Sáb. Mar 22nd, 2025

Oratório Peregrino

Um oratório à maneira de um viático para tempos de carestia
Uma proposta desenvolvida em parceria com

Irmãs do Carmelo de Cristo Redentor – Aveiro


VII – O Espírito Santo, o Amigo, está aqui

Convido-vos a fazer um acto de fé no Espírito Santo que habita em nós. O Espírito Santo não é uma ideia, é alguém, é a vida da nossa alma, o alento de vida, o hóspede da nossa alma que actua continuamente em nós. É uma Pessoa inteligente, amante, que habita em nós.

Portanto, devemos viver com o Espírito Santo, ir de vez em quando, ou antes, muitas vezes, ao seu encontro. E quando voltamos o olhar para o interior para ver em que altura do caminho nos encontramos, devemos procurar em primeiro lugar e quase exclusivamente o Espírito Santo que vive em nós. Está em nós e é nosso amigo, está em nós e é nosso hóspede; está em nós e é o arquitecto da Igreja; está em nós e é quem realiza a nossa santificação, quem constrói a Igreja mas quer que colaboremos.

Peçamos ao Espírito Santo, não que nos revele a sua presença com manifestações exteriores, como no Pentecostes, mas que nos revele a sua presença e que, pelo menos, nos dê a fé n’Ele. Porque, como diz Nosso Senhor, aquele que acredita n’Ele, brotarão rios de água viva do seu seio e o Espírito Santo derramar-se-á por meio desta alma. Rios de água viva e de luz descem sobre as almas por meio do Espírito Santo, mas também por meio desta alma que abriu as eclusas divinas com a sua fé (Mo 259-260).

Jesus disse: «o Espírito da Verdade, que procede do Pai, e que Eu vos hei-de enviar» (Jo 17, 26). O Espírito Santo prolonga e completa a missão de Jesus Cristo. O Espírito Santo, inseparável do Filho e do Pai, vive pessoalmente em mim, sou a morada que Ele ama: «o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5). A resposta ao amor ajuda-me a orar como filho chamando a Deus: «Abbá, Pai».

Quando rezo, realizo actos de fé e de amor, que me põem em contacto, em comunhão com Deus. A fé é perfeita em si mesma, ela «dá» a Deus, diz São João da Cruz. Mas, frequentemente, estou inquieto… Vem-me tudo à mente: ideias, dúvidas, o que me contrariou, o que me preocupa… Tenho a impressão de que Deus não está em mim. «A oração é um intercâmbio», mas, como fazer para permanecer orando quando não sinto nada? O humano não está adaptado ao deus invisível. Tenho necessidade de me pacificar interiormente para permanecer perto de Jesus e receber a sua graça. Ao sair da oração estou cheio de boas intenções, mas na primeira ocasião, caio. Tenho necessidade de uma ajuda interior para fazer este acto que Deus me pede e que está acima das minhas forças, para perseverar na minha vocação, para realizar a minha missão.

«Senhor, eu creio em Ti, amo-te…».
Estas palavras são realmente minhas
e Tu as acolhes.
Mas mais do que palavras
desejas o meu coração e tudo o que sou.
Como orar de uma maneira comprometida?
Só com as minhas forças,
Quem me levará a Ti?

«O Espírito Santo vem em ajuda da nossa fraqueza» (Rm 8, 26). Com os seus dons, sustenta as minhas faculdades para melhorar os seus actos. Vou a Deus por meio de Deus e com todo o meu ser.

Tal como a vela permite que o barco avance pela acção directa do vento, os dons permitem-me ser receptivo do sopro do Espírito Santo. Na obscuridade da oração, este sopro tranquiliza-me, dá-me força e luz. Garças a ele, a minha fé permanece tranquila em contacto com Deus. Também graças a ele se vão perfilando as indicações que necessito para actuar em tal situação da minha vida familiar ou profissional que parece não ter solução. Em certas ocasiões da minha vida, é Ele quem guia e sustenta a minha liberdade para responder à chamada de Deus e ser-lhe fiel. Sigo passo a passo pela mão de Deus. As intervenções de Deus pelos dons do Espírito Santo podem chegar a ser tão frequentes e tão profundas, que ponham a alma numa dependência quase contínua do Espírito Santo (QV 352).

A experiência de Deus desconcerta-nos: posso estar em plena noite e ter uma luz abundante, sentir a minha fraqueza e ir direito a fazer o que Deus me pede. Posso estar angustiado e, ao mesmo tempo, com uma paz e uma alegria que não sinto. Porquê? Deus captou as profundidades do meu ser, mas ainda não completamente.

Oiço todavia o Padre Eugénio Maria dizer: É inútil procurar sujeitar as distracções; para recuperar a paz temos que ir mais além, temos que fugir para Deus! Não abandones a oração, o contacto de fé; continua a apegar-te a Ele como puderes na obscuridade, porque é aí onde Ele está. Embora não te sintas pacificado, Deus se entregou. Se quando deixas a oração, estás a desejar voltar é porque encontraste algo! Então… persevera na oração como puderes! A acção de Deus é real e profunda embora não pareça. Aceitarás a sua maneira de se dar… quer seja como um oceano tranquilo ou como uma tempestade (I 16-5-59). Mas caio! Se cais, se já não sabes onde estás, ora, chama o Espírito Santo, oferece-lhe as tuas dificuldades, entrega-te a Ele. Não esperes que a tua oração tenha um resultado imediato. Espera a lenta infusão da caridade, que te voltará a levantar. Sim, Ele deseja salvar-te completamente, e, por isso, se entrega a ti.

A união com o Espírito Santo não é um luxo, não. No trabalho quotidiano, as técnicas humanas têm a sua importância, mas o primeiro que temos que fazer é unir-nos com aquele que faz o trabalho. Esta união alcança-se com um acto de fé, mas somente estes actos repetidos realizam verdadeiramente a intimidade, a amizade com Ele. Para trabalhar temos que estar sempre com Ele. Ir a Ele como por reflexo cada vez que queremos fazer algo. Que Ele esteja sempre presente e estejamos sempre com Ele (I, 1-8-60).

Vivo progressivamente com todo o meu ser uma vida nova neste Espírito que me vai adaptando a Ele: desapego e alegria, equilíbrio e flexibilidade. Ele serve-se de tudo! O livro dos Actos mostra a transformação dos apóstolos no Pentecostes: força, luz, e até eloquência! «hei-de enviar da parte do Pai, Ele dará testemunho a meu favor. «E vós também haveis de dar testemunho» (Jo 15, 27).

O Espírito Santo dá a conhecer o testemunho dos mártires, dos santos que respondem às necessidades dos homens de uma maneira tão criativa e justa. «O Espírito Santo une-se ao nosso espírito» para uma conversão profunda, para uma cura, para uma inculturação da luz de Deus na inteligência, na liberdade, até na expressão sensível; para uma mensagem de esperança e de humanidade recriada. Escondido na riqueza e na fraqueza do homem, o Espírito manifesta os bens de Cristo.

Está vivo o Espírito de amor que vive em mim e tomou posse de mim desde há muito tempo. A minha santidade consistirá em crer na sua presença, em entregar-me ao seu domínio…
E como um pai, faz-nos participar do seu desejo. Entremos em oração:

Que o Espírito Santo
desça sobre vós,
para que possais dizer quanto antes
que o Espírito Santo é vosso amigo,
que o Espírito Santo é vossa luz,
que o Espírito Santo é vosso Mestre.
É o que vos desejo
e é a oração, estai certos,
que faço e continuarei a fazer no céu
por vós durante a eternidade.


Imagem de jplenio por Pixabay