi restaurada em 1938, com bula do Papa Pio XI, datada de 24 de agosto desse ano, e executada em 11 de dezembro.
João Gonçalves Gaspar (Monsenhor)*
D. Manuel Correia de Bastos Pina
Natural do lugar da Costeira, da freguesia da Carregosa (Oliveira de Azeméis), pertencente ao território da diocese de Aveiro nessa ocasião, D. Manuel Correia de Bastos Pina nasceu em 19 de novembro de 1830.
D. Manuel Correia de Bastos Pina, depois de cursar os primeiros estudos na sua terra natal, Carregosa (Oliveira de Azeméis), deslocou-se para Ílhavo, onde se habilitou na língua francesa e em lógica sob a orientação do padre dr. José António Pereira Bilhano; continuou os estudos em Coimbra e, em outubro de 1848, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade, concluindo a formatura em julho de 1853. Depois de se ter dedicado fugazmente à advocacia em Santa Maria da Feira, resolveu seguir a carreira eclesiástica e acompanhar o antigo comensal de Coimbra, então nomeado bispo de Bragança, D. José Manuel de Lemos. Tendo recebido a ordem de presbítero em 19 de novembro de 1854, foi chantre da sé de Bragança, vigário-geral desta diocese e professor no seu seminário. Veio com o dito prelado para Viseu e depois para Coimbra e teve em ambos os bispados a dignidade de chantre e o cargo de vigário-geral. Foi ainda vigário capitular de Viseu, por duas vezes. A partir de 01 de janeiro de 1865 exerceu o múnus de governador da diocese de Coimbra. O decreto régio de 07 de janeiro de 1870 nomeou-o bispo coadjutor com futura sucessão do prelado conimbricense; este faleceria sem Bastos Pina ter sido confirmado nessa qualidade pela Sé Apostólica. Eleito vigário capitular e, em 12 de maio, apresentado como bispo de Coimbra, apenas obteve a confirmação pontifícia do beato Pio IX em 22 de dezembro de 1871. Acabaria por falecer na sua casa da Carregosa, em 19 de novembro de 1913, após uma atividade multiforme e superior (vd. Marques Gomes, D. Manuel Corrêa de Bastos Pina – Esboço Biographico, pgs. 1-28). Já em 1870, alguém o classificara como «sacerdote de um comportamento moral sempre grave e exemplar, de uma inteligência robusta e cultivada, versadíssimo em todos os negócios da administração eclesiástica e já carregado de relevantes serviços à Igreja e ao Estado» (Marques Gomes, ob. cit., pg. 10, citando o jornal Conimbricense, 11-01-1870). Foi ele que, em carta-pastoral de 12 de junho de 1875 (A Extincção do Convento de Sá em Aveiro e os Jornaes Portuguezes Religioso-Politicos […], pgs. 147-148), ao lembrar que certos espíritos advogavam e pediam a liberdade de cultos para o nosso país, desassombradamente assinou estas linhas:
– «Sem o quererem, fariam eles com que, por meio de semelhante liberdade, passasse grande preponderância política e grande influência no governo da sociedade portuguesa para as mãos dos bispos católicos que, soltos das peias que hoje os prendem, quisessem e soubessem exercê-la e aproveitá-la; e não seria a força das autoridades civis bastante para levar os povos ao encontro do que no interesse da religião, da moral e da justiça lhes pregassem os seus bispos que, revestidos do seu caráter sacerdotal e da grande força e autoridade que lhes dá o seu poder divino, aparecessem com os seus párocos no meio deles, despidos de quaisquer ambições e interesses mundanos e cheios somente de abnegação, paciência e caridade evangélica.»
* Academia Portuguesa da História
Imagem: Wikipédia