No 20.º aniversário da Morte do Pe. Arménio
Padre Arménio – Músico. A sua relação com os órgãos de Aveiro [10]
Domingos Peixoto
A remodelação do órgão da Igreja da Glória (cont.)
Entretanto, o plano de remodelação do órgão sofria um grave revés, com o falecimento do Sr. José Rodrigues em 1974. A propósito, registamos aqui a palavra amiga do Pe. Arménio ao filho Joaquim Rodrigues que, após algumas hesitações, iria prosseguir a obra do pai:
“Meu bom amigo: Antes de mais, os meus sinceros pêsames pela morte de seu pai. Fiquei muito triste. Era um bom homem. Que Deus o recompense por todos os seus trabalhos. Agora também lhe quero dar os meus parabéns, por não ter desanimado e por continuar a obra de seu pai. A vida manda-nos olhar para a frente e não desanimar. Foi bom ter encontrado um sobrinho que o possa ajudar […]
Por aqui as obras vão andando. Vamos a ver se no Natal do próximo ano vamos ter a inauguração, e o órgão já a funcionar. Por hoje é tudo. Um grande abraço deste seu amigo que espera notícias suas. Pe. Arménio”[1].
Colocado no espaço actual, o órgão foi inaugurado com o templo em 11 de Abril de 1976. A propósito da recuperação de obras de arte, o Correio do Vouga refere:
“[…] Importa pôr em relevo o trabalho das mãos do Pe. Arménio, mãos que tanto são capazes de limpar uma tela, como de montar e desmontar as mil peças de um órgão do séc. XVIII, que deixou assim de ser uma simples peça de museu, para ser um elemento activo dos actos do culto […]”[2].
Por sua vez, o Litoral refere a substituição do fole e o acrescento de três meios-jogos de madeira: Bordão-aberto de 16’, Flauta doce de 8’ e Flautado de 4’, bem como a aplicação de mais um teclado e de um tutti[3].
Nomeado Reitor do Seminário no ano anterior (1975), o Pe. Arménio deixou a Paróquia da Gloria em 2 de Outubro de 1977, data da tomada de posse do novo pároco, Pe. João Gonçalves; no dia 29 desse mês foi-lhe prestada uma homenagem de despedida.
De acordo com um apontamento manuscrito de Joaquim Rodrigues, o pagamento dos trabalhos, realizados em 1976 por ele próprio e seu sobrinho José Pedro, foi efectuado pelo Pe. Arménio no ano seguinte:
“No dia 7 de Abril de 1977 vim de Aveiro e recebi a conta de mim e do Pedro com as respectivas viagens, teclados, varetas e peles incluídas […]: eu 60 dias, Pedro 57”.
Joaquim Rodrigues acrescenta que o pagamento foi feito “em casa do Sr. Pe. Arménio”, acertando dinheiro já recebido em 8 de Abril do ano de 1976. Note-se que na enumeração dos materiais fornecidos não são mencionados os tubos referentes ao aumento de registos do órgão, uma vez que eles vieram do Museu, como veremos mais abaixo.
Os projectados trabalhos não chegaram a ser terminados, uma vez que estava prevista ainda a aplicação de uma pedaleira[4]. Posteriormente, diversas cartas de Manuel Mendonça para Joaquim Rodrigues dão conta de problemas técnicos e da urgência da presença do organeiro[5].
Joaquim Rodrigues faleceu repentinamente em 1983 e, pouco tempo depois, também o seu sobrinho José Pedro, que o ajudava, e brevemente partiria para Pádua, a fim de estagiar na conceituada Casa Ruffatti, que construíra o monumental órgão da Basílica de Fátima, inaugurado em 1952.
Permanece ainda hoje a inscrição da oficina do organeiro, mas sem a indicação da data: “José Rodrigues, Gondizalves – Braga. Fabricante e afinador de harmónios, órgãos, pianos e todos os instrumentos deste género”. Joaquim Rodrigues manteve sempre a oficina com o nome do pai.
[1] Carta de 1974.12.10 (Aveiro, Paróquia da Glória).
[2] Correio do Vouga, 1976.04.23.
[3] O Litoral, 1976.04.16.
[4] J. Gaspar, A Catedral de Aveiro. História e Arte, 1979 nº 17.
[5] Cartas de 1978.11.17, 1979.01.03, 1979.10.06 e 1982.01.26 (Aveiro, Paróquia da Glória).