Sáb. Mai 24th, 2025

Aveirenses no Episcopado

Rubrica dedicada à divulgação da história de bispos nascidos no território da diocese de Aveiro, nas suas duas fases: entre 1774 e 1882 – 1.ª fase | depois de 1938 – 2.ª fase
Textos da autoria de Monsenhor João Gonçalves Gaspar, recolhidos do livro Diocese de Aveiro: subsídios para a sua história, Aveiro: Edição da Diocese de Aveiro, 2014.

Textos publicados nos dias 24 e 11 de cada mês | A diocese de Aveiro foi restaurada em 1938, com bula do Papa Pio XI, datada de 24 de agosto desse ano, e executada em 11 de dezembro.


João Gonçalves Gaspar (Monsenhor)*

 

D. frei Miguel de Bulhões e Sousa

D. frei Miguel de Bulhões e Sousa – no século, Miguel José Correia da Silva – nasceu no lugar de Verdemilho (Aradas – Aveiro), em 13 de abril de 1706, sendo filho de José Pereira Pacheco e de Maria da Encarnação e Gouveia. Novo, com apenas dezasseis anos de idade, entrou no convento dos padres dominicanos, em Aveiro. Decorrido um ano de noviciado, fez a profissão religiosa em 11 de outubro de 1723 e foi ordenado presbítero em 12 de março de 1730; lecionou filosofia e teologia na mesma casa e pertenceu à Academia Real da História. Nomeado bispo de Malaca com trinta e nove anos, recebeu a ordenação episcopal em Lisboa, na manhã de 13 de março de 1746, sendo celebrante o cardeal D. Tomás de Almeida; não chegou, porém, a ocupar este cargo, pois seria transferido, no ano seguinte, para o bispado do Pará (Brasil), como coadjutor de D. Frei Guilherme de S. José; depois, em 15 de fevereiro de 1749, entrou solenemente na posse do bispado, cujo titular havia entretanto resignado. Entretanto, em 1759 renunciou à própria diocese e embarcou para a Europa, até com alguma esperança de ficar com o governo eclesiástico de Leiria, que estava para vagar. Efetivamente, nomeado e apresentado por el-rei D. José I para esta diocese, foi confirmado em 1761 pelo papa Clemente XIII. No exercício do seu ministério, publicou diversas cartas pastorais, continuou a frontaria da sé e mandou fazer-lhe diversos anexos, levantou a torre sineira na base do monte do castelo, e construiu a formosa escadaria da capela de Nossa Senhora da Encarnação.

Ao que se julga, D. Frei Miguel de Bulhões e Sousa faleceu na freguesia das Cortes, perto de Leiria, em 14 de setembro de 1779, quando já estava instituída a diocese de Aveiro; os seus restos mortais foram trasladados para a catedral, onde uma lápide memora a sepultura. Pena é que, na sua ação episcopal, tenha colaborado muito proximamente com a política do marquês de Pombal; todavia, são de compreender tais procedimentos, dadas as circunstâncias históricas do tempo, tanto mais que, mudadas as condições, também ele aparece livremente na própria personalidade de homem de Aveiro.


*Academia Portuguesa da História

Imagem: Brasão de Dom Miguel de Bulhões e Souza