Entrevista conduzida por Jorge Pires Ferreira | Correio do Vouga
O P.e Luciano Labrador, 30 anos, é, desde o último domingo, pároco de Vilarinho do Bairro, São Lourenço do Bairro e Óis do Bairro, no arciprestado de Anadia. Natural de uma região andina da Venezuela, onde vivem os seus pais e quatro irmãos, bem longe da capital Caracas, foi ordenado no dia 20 de fevereiro de 2006. Está em Portugal há apenas dois meses, mas já fala um português quase perfeito.
Como veio parar a Portugal e concretamente à Diocese de Aveiro? Não deveria estar nos seus planos…
Venho para Portugal com o desejo de servir, de realizar uma missão, dentro do nosso carisma e espiritualidade, sempre em obediência à vontade de Deus manifestada através do nosso superior. A origem da minha vinda está num pedido que o Bispo de Aveiro fez ao superior e fundador da nossa comunidade, através das irmãs Clara e Fátima, religiosas venezuelanas de pais portugueses. O meu superior recebeu o pedido, colocou-o nas mãos de Deus e fui eu o escolhido.
O P.e Luciano está ligado a uma comunidade…
Estou ligado à Família da Natividade e Epifania do Senhor – Atletas de Cristo. É uma associação internacional de fiéis, que a ela pertencem em diferentes estados de vida: solteiros, casados, padres, consagrados… Tudo começou como movimento eclesial, no ano 2000, com o nosso fundador e superior, o P.e Rafael Maria. Primeiro, era uma instituição laical. Com o decorrer do tempo e com a inspiração do Espírito Santo, é fundado o ramo sacerdotal para servir o movimento e a Igreja.
O que caracteriza os Atletas de Cristo?
A nossa associação nasce de Lucas 2,8-20 [nascimento de Jesus]. O nosso carisma é essencialmente eucarístico. Tentamos de todo o coração ser fermento na massa, servir e dar a conhecer o mistério da Eucaristia. Desejamos que a nossa vida seja um cântico de louvor à volta da Eucaristia. Somos chamados a ir como pastores e atletas de Cristo a todos os lugares, principalmente aos mais esquecidos, às periferias de que fala tanto o Papa Francisco.
Sendo uma associação recente, quantos elementos tem?
No mundo inteiro, à volta de mil. Presente da forma sacerdotal, estamos na Venezuela, na República Dominicana, Costa Tica, Coraçau, Colômbia, Itália e Portugal. De forma laical, estamos em muitos mais países.
Há alguns anos, entre os futebolistas que vinham da América Latina para Portugal, alguns diziam-se “atletas de Cristo”. Tem alguma coisa a ver com a sua associação?
Não. Trata-se de outro movimento. Nós somos “atletas de Cristo” à maneira de São Paulo. Temos que verdadeiramente correr para alcançar a coroa que não acaba com o tempo, mas que é eterna (1 Cor 9,25).
O P.e Luciano usa um colar branco e azul. O que significa?
Como Atletas de Cristo, temos alguns símbolos. O colar é um símbolo de origem marinha, porque o nosso fundador foi capelão ligado ao mar durante 25 anos, com as cores de Nossa Senhora, azul e branco, e a medalha de Nossa Senhora Milagrosa, que é a nossa padroeira. Quanto entramos para os Atletas de Cristo, recebemos um “livro de vida”, com os textos fundamentais da nossa comunidade, e um pequeno burrito…
Uma imagem?
Sim, a imagem de um pequeno burrito, que é símbolo da humildade, de simplicidade e de entrega a todos. É para termos consciência de que devemos ir carregados para levar aos outros sobretudo o pão eucarístico.
Já conhecia algo de Portugal antes de cá chegar, há dois meses?
Não conhecia nada. Mas na Venezuela tinha muito contacto e trabalho pastoral com portugueses, um trabalho pastoral muito bonito. Por todo o país, as paróquias venezuelanas têm sempre famílias portuguesas. Em qualquer povoação há portugueses. Todos católicos e muito marianos. Com Nossa Senhora de Fátima era possível fazer atividades muito bonitas.
Tem alguma ideia das comunidades paroquiais que agora começa a servir?
O nosso desejo é realizar a obra de Deus no meio deles. Pelo que me transmitiram, é uma terra de lavradores, pessoas ligadas às vinhas e às oliveiras. Eu venho de uma terra de lavradores, onde se trabalha muito. É algo similar. Estou muito contente. A expectativa é trabalhar com alegria, amor e entrega. Do que eu já vi, são povoações muito bonitas. Já conheci algumas pessoas. São humildes, simples, acolhedoras. Com o P.e Nicolau [anterior pároco], estive em casa de algumas famílias e fui muito bem recebido. No fundo, são muito parecidos com os portugueses que conheci na Venezuela.
Nesta nova missão, não está sozinho…
Pois não. Viemos como grupo missionário. Formamos uma equipa: eu, o diácono transitório “frater” Jean Carlos Vejar, a “sorer” Yovana Perez e uma família que já estava em Portugal e reside em Aveiro.
Notícia do semanário diocesano “Correio do Vouga”, edição de 8 de setembro de 2021