No 20.º aniversário da Morte do Pe. Arménio
Padre Arménio – Músico. A sua relação com os órgãos de Aveiro [8]
Domingos Peixoto
- A recuperação/ampliação do órgão da Igreja da Glória
Nomeado pároco de Nossa Senhora da Glória em 1967, impõe-se a mesma prioridade, o mesmo ‘dever’, como dirá a notícia do Correio do Vouga: reabilitar o órgão. E, com a colaboração dos seus amigos organeiros, o instrumento recupera a fala no Natal desse ano. Terminados os trabalhos, é o próprio Pe. Arménio quem faz a inauguração. Como vimos atrás, concluíra já em 1964 o curso geral de Piano (6.º ano) no Conservatório, o que lhe dava um considerável domínio de um instrumento de tecla:
“[…] O Natal, ali [na Sé] foi este ano mais alegre. Mais alegre, pelas renovadas alegrias que o renovado órgão da Sé este ano nos conferiu; mais alegre, porque tivemos a alegria de conhecer a alegria do Rev. Pároco da Glória, restaurador do velho órgão e que, nesta noite de Natal, lhe dedilhou o teclado com a alegria de quem julga ter cumprido um dever. Ele liminarmente explicou à multidão apinhada dos fiéis as virtualidades – quase por um século silenciadas – do velho órgão da velha igreja domínica; e relevou a actualidade litúrgica, bem definida no último Concílio, desses velhos órgãos, que exaltaram a fé já bem profunda e sentida, dos nossos antepassados. E logo após, deu exemplo das virtualidades do nosso órgão na sua maleabilidade, no seu diverso e polícromo poder interpretativo, executando pequenas – grandes composições de célebres musicógrafos, ao prévio e expressivo anúncio de Henrique Lemos, outro dos renovadores do magnífico instrumento […]”[1].
Acrescente-se que o Pe. Arménio seria chamado por Mons. Antão à cidade de Elisabeth (EUA) para arranjar o órgão de tubos da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, sendo igualmente o organista convidado para a sua inauguração em Abril de 1989[2].
A delicadeza de ‘uma palavra’
Refira-se aqui “uma palavra de louvor e gratidão”, dita ao organeiro após a recuperação do órgão da Sé, bem reveladora da delicadeza e sensibilidade do Pe. Arménio.
“Sr. Rodrigues. Os meus respeitosos cumprimentos. Peço imensa desculpa pelo meu atraso em escrever-lhe. Recebi o recibo da despesa da restauração do órgão, que muito lhe agradeço. Aproveito este momento para lhe dar uma palavra de louvor e gratidão. Louvor pela maneira competente como restaurou o órgão. Foi, na verdade, um trabalho muito sério e competente. Há dias passaram por esta Sé uns técnicos de órgãos e, pressurosos, quiseram experimentar o nosso órgão. Não lhes disse quem o tinha restaurado para que a opinião a dar fosse o mais isenta possível. Quando lhes perguntei qual a opinião, responderam-me que tinha valido a pena e que estava bem afinado. Sabem quem foram? Os Peixotos do Porto [por ocasião da recuperação do órgão da Misericórdia]. Por isso mesmo, alegro-me e louvo-os.
A segunda palavra é uma palavra de gratidão. Gratidão, porquê? Pela honestidade com que trabalharam, pelo espírito de colaboração que tiveram e pela maneira como aceitaram as minhas sugestões. Na verdade, hoje estamos tão pouco habituados a vermos o amor ao trabalho, que quando vemos homens a trabalhar com amor como se a obra fosse sua, não podemos deixar de sermos agradecidos. Mais uma vez, repito, agradeço-lhes o vosso espírito de sacrifício.
Só me resta pedir a Deus que abençoe o vosso trabalho e estou convencido de que não faltará, pois onde há competência e honestidade não há mãos a medir. Cumprimentos ao Sr. Joaquim e, de mim, um abraço amigo, Pe. Arménio”[3].
[1] Correio do Vouga, 1967.12.19.
[2] Sinfonia, p.46: Correio do Vouga, 2014.06.25, p.9.
[3] Carta de 1968.05.31 (Aveiro, Paróquia da Glória).
(Foto: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Catedral_da_Sao_Domingos_Aveiro.jpg)