Mensagem para a Quaresma de 2018
Viver a caridade na alegria da misericórdia
1. “Jesus viu e compadeceu-se” (Mc 6,4-44)
A caminhada quaresmal da nossa Diocese de Aveiro insere-se no objetivo geral do Plano Diocesano para este ano pastoral: Promover uma Igreja Diocesana que vive a caridade na alegria da misericórdia, consciente de que o exercício da caridade é próprio do ser da Igreja e está alicerçado no seguimento de Jesus.
O lema: «Jesus viu e compadeceu-se» resume o sentido profundo do texto bíblico da “multiplicação dos pães”, que nos ensina o que significa ser discípulo de Jesus – aprender com Ele a ver, a olhar com amor, a ensinar, a agir, tentando ajudar os outros com os meios de que dispõe.
A Quaresma exige mudança de vida, que não é um simples fazer penitência, mas uma verdadeira conversão (metanoia). Esta exige mudar de vida, de caminho, de horizonte, de mentalidade. Converter-se não consiste em vestir-se de saco e de cinza, mas sim uma atitude nova, uma mentalidade criativa. Acreditar é confiar nas “boas notícias” que chegam até nós da parte de Deus. Esta é a conversão primeira e fundamental. Sem isto não há conversão, mesmo que nos revistamos de sinais exteriores de penitência.
Quais são as dimensões da conversão a que devemos dar atenção e que devem estar presentes na caminhada quaresmal?
Conversão de mentalidade. Não há mudança possível sem que mudemos a nossa mentalidade e passemos a pensar de outra maneira. Para mudarmos a mentalidade, isto é, para começarmos a pensar de outra forma mais de acordo com o Evangelho de Jesus é necessário que todos percorramos caminhos de formação e de estudo. Mudar a mentalidade é um processo longo que se faz com estudo, meditação da Palavra de Deus e muita oração.
Ao longo deste ano pastoral, a nossa Diocese propõe uma série de temas, sob a forma de lectio divina, do Evangelho de S. Marcos. Este tempo é propício à constituição de grupos para o estudo de S. Marcos e para descobrirmos a beleza do encontro com Cristo vivo e ressuscitado: «A Palavra possui, em si mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que, uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme» (EG 22).
Conversão do coração. Não basta mudar de mentalidade, é necessário começar a apreciar a vida de outra forma, a saber escolher umas coisas em favor de outras. O anúncio de Jesus causa, pois, alegria em quem o escuta: converter-se ao reino de Deus impõe necessariamente a alegria de viver, enquanto se aguarda a sua chegada. A alegria é a forma de vida do evangelizador e a tristeza é sinal evidente do não-evangelizado. A conversão nasce não tanto do querer ser melhor, mas da certeza de que Deus, o Bem por excelência, está em nós. É a sua vinda iminente aquela que exige uma radical transformação do coração: quem não muda, não espera a Sua vinda. Acreditar no Evangelho implica não aceitar apenas que Deus esteja a caminho, mas também deixar os nossos caminhos e tomar aquele pelo qual Deus vem até nós.
Conversão a um novo estilo de vida. Um novo estilo de vida era o que encontravam nos primeiros séculos aqueles que se aproximavam de um grupo de cristãos. É aqui que devemos situar a influência da práxis caritativa das primeiras comunidades cristãs na missão evangelizadora da Igreja nascente. A conversão que selava a incorporação ao grupo dos cristãos – que tinham um só coração e uma só alma – não se fazia apenas pelo anúncio de uma mensagem, mas pelo contacto com estes discípulos que viviam de acordo com o que praticavam. Esta relação pessoal e a experiência vital das obras de amor que praticavam, foi para muitos o caminho para descobrir a verdade do Evangelho e a motivação inicial para o viver. Tal como afirmei na Carta Pastoral Dai-lhes vós mesmos de comer, «a caridade de Jesus, enraizada no amor do Pai, é, portanto, a norma, a fonte e a medida da caridade da Igreja. Vivê-la supõe uma reorientação da vida e da ação de cada um de nós, das nossas comunidades cristãs e movimentos apostólicos, de toda a nossa Igreja diocesana» (nº 6).
2. O fogo da Páscoa
Na mensagem do Papa Francisco para a Quaresma deste ano – Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos (Mt 24, 12) – propõem-se alguns meios que julgo necessários para as nossas comunidades cristãs: «Convido, sobretudo os membros da Igreja, a empreender com ardor o caminho da Quaresma, apoiados na esmola, no jejum e na oração. Se por vezes parece apagar-se em muitos corações o amor, este não se apaga no coração de Deus! Ele dá-nos sempre novas ocasiões para podermos recomeçar a amar».
Oração – As nossas comunidades cristãs têm de crescer na qualidade da oração, onde a Palavra de Deus tenha um lugar privilegiado na oração comunitária e na oração pessoal. Nenhum cristão da nossa Diocese deveria chegar á Páscoa sem ter lido e meditado – sozinho ou em grupo – o Evangelho de S. Marcos. O nosso Programa Pastoral propõe o estudo do Evangelho de S. Marcos em ordem à compreensão de que o exercício da caridade está alicerçado no seguimento de Jesus.
Para prepararmos o Congresso Eucarístico Diocesano, a realizar entre os dias 31 de maio e 3 de junho propomos o Sagrado Lausperene em todas as paróquias da Diocese a começar no dia 15 de fevereiro e a terminar a 30 de maio. Para nos ajudar a rezar foi publicado um livro de orações ao Santíssimo Sacramento e a Nossa Senhora.
Nos dias 9 e 10 de março celebramos as «24 horas para o Senhor» e o Papa convida-nos a celebrar o sacramento da Reconciliação num contexto de adoração eucarística, mantendo a Igrejas abertas o maior tempo possível.
Renúncia quaresmal – O amor sincero e o serviço alegre, ao estilo de Jesus, hão de ser o modo de presença de cada um neste mundo: despir a roupagem inútil, tornar-se escravo, pôr o avental, servir com caridade. O dom de si mesmo é o único caminho que leva à alegria. Felizes os que perfumam os caminhos com a virtude da caridade!
A nossa Renúncia quaresmal vai ser destinada ao Colégio de Nossa Senhora da Apresentação, em Calvão; para o Fundo Diocesano de Emergência Social, ligado à Caritas; e para projetos missionários na Diocese de S. Tomé e Príncipe.
As razões destas escolhas prendem-se com a necessidade de ajudarmos o Colégio de Calvão a realizar a sua missão na educação cristã dos alunos, de fortalecermos o apoio aos mais pobres que vivem no meio de nós e de apoiarmos uma paróquia missionária, com a qual queremos estabelecer parcerias de comunhão e evangelização.
Jesus conta com o nosso testemunho e compromisso evangelizador. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor.
Aveiro 7 de fevereiro de 2018.
+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro.