Sáb. Mai 24th, 2025

Homilia da Vigília Pascal

  1. Ao encontro de Jesus

As mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia, e que tinham estado muito presentes na sua paixão e morte, vão ao sepulcro no primeiro dia da semana, de madrugada, ao nascer do dia. O evangelista S. Lucas refere, no final do capítulo anterior, que as mulheres acompanharam José de Arimateia, observaram o túmulo e viram como o corpo de Jesus ali tinha sido depositado. Ao regressarem do túmulo, prepararam aromas e perfumes (Lc 23,56).

Encontram a pedra da entrada corrida, e afirma-se explicitamente que o sepulcro está vazio. Ao não encontrarem o corpo de Jesus, aparecem dois homens com vestes refulgentes que lhes anunciam: “Porque procurais o Vivente entre os mortos?

Os discípulos de Emaús vão reter esta mensagem quando falam de “uma aparição de anjos que diziam que Jesus estava vivo” (24,23) e S. Paulo irá repetir com muita frequência a expressão: “Jesus vive” (At 25,19).

S. Lucas omite as manifestações do Ressuscitado na Galileia, colocando toda a narrativa em Jerusalém, que é a meta de todo o seu Evangelho. As mulheres vão transmitir o seu testemunho aos apóstolos, mas eles não acreditam, pensando que estavam a delirar. Pedro vê o sepulcro vazio e regressa a casa muito preocupado. Viu apenas os sinais da morte, as ligaduras com que tinham envolvido o corpo de Jesus.

O sepulcro vazio é um sinal, mas não é a prova da ressurreição. Só quando o Ressuscitado se manifestar pessoalmente, nascerá nos seus discípulos a fé.

  • Somos suas testemunhas

As testemunhas da ressurreição procuraram ver a vida à luz do Ressuscitado, iniciando uma nova história e começando a colocar-se ao seu serviço. Abrem-se a um futuro novo e vivem para esse futuro, porque ficaram iluminados por essa nova experiência de vida. Jesus revelou-se perante eles e eles, por sua vez, viram-se transformados por Ele e enviados a anunciá-lo. A nova realidade que aconteceu na vida dos apóstolos e dos discípulos a quem Jesus se manifestou leva-os a tomar consciência renovada de si mesmos e da missão, percebida com tal realismo e verdade que seria impossível para eles pensar que se tratara de alguma alucinação. A verdade posterior da sua vida testemunha a experiência que estava na génese do anúncio do Ressuscitado.

As aparições do ressuscitado foram recebidas e compreendidas como revelação de Jesus e de encontro com Ele; transformação dos discípulos em homens novos, capazes de compreender o que se tinha passado anteriormente e começar um futuro novo; renascimento do povo da aliança, como povo fundado por Jesus, o Messias; o nascimento da Igreja como povo da nova aliança; início da missão, primeiro dirigida aos judeus, mas passado pouco tempo também a todos. Jesus pela sua ressurreição foi constituído Messias, Senhor e Filho.

Ele é Messias porque agora a salvação é consumada na sua própria pessoa, e não só enunciada na sua palavra, mas atualizada nas forças vivificadoras do Reino, entre as quais a sua vitória sobre a morte.

Jesus é constituído Senhor, porque a partir de agora na sua humanidade glorificada está presente a Igreja e o mundo, sendo fonte de vida na Eucaristia. Esta vida nova exerce-se como intercessão perante Deus, e a fé no Ressuscitado converte-se na vitória sobre o mundo.

É constituído Filho, porque o que era desde sempre, agora, na sua expressão humana, a humanidade chega à sua plenitude no ato supremo de liberdade ao vencer a morte e, por isso, podemos afirmar que a ressurreição é o final e a consumação da encarnação. “Deus deu-nos a vida por Cristo, nos ressuscitou e nos sentou nos altos céus, em Cristo” (Ef 2,6). Deus já realizou tudo para nós em Cristo e a sua eficácia depende do que nós quisermos realizar unindo-nos a Ele. O Batismo e a Eucaristia são as formas fundamentais de união com Cristo vivo e ressuscitado, porque a sua vida é a nossa vida. Estamos salvos porque este homem, que é um de nós, foi salvo por Deus, e nele Deus tornou presente no mundo a salvação.

Alegremo-nos e rejubilemos porque Cristo ressuscitou e uma vida nova nos foi dada gratuitamente.

Boas festas a todos, na alegria de Cristo vivo e ressuscitado.

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Catedral de Aveiro, 19 de abril de 2025

 António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo