No 20.º aniversário da Morte do Pe. Arménio
Padre Arménio – Músico. A sua relação com os órgãos de Aveiro [3]
Domingos Peixoto
A formação musical no Seminário (cont.)
Já radicado em Aveiro, em 1954 o Pe. Arménio deixou o Seminário Conciliar de Braga e a conceituada escola de música bracarense[1], para prosseguir os estudos de Teologia no Seminário de Cristo Rei, nos Olivais – Lisboa, onde igualmente existia uma considerável tradição musical. Na verdade, integrara o seu corpo de formadores, desde a abertura (1931), o Pe. Pascal Piriou, da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, referido por um dos seus alunos[2] como “especialista em Canto gregoriano, compositor, organista e mestre de capela do Seminário dos Olivais”. Sob a sua direcção, a Schola do Seminário dera um concerto de Canto gregoriano no Teatro Nacional de São Carlos em 9 de Abril de 1933, a pedido do Cardeal Patriarca[3]. O Pe. Manuel de Faria Borda integrou na sua coletânea Jubilate alguns cânticos do Pe. Piriou e do Pe. Ignacio Aldassoro, da mesma congregação e também professor do Seminário dos Olivais.
Durante os estudos teológicos do Pe. Arménio nos Olivais, estes dois prestigiados músicos já lá não estavam. Nesse tempo, o Pe. José Ferreira tinha a seu cargo o Canto gregoriano e, o Pe. José Viçoso Freire, a polifonia. O Pe. Arménio continuou os estudos de piano, chegando a tocar a quatro mãos com seu irmão Valdemar nas ‘academias’ – sessões culturais que se realizavam em determinadas festas. O Pe. Valdemar refere que o seu irmão aproveitava os recreios para estudar harmónio e piano, fazendo idêntico trabalho nas férias[4].
O P. Pascal Piriou é autor de diversas composições polifónicas, algumas das quais integram habitualmente a programação do Coral Stella Vitae (formado por antigos alunos do Seminário dos Olivais); encontramos também uma dessas composições – O Sacrum Convivium – num programa dos Pequenos Cantores da Glória, realizado em 3 de Fevereiro de 1973 na Igreja de São Bernardo[5].
Dos estudos feitos nos Seminários resultou
– Uma formação musical básica abrangente;
– A consciência da importância histórica da música na liturgia e o conhecimento das orientações da Igreja a este respeito;
– Uma fina sensibilidade artística e a consciência do papel da música como instrumento de evangelização;
– A consciência da importância do órgão de tubos na liturgia e na cultura;
– A consciência da necessidade de uma formação mais aprofundada, que lhe permitisse responder ao apelo da evangelização pela música.
Note-se que a estadia do Pe. Arménio na capital (1954-57) situa-se no extraordinário ressurgimento organístico em Lisboa, coincidindo, por um lado, com a presença no Conservatório Nacional do jovem organista alemão Karl Heinz Müller, formado na Escola Superior de Música de Freiburg e no Pontifício Instituto de Música Sacra (Roma)[6] e, por outro, com a actividade do recém-criado Centro de Estudos Gregorianos, que trouxe a Portugal notáveis organistas franceses: Gaston Litaize, Édouard Souberbielle, Geneviève de La Salle e Jean Guillou.
[1] A escola bracarense tem uma importante tradição musical; bastará recordar os PP. Manuel Alaio (1888-1937), Lima Torres e, mais tarde, Benjamim Salgado (1916-78), Manuel de Faria Borda e Manuel de Faria.
[2] Pe. José de Alcobia (1914-2003), autor de estudos sobre a relação do cante alentejano com o canto gregoriano.
[3] http://seminariocristoreidosolivais.org/index.php/en-GB/seminario/historia/cronologia. Consulta: 2013.01.30.
[4] Sinfonia, p.16. Durante este período, estava a estudar em Roma um dos nomes mais marcantes da música litúrgica ainda hoje, o Pe. Manuel Luís.
[5] Tratava-se da inauguração de um órgão vendido pela Casa Ruvina (Porto); a primeira parte esteve a cargo dos Pequenos Cantores da Glória e, a segunda (Órgão e Trompete), do Pe. Ferreira dos Santos – recentemente regressado dos seus estudos de Órgão e Direção em Munique – e do trompetista José Alves Macedo.
[6] O Prof. Müller fora discípulo do organista Ferruccio Vignanelli, com quem também estudara Manuel de Faria Entre os alunos deste professor conta-se, entre 1953 e 1956, o P. Fernando de Brito Antunes, ordenado em 1953 e atual pároco de Serra, Santarém.
(Foto: http://olhares.sapo.pt/seminario-maior-do-cristo-rei-dos-olivais-foto1012108.html)