Seg. Dez 9th, 2024
Notícia e foto recolhidas do Correio do Vouga

O bispo iraquiano D. Bashar Warda testemunhou na Gafanha da Encarnação como a sua igreja é perseguida. E cantou o Pai-Nosso na língua de Jesus

 

No Iraque, o cristianismo está presente desde os tempos apostólicos, desde o século I, mas está agora em perigo devido às sucessivas perseguições. Hoje, são 200 mil os cristãos numa população de 44 milhões. D. Bashar Warda, arcebispo de Erbil (Iraque), fez, na igreja da Gafanha da Encarnação, um resumo da história do cristianismo no seu país. Uma igreja pujante, que enviava missionários para a China e para Índia, com a ascensão do Islamismo (séc. VII), viu-se forçada à conversão à nova religião, ao imposto especial sobre os cristãos (“jizya”) ou à morte. Depois, durante o califado, a liberdade religiosa dependia do “humor” do califa. Com o fim da monarquia (1958) e o aparecimento do partido Baath (1968), os estrangeiros tiveram de sair do país, o que fez com que saíssem jesuítas, carmelitas e outras ordens religiosas, com o consequente encerramento das suas universidades. Já na década de 1970, são nacionalizadas todas as escolas, o que faz com que a Igreja perca as cerca de 40 que detinha. Nas décadas seguintes, passa a haver três ou quatro elementos dos serviços secretos em cada paróquia, ao mesmo tempo que se reforça a islamização com programas escolares baseados no Alcorão.

No terceiro milénio, tudo piora. Em 2004, 70 igrejas ou mosteiros são atacados, cinco padres assassinados, um bispo raptado, mais de mil cristãos mortos. E em 2014, com o surgimento ao autoproclamado Estado Islâmico, dá-se um êxodo de cristãos que dura cerca de três anos.

Neste último período, o auxílio da Fundação AIS (Ajuda à Igreja que sofre) foi fundamental para garantir a muitos cristãos alimentos, alojamento e educação. Foi precisamente a Fundação AIS que promoveu a visita do bispo iraquiano ao Porto, a Aveiro e a Lisboa na semana passada. Na nossa diocese, no dia 26, a visita do prelado contou com a colaboração da Comissão dos Bens Culturais da Igreja, da Comissão Diocesana da Cultura e da paróquia da Gafanha da Encarnação, onde se deu o encontro e onde estiveram em exposição os objetos litúrgicos profanados pelo Daesh (o autoproclamado Estado Islâmico). “Estes objetos são relíquias de mártires do nosso tempo. A consciência daquilo por que passam muitos dos nossos irmãos deve desacomodar-nos”, disse Eduardo Domingues, da Comissão Diocesana dos Bens Culturais. Luís Silva, da Comissão Diocesana da Cultura, sublinhou que “o Cristianismo é a comunidade mais perseguida em todo o mundo, embora as agendas mediáticas nos façam crer o contrário”, e, citando Tertuliano, um teólogo dos primeiros séculos que dizia que “sangue de mártires, semente de cristãos”, realçou que “aplicada à realidade recente do povo do Iraque”, [tal frase] faz-nos “devedores desse povo”.

No final, D. Bashar Warda cantou o Pai-Nosso em aramaico, que foi a língua de Jesus (as Escrituras estavam em hebraico, mas o falar comum era em aramaico) e ainda é a língua de muitos cristãos iraquianos.

P. F.