Aveirenses no Episcopado
Rubrica dedicada à divulgação da história de bispos nascidos no território da diocese de Aveiro, nas suas duas fases: entre 1774 e 1882 – 1.ª fase | depois de 1938 – 2.ª fase
Textos da autoria de Monsenhor João Gonçalves Gaspar, recolhidos do livro Diocese de Aveiro: subsídios para a sua história, Aveiro: Edição da Diocese de Aveiro, 2014.
Textos publicados nos dias 24 e 11 de cada mês | A diocese de Aveiro foi restaurada em 1938, com bula do Papa Pio XI, datada de 24 de agosto desse ano, e executada em 11 de dezembro.
João Gonçalves Gaspar (Monsenhor)*
D. Tomás Gomes de Almeida
D. Tomás Gomes de Almeida nasceu em 25 de novembro de 1836, na freguesia de Castelões (Vale de Cambra), ao tempo no território da diocese de Aveiro. Cursou o Liceu de Aveiro e depois o seminário de Coimbra; em seguida, formou-se em teologia na Universidade. Em 1863, foi nomeado cónego da sé de Viseu, com o ónus de ensino. Revelando extraordinárias qualidades, o bispo de Viseu, D. António Alves Martins, recomendou-o ao Governo, que o apresentou para a diocese de Angola em 29 de março de 1871; confirmado pelo beato Pio IX em 04 de agosto, recebeu a ordem episcopal em 21 de janeiro de 1872 e entrou solenemente em Luanda no dia 03 de junho. Empenhou-se em proceder a importantes reformas; mas a sua boa vontade foi contrariada pela falta de recursos económicos, que deveriam ser concedidos pelos Governos. Desanimado e com a saúde abalada pelo clima, retirou-se para Lisboa em 17 de outubro de 1876. No ano de 1879, quando aqui se encontrava, o Governo nomeou-o vigário capitular de Goa para substituir o arcebispo que, de saúde enfraquecida, havia voltado ao reino.
Em 26 de abril de 1883, foi apresentado bispo da Guarda e, em 14 de agosto, confirmado pela Sé Apostólica. Reformou e aumentou o edifício do seminário e fundou uma conferência vicentina, para a qual concorria. Em 25 de julho de 1884, expediu uma pastoral a recomendar a observância da encíclica Humanum genus de 20 de abril anterior, em que o papa Leão XIII condenara a Maçonaria. Como o documento pontifício não obtivera o beneplácito régio, o ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, Lopo Vaz de Sampaio e Melo, em portaria de 25 de outubro, admoestou o bispo da Guarda por ter desagradado a el-rei e não ter respeitado as leis do país. Consta que D. Tomás Gomes de Almeida respondeu nobre e altivamente, declarando-se resolvido a obedecer primeiramente às ordens do vigário de Cristo. Faleceu na Guarda, em 03 de janeiro de 1903, sendo os seus restos mortais sepultados na sé.
* Academia Portuguesa da História
Imagem: Blogue ‘Vilar Maior’