Qui. Abr 25th, 2024

Pe. Georgino Rocha 

A festa pascal não termina na Vigília ou no domingo da Ressurreição, mas alarga-se a toda a vida da Igreja, especialmente até ao Pentecostes que celebra a descida do Espírito Santo sobre grupo dos Apóstolos e o impele a anunciar o que acontecera a Jesus de Nazaré a milhares de peregrinos, congregados para a solene festa dos Judeus.

A liturgia da Igreja organiza este tempo de modo a que os cristãos possam saborear o sentido de cada acontecimento e revigorar a sua fé, sabendo em Quem acreditam. Hoje, destaca o primeiro encontro de Jesus Ressuscitado com os discípulos fechados na sala de uma casa em Jerusalém. Vamos meditar alguns dos momentos mais significativos desse memorável encontro.

Os discípulos, no primeiro dia da semana, ao cair da tarde, vivem uma experiência que, transforma radicalmente a sua vida. É única e converte-se em factor decisivo para todos os que estão chamados à fé cristã radicada na Páscoa de Jesus. É envolvente da pessoa toda, dos seus sentimentos mais básicos, das suas convicções mais elevadas. É o embrião da comunidade eclesial que, ao longo dos tempos, se vai organizar e configurar de modos vários. Jo 20, 19-31. 

“A Páscoa de Cristo não cria apenas um espaço novo: a comunidade dos crentes, mas institui também um tempo novo de memória da Ressurreição, que é o domingo… O domingo é tempo sacramental em que o Ressuscitado encontra a sua comunidade reunida” Manicardi.

O medo surge como o pólo aglutinador dos sentimentos comuns. O grupo procura segurança por “medo dos judeus”. Deixa morrer as réstias de esperança que a memória de alguns ditos do Mestre teimavam, em vão, manter vivas. Também os ecos da visita das mulheres ao sepulcro vazio lhes suscitam estímulos de expectativa. Mas nada superava a ameaça pendente nem a angústia do isolamento.

Este cenário de crise mantém-se plenamente actual. E as situações abundam. A esperança morre à míngua de alimento. O sonho dos tempos idos desvanece-se e o realismo duro impõe-se. E não se vê saída razoável, apesar dos esforços abnegado de tantos. O horizonte fechado corta a amplitude do sonho à medida do coração.

O Ressuscitado, de surpresa, posta-se no meio do grupo, mostra-lhe os sinais da sua crucifixão e dirige-lhe uma saudação afectuosa. Nada de recriminações pelo abandono e dispersão. A memória do passado serve apenas para revigorar o presente e fazer pressentir os caminhos de futuro. O medo cede o lugar à confiança e a tristeza, à alegria.

“A passagem do medo à alegria diz que encontrar o Ressuscitado é fazer a experiência de ressurreição na sua própria vida. O gesto de Jesus que sopra sobre os discípulos é gesto de criação, de passagem da morte à vida… A própria vida comunitária é lugar de experiência pascal”.

Tomé não estava presente quando O Ressuscitado se manifesta. Os outros anunciam-lhe a alegre notícia. Ele não acredita. Tem dúvidas fundadas. Exige provas conclusivas. Atitude honesta de quem valoriza a razão. Representa, de algum modo, muitos de nós e dos nossos contemporâneos. Vem o Senhor e diz-lhe: «Pôe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado e não seja incrédulo, mas crente». E ele exclama: «Meu Senhor e meu Deus”.

Também temos uma das vias para chegar à fé no Ressuscitado: Tocar nas feridas dos pobres e nas crises das famílias, nas chagas da sociedade e da Igreja e suas comunidades e movimentos. Tocar para curar e abrir caminho à experiência de Tome, ao encontro pessoal com o Senhor da misericórdia.

Façamos nossa a profissão de fé do Papa Francisco: “Jesus, o Ressuscitado, ama-nos sem limites e visita todas as situações da nossa vida. Com Ele, a vida mudará. Porque, para além de todas as derrotas, do mal e da violência, para além de todo sofrimento e para além da morte, o Ressuscitado vive e guia a história”.


Imagem: A Ressurreição | escultura em bronze vermelho | Pericle Fazzini – 28 de setembro de 1977