Hugo Cálão (Texto)
José Ferreira Thedim, 1957 (Imagem – pormenor da imagem da Virgem do Rosário de Fátima
Igreja paroquial de Ílhavo)
Maio, mês de Maria, mãe de Jesus, rainha dos anjos, estrela da manhã, refúgio dos pecadores, e a nossa mãe do céu.
Iniciamos esta rubrica dando destaque à devoção da Virgem Maria em Ílhavo, com especial enfoque na imagem da Virgem do Rosário de Fátima, que celebra em 2017 o centenário da sua aparição.
Jardim à beira-mar da Europa, não deve surpreender que fosse Portugal escolhido para ser a Terra de Santa Maria, consagrando-lhe devoção o nosso primeiro rei e os monarcas vindouros.
De entre as primeiras representações da Virgem Maria no mundo, segundo a tradição, crê-se que em Portugal se situe a mais antiga representação. Desde o fim da romanização e com o início da cristandade, ainda durante a vida da Virgem Maria, que Portugal é apontado como um lugar de aparições e devoção, muito por intercessão da viagem de evangelização do Apóstolo São Tiago pela Hispânia. Segundo a lenda, chegando às terras onde havia de formar-se a Vila de Guimarães, o apóstolo São Tiago passando por num santuário pagão dedicado à Deusa Ceres purificou-o e consagrou-o aos mistérios cristãos, erguendo nele um altar com a imagem da Virgem (Nossa Senhora da Oliveira), imagem que no século X a Condessa Mumadona Dias fez transportar para o mosteiro que edificou em sua honra.
Também pelos fins do século X o nosso território da beira-mar, entre Douro e Vouga, aparece com a designação especial de Terra de Santa Maria, e povoado de lugares de culto e ermidas dedicadas à Virgem.
De todas as lendas e tradições, a que nos refere da primeira imagem esculpida da Virgem é a da aparição de Nossa Senhora da Nazaré. Crê-se que esta imagem foi esculpida pelas mãos do próprio São José, em presença do modelo vivo, e foi pintada pelo evangelista São Lucas. Foi passada a São Jerónimo que a enviou a Santo Agostinho. Ofereceu-a este, a um mosteiro de Ermitas perto de Mérida, capital da Lusitânia. Dali a trouxe o último rei dos Godos D. Rodrigo, depois da batalha de Guadalete e depositou-a naquele alto rochedo sobranceiro ao mar da Nazaré, onde em 1182 D. Fuas Roupinho a encontrou, e lhe mandou erigir uma ermida como voto de ter escapado ao famoso acidente vulgarizado nas estampas. Inúmeros escritores apontam esta imagem da Virgem Maria como a mais antiga, e mais chegada aos Apóstolos, do mundo.
O primeiro registo escrito de festa dedicada à Virgem Maria na Lusitânia surge-nos já no ano 656 pelo testemunho do 10º concílio de Toledo, onde estiveram presentes os bispos Cesário de Lisboa, Zózimo de Évora, Potâmio de Braga, Frutuoso de Dume e Flávio do Porto.
Em Ílhavo, a devoção à Virgem crê-se antiquíssima, antes da nacionalidade. A paroquial com invocação de São Salvador e uma primitiva ermida dedicada a São Cristóvão são deste facto testemunho.
O culto à Virgem ganhou novo fulgor, com as aparições de 13 de Maio e 13 de Outubro de 1917, quando a Virgem Maria apareceu na Cova da Iria em Fátima aos três pastorinhos. Lembramos que na altura das aparições era vigário geral do patriarca de Lisboa o nosso depois bispo de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal, que acompanhou todo o processo,
A primeira capela dedicada à Virgem do Rosário de Fátima em Ílhavo foi a Capela da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, iniciada em Setembro de 1922 e dedicada e benzida a 26 de Março de 1931. Foi seguida, em 1942, pela capela da comunidade da Gafanha de Aquém, com aquisição da imagem nesse ano.
A imagem da Virgem do Rosário de Fátima da comunidade da Légua foi adquirida em Março de 1956, nas Oficinas de escultura de Fânzeres em Braga, assim como a imagem da Virgem e Fátima existente no Lar de São José, a mesma oficina executante da primeira imagem esculpida para Fátima em 1920, da autoria do escultor José Ferreira Thedim.
A Imagem da Virgem do Rosário de Fátima da Igreja paroquial de Ílhavo foi adquirida em Braga, nas Oficinas de Fânzeres em 31 de Outubro de 1957, encomendada pelo pároco da altura, D. Júlio Tavares Rebimbas, mais tarde bispo do Porto. A aquisição desta imagem, precisamente 40 anos após a sua aparição, coincidiu também com a passagem da imagem da Virgem de Fátima que peregrinou pelas paróquias da diocese de Aveiro e que festivamente chegou a Ílhavo no dia 10 de Novembro de 1957, pernoitando em cada uma das comunidades até ao dia 17.
O jornal Família Paroquial do mês de Novembro desse ano informa que já se encontrava em Ílhavo a nova imagem, modelada e esculpida em madeira de cedro brasileiro com 130cm, conforme as indicações da irmã Lúcia de Jesus, testemunha ocular da aparição. Segundo o seu testemunho de 8 de Dezembro de 1941, a Virgem encomendada para Ílhavo, a Virgem do Coração Imaculado de Maria, é a imagem mais parecida com a visão que tiveram os três pastorinhos em Fátima. A imagem foi colocada provisoriamente no altar das Almas da Igreja Paroquial, transitando mais tarde para apoio em pedra, na lateral direita da capela-mor, onde se encontra à veneração.