Qua. Abr 24th, 2024

À VOLTA DO NOVO TESTAMENTO 2

Pe. Júlio Franclim do Couto e Pacheco

Leia aqui a obra Discurso contra os gregos, de Taciano


Sobre a data e local do seu nascimento pouco se sabe além do que ele mesmo diz na sua obra «Aos Gregos»: que ele nasceu «na terra dos Assírios». O actual consenso é que ele morreu em à volta de 185 d.C., talvez na província romana da Síria.

Finalmente, ele veio para Roma, onde ele parece ter permanecido por algum tempo. Ali provavelmente ele tomou contacto com o Cristianismo pela primeira vez. De acordo com o seu próprio relato, foi principalmente a sua aversão aos cultos pagãos que o levaram a despender o seu tempo pensando nas questões religiosas. Pelo Antigo Testamento, diz ele, foi convencido da impossibilidade de resolver a questão do paganismo. Ele adoptou a religião cristã e tornou-se pupilo de S. Justino. Foi um período em que os filósofos cristãos competiam com os sofistas gregos e, como Justino, ele abriu uma escola em Roma. Não se sabe por quanto ele permaneceu ali sem ser perturbado.

Após a morte de Justino, em 165 d.C., a vida de Taciano novamente caiu na obscuridade. Ireneu diz que após a morte de Justino, ele foi expulso da escola por causa das suas visões encratitas (ascéticas) e também o acusa de ter sido discípulo do gnóstico Valentim. Eusébio acusou-o de ter fundado uma seita encratita. Parece claro que Taciano deixou Roma, talvez para morar um tempo ou na Grécia ou em Alexandria. Epifânio relata que Taciano estabeleceu uma escola na Mesopotâmia e cuja influência se estendia até Antioquia, na Síria, e era sentida até mesmo na Cilícia e especialmente na Pisídia.

O desenvolvimento inicial da igreja síria nos fornece um exemplo da atitude de Taciano na vida real. Assim pensava Afraates sobre as condições do baptismo, em que o catecúmeno jura celibato. Segundo ele, isso mostraria quão firmes a visão de Taciano estavam estabelecidas na Síria e também suporta a opinião de que ele foi o missionário dos países ao redor do Eufrates.

A sua obra «Aos Gregos» tenta provar que o paganismo não vale nada, a razoabilidade e grande antiguidade do Cristianismo. Ela não é caracteriza pela uma sequência lógica, mas é discursiva nas linhas gerais. Porém, já na época de Eusébio, Taciano era elogiado pelas suas discussões sobre a antiguidade de Moisés e da Lei judaica e foi por causa desta secção que a obra «Aos Gregos» não foi condenada de maneira geral.

A maior das suas obras foi o Diatessaron), uma «harmonia» ou síntese dos quatro Evangelhos do Novo Testamento numa narrativa combinada da vida de Jesus. Efrém da Síria referiu-se a ele como o Evangelion da Mehallete («O Evangelho dos Misturados») e ele foi praticamente o único texto evangélico utilizado na Síria durante os séculos III e IV d.C..

No século V d.C., o Diatessaron foi substituído nas igrejas siríacas que ainda o utilizavam pelos quatro evangelhos originais (Peshitta). Rábula de Edessa, bispo de Edessa, ordenou aos padres e diáconos que garantissem que todas as igrejas deveriam ter uma cópia dos evangelhos separados (Evangelion da Mepharreshe). Teodoreto, bispo de Cirro, removeu mais duzentas cópias do Diatessaron das igrejas da sua diocese.

Um número de versões do Diatessaron estão disponíveis. A mais antiga, parte da família oriental, está preservada no «Comentário» de Efrém sobre a obra de Taciano. Esta, por sua vez, foi preservada em duas versões: uma tradução arménia preservada em duas cópias e uma cópia do texto original em siríaco do final do século V / início do VI d.C., que foi editada por Louis Lelow (Paris, 1966). Outras traduções incluem versões para o arábico, persa e georgiano antigo.

Um fragmento da narrativa sobre a paixão encontrado nas ruínas de Dura Europos em 1933, que já se imaginou como sendo parte do Diatessaron, já não é mais considerada como parte dele pelos estudiosos.

O mais antigo membro da família ocidental das versões é a Codex Fuldensis (em latim), escrito à pedido do bispo Vítor de Cápua em 545 d.C.. Embora o texto seja claramente dependente da Vulgata, a ordem das passagens é peculiar à forma como Taciano as arrumou. A influência dele pode ser detectada muito antes nestes manuscritos latinos, como na tradução Vetus Latina (Latim Antigo) da Bíblia e nos escritos de Novaciano que sobreviveram.

Numa obra perdida, chamada «Sobre a Perfeição, de acordo com a Doutrina do Salvador», Taciano aponta o matrimónio como o símbolo da prisão da carne ao mundo perecível e atribuiu a «invenção» do matrimónio ao demónio. Ele distingue entre o velho e o novo homem; o antigo homem é a Lei, o novo homem, o Evangelho. Esta obra, claramente gnóstica, foi refutada na antiguidade por Clemente, no seu texto Stromata.

Outras obras perdidas incluem um texto escrito antes de «Aos Gregos» que contrasta a natureza do homem com a dos animais, e uma Problematon biblion, onde ele seria capaz de explicar as partes obscuras e escondidas da Bíblia, segundo Eusébio.