Sáb. Mai 17th, 2025

Um olhar atento ao tempo que flui

 

Victor Bandeira*

A 14 de Junho de 2018 foi apresentada a publicação “Memórias da Igreja de São Bartolomeu de Veiros – Chão Sagrado”. Esta obra surge logo no início de 2008, quando iniciei a pesquisa para projectar e preparar as comemorações dos 400 anos da edificação da igreja de Veiros, que decorreram durante 5 anos (2008 e 2012). Percebi que a história da paróquia era muito mais rica do que aquilo que imaginava e recheada de acontecimentos inéditos, que mereciam ser conhecidos por todos, principalmente pelos veirenses. Verter em forma de livro toda esta informação que ia encontrando, pensei ser a maneira mais adequada de chegar a casa de cada veirense. Aquando da visita pastoral de D. António Francisco dos Santos a Veiros, em Abril de 2008, aproveitei para lhe apresentar as ideias-base dessas comemorações e mostrar-lhe algumas das “descobertas” que tinha feito nos últimos tempos. Nessa ocasião, disse-me “Tu devias pôr isto tudo em livro, porque é importante demais para ficar guardado”. Nesse momento, decidi que a ideia do livro tinha mesmo que ser realizada.

Milhares de páginas de livros de assentos de baptismos, casamentos e óbitos foram detalhadamente analisados durante anos, nas quais os párocos de Veiros registaram valiosas informações para o conhecimento da história da paróquia, ao longo dos últimos quatro séculos. Algumas actas remanescentes de reuniões paroquiais e alguns documentos esquecidos em gavetas de mobiliário secular foram também cruciais para a compilação de todo este manancial histórico. A informação publicada, anteriormente, no volume II das Notas Marinhoas, pelo Dr. José Tavares Afonso e Cunha, ou nos escritos de Monsenhor Miguel de Oliveira, conjugada com os novos dados recolhidos, verteu para este livro uma vastidão de novidades até então desconhecidas, porque se encontravam escondidas pela passagem do tempo e pelo desaparecimento dos seus intervenientes.

Nas páginas deste livro, é revelada, pela primeira vez, a cronologia dos párocos de São Bartolomeu de Veiros, assim como o elenco dos sacerdotes naturais desta paróquia. Tive muitas surpresas, porque encontrei bastante informação inédita e desconhecida até ao momento. Lembro-me do momento em que encontrei o registo de óbito da Isabel, a rapariga que encontrou o Senhor da Ribeira. Não se sabia nada dela, esteve “escondida” mais de 200 anos. Decifrei as pedras tumulares da Capela de Nossa Senhora da Ajuda, os novos dados sobre a origem da Capela de São Geraldo, ou as actas da época do incêndio na igreja… entre outros pormenores que decidi não introduzir no livro, mas que guardo na minha memória. Nele ainda se registam algumas lembranças contemporâneas, como as celebrações dos 400 anos da Igreja, que avivaram tradições, costumes e vivências esquecidas nos baús dos nossos ascendentes veirenses, e que vieram, de certa forma, retomar o gosto e o respeito pelo passado.

Houve períodos em que, por motivos profissionais, tive que colocar a pesquisa em espera, portanto, a falta de tempo para me dedicar mais a este livro foi uma dificuldade. O acesso à informação também foi um processo moroso, assim como a própria leitura de alguns documentos compostos por dezenas de páginas, cujo estilo de letra não permitia avançar à velocidade desejada. Posso dizer, em jeito de curiosidade, que nalgumas partes demorava 2 horas para decifrar 10 linhas destes manuscritos.

Hoje já existem mais dados a acrescentar para uma nova edição, desde algumas informações veiculadas por um historiador brasileiro, que encontrou algumas referências de sacerdotes veirenses nos arquivos do século XVIII (no Brasil), numa paróquia que ele estava a estudar, e que vêm completar biografias já existentes de alguns sacerdotes veirenses. Assim como se complementaram algumas biografias de sacerdotes com novos dados que surgiram a partir do aparecimento (no Porto) de alguns manuscritos de “licenças para confessar” de um sacerdote natural de Veiros, do século XVIII. Além de que o espólio do Padre Miguel Henriques (falecido em 1948 e natural de Veiros), descoberto em Dezembro de 2022, veio enriquecer ainda mais a informação histórica da paróquia com documentos e apontamentos inéditos.

Esta obra pode ser adquirida junto do autor, Victor Bandeira, ou na Livraria Santa Joana, junto à Sé de Aveiro.

As Memórias de São Bartolomeu de Veiros – Chão Sagrado são, por tudo isto, memória agradecida aos antepassados e à alma de um povo: o Povo de Veiros!


*Victor Bandeira, PhD
Departamento de Biologia e CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar
Universidade de Aveiro