Modos de interação entre ciência e religião
Uma Questão de Princípio
Miguel Oliveira Panão
Há uma certa regularidade na natureza que não deixa de nos fascinar. Enquanto uns interpretam isso como fruto de um design inteligente, a ciência mostra-nos que não passa de um design natural. De acordo com Adrian Bejan,
“Para um sistema de tamanho finito persistir no tempo (viver), deve evoluir de tal modo que facilite o acesso às correntes impostas que por ele fluem.”
… e assim Bejan oferece ao mundo o Princípio Construtal.
Este princípio tem sido usado para explicar uma grande variedade de configurações na natureza, e prevê-las, por serem as que garantem melhor acesso às correntes que fluem. Podem ser correntes de água, energia, pessoas, publicações científicas, ou seja, tudo o que flui. O design emergente é também o resultado de uma natureza que distribui as suas imperfeições.
Isto nada tem a ver com o Design Inteligente. Mas antes mostra como a própria complexidade contemplada na natureza tem um princípio físico subjacente. Será que este princípio construtal pode justificar a ausência da acção de Deus, e o passo que muitos dão de deixar de acreditar nele?
É aqui que devemos reencontrar o sentido e significado de que distinção não é o mesmo que separação. É importante distinguir aquilo que se faz em ciência da visão do mundo que temos. Enquanto a ciência é um elemento fundamental dessa visão do mundo, esta não tem de se reduzir ao elemento.
O princípio construtal diz-me que o acaso não tem a última palavra, mas deve ser interpretado como mais uma palavra na narrativa do universo. Um universo que se faz a si mesmo porque assim foi criado. O design não é inteligente. Nós somos. E se em nós a natureza é capaz de pensar-se, através de nós a inteligência de Deus manifesta-se quando testemunhamos ser Sua imagem e semelhança.
É da experiência de unidade no cosmos que provém a impressão de uma presença subtil sob cada coisa, e em cada relacionamento. Uma presença não-intervencionista senão no dia em que se fez um de nós e nos amou até ao fim. É uma questão de princípio, mas não o construtal. Um princípio de amor.