Sáb. Mai 24th, 2025

Questões de educação


António Franco

Terminou o segundo período de um ano letivo que está a ser marcado pela falta de professores em algumas regiões do país e pelas greves dos docentes e de outros membros da comunidade escolar que tornaram rotineiros os dias sem, pelo menos, uma disciplina.
Se a estes meses, juntarmos os anos letivos anteriores, marcados pela pandemia e pelo fecho das escolas, facilmente podemos concluir que os prejuízos causados nas competências da maioria dos alunos são devastadores.
Claro que se um extraterrestre aqui aterrasse, como acontece com os inspectores quando chegam a uma escola, veria a escola de forma indireta, através de papéis e mais papéis. Por mais incrível que pareça, mesmo o que está informatizado, tem, nessas alturas, de ser vertido em papel, para que a escola seja escrutinada, radiografada e avaliada.
Na última semana de aulas do período, dezenas de milhares de professores estiveram a preencher grelhas e mais grelhas, a elaborar relatórios vários, muitos dos quais se sobrepõem, a preencher fichas, atas, pautas e outro tipo de papelada, todos com códigos como convém, para dar ar de coisa importante, que se vão somar a todos os documentos do género, que já tinham preenchido ao longo do período.
A pedagogia, que deveria ser o foco principal da vida de um professor, é, assim, substituída por resmas de papel, a tal pedagogia do papel.
Os alunos podem não saber nada, não terem ganho as competências essenciais, não terem tido grande parte das aulas de apoio porque os seus professores foram chamados para colmatar a ausências de outros que faltaram, mas uma resma de relatórios e de grelhas provará que tudo se fez, pelo menos no papel, para que o aluno esteja a caminho, quem sabe, de um qualquer doutoramento adaptado ou de um mestrado em medicina com aprendizagens essenciais que apenas lhe permitirá receitar Aspirinas ou Ben-u-rons.
A sorte é que tudo isso é secundário, porque o importante é perder dias a elaborar e preencher papéis que são sempre diferentes todos os anos e cada vez em maior quantidade.
Constatamos, desta forma, que aluno não é, infelizmente, o foco principal da Educação, mas sim os papéis que falam do aluno.
Quando os professores puderem dedicar parte desse tempo a pensar em como hão de lecionar as suas aulas de forma mais criativa e o foco for o trabalho com o aluno em sala de aula (ou fora dela), os resultados conhecerão melhorias significativas, se houver aulas, claro.
Até lá, os professores continuarão a afogar-se em toneladas de papel, numa realidade paralela à vida, em que o papel da pedagogia continuará a ser substituído pela pedagogia do papel.
Infelizmente, há quem goste disso, inclusive professores.

Imagem de Pexels por Pixabay