Poesia Eterna – Luz na noite escura
(Recanto de poética dedicado à obra de S. João da Cruz)
Parceria com o Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro
“Imenso Pai”*
Comunica-se Deus à alma
com tantas veras de amor,
que não há afeição de mãe
que com tanta ternura acaricie o seu filho,
nem amor de irmão
nem amizade de amigo
que se lhe compare.
Porque ainda chega a tanto a ternura
e verdade de amor
com que o imenso Pai
regala e engrandece a esta humilde
e amorosa alma,
– oh coisa maravilhosa
e digna de todo pavor e admiração! –,
que se sujeita verdadeiramente a ela
para a engrandecer,
como se ele fosse o seu servo
e ela fosse o seu senhor.
E está tão solícito em a regalar,
como se ele fosse o seu escravo
e ela fosse o seu Deus:
Tão profunda é a humildade
e a doçura de Deus!
Porque ele nesta comunicação de amor
exercita dalguma maneira aquele serviço
que diz no Evangelho (Lc 12, 37)
que fará aos seus escolhidos no céu,
a saber, que, cingindo-se, passando
de um a outro, servi-lo-á.
E assim, está aqui empregue em regalar
e acariciar a alma
como a mãe em servir e regalar ao seu filho,
criando-o aos seus próprios peitos.
No qual a alma conhece
a verdade do dito de Isaías (66, 12), que diz:
Sereis levados aos peitos de Deus
e sobre os seus joelhos sereis regalados.
Que sentirá, pois, a alma aqui,
entre tão soberanas mercês?
Como se derreterá em amor!
Como agradecerá ela,
vendo estes peitos de Deus abertos para si
com tão soberano e largo amor!
Sentindo-se posta entre tantos deleites,
entrega-se toda a si mesma a ele,
e dá-lhe também os seus peitos da sua vontade e amor.
(CB 27, 1-2) recolhido de Eulogio Pacho, As mais belas páginas de S. João da Cruz, Edições Carmelo, Avessadas p.24.
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