Baú de alfarrabista | Rubrica dedicada à descoberta de livros antigos de autores cristãos
O teólogo João Evangelista de Lima Vidal
Jorge Pires Ferreira
Aveiro recorda D. João Evangelista de Lima Vidal como um grande bispo, o bispo que restaurou a Diocese de Aveiro e, antes disso, passou por outras regiões e dioceses, como Angola-Congo e Vila Real. Mas ele foi também um grande escritor e teólogo, com várias obras de carácter teológico publicadas enquanto era professor no Seminário de Coimbra, na primeira década do século XX. Ensinando “filosofia liceal” (antes do curso de Teologia) e Teologia Dogmática, teve alunos como P.e Luís Lopes de Melo, capelão militar da Flandres e pároco da Sé Velha, Tomás da Fonseca, que viria a tornar-se um acérrimo crítico de Fátima, e o aveirense Alberto Souto, que mais tarde diria, “com elegância” e humor: “Devo ao Sr. D. João a graça de não ser Padre” (cf. páginas 164-167 do primeiro volume de “Lima Vidal no seu tempo”, de João Gonçalves Gaspar, que adianta que o Dr. Lima Vidal convenceu os pais de Alberto Souto a consentir que o jovem prosseguisse os estudos na Universidade de Coimbra).
Dessa época, publicado pelo Editor França Amado, é este “Theologia para todos”, que se apresenta como primeiro volume. Na realidade, publicado em 1908, é o primeiro e único. Na última página, temos uma lista das obras, várias delas opúsculos, que até então publicara o cónego Lima Vidal.
“Theologia para todos”, com cerca de 400 páginas, divide-se em duas grandes partes: “I – As bases da religião”, que aborda “A existência de Deus”, as “Communicações de Deus com o homem” e “As justiças de Deus”, que são “O céo” e “O purgatório”; “II – A história de Jesus-Christo”, do nascimento à ressurreição. A obra, diz o autor nas últimas páginas, começou a ser escrita no dia 6 de novembro de 1906 e foi concluída no dia 29 de janeiro de 1908.
Valeria a pena ler todo o livro – o que se releva muito agradável, dada a arte literária de D. João Evangelista – para estudar as conceções teológicas do bispo restaurador da Diocese de Aveiro, mas ficar pelas primeiras páginas já nos dá uma ideia da grandeza cultural e teológica de Lima Vidal. Para falar da existência de Deus, dedica as primeiras páginas vinte páginas a quatro vultos do pensamento humano. Citamos o primeiro parágrafo, mantendo a grafia da época: “Se eu tivesse de escolher os meus delegados a um congresso magno de pensamento philosophico da humanidade através das edades, a lista que eu tiraria do seu das minhas grandes venerações seria esta luminosa e triumphante lista quadrupla; Platão, S. Agostinho, Pascal e Victor Hugo”.
Promete muito uma obra de Teologia que começa com estes gigantes da Filosofia e da Literatura.