Sáb. Mai 24th, 2025

São Francisco de Paula (1416-1507), eremita natural da Calábria (Itália), fundador da Ordem dos Mínimos, é celebrado a 2 de abril, data da sua morte. Neste dia a comunidade paroquial de Salreu fez história. As origens da devoção dos salreenses a este santo, padroeiro dos marinheiros, que pode justificar a existência na Igreja Matriz de Salreu de uma imagem do séc. XVIII de dimensões relevantes, são ainda uma incógnita.

Em Portugal, a Ordem dos Mínimos teve um convento em Lisboa, cujas origens remontam a um hospital fundado em 1717. A igreja conventual, dedicada em 1765, foi edificada com o patrocínio da rainha D. Mariana Vitória, esposa de D. José I, tendo sido escolhida para lugar da sua sepultura. É hoje uma das igrejas paroquiais da cidade. Com a expulsão dos frades mínimos de Portugal, em 1834, o carisma de São Francisco de Paula viria a ser esquecido.

Deste modo, não deixa de ser providencial o facto de a 15 de setembro de 2024, quando o Padre Nuno Duarte da Silva Queirós deu início ao seu ministério de pároco na Paróquia de São Martinho de Salreu, terem comparecido na celebração dois frades da Ordem dos Mínimos provenientes de Roma, um dos quais seu colega de estudos. Aliás, os laços entre esta Ordem fundada por São Francisco de Paula e a Diocese de Aveiro têm-se estreitado já que D. António Moiteiro formulou junto do Corretor Geral da Ordem o convite à fundação de um convento mínimo na nossa Diocese, como já foi divulgado.

No dia seguinte à partida dos frades, a 17 de setembro (dia marcado pelos incêndios que afetaram algumas freguesias da nossa região), é com um tremendo espanto que o padre Nuno na presença de elementos do conselho para os assuntos económicos, descobriu no coro alto da Igreja Matriz, cobertas por um pano roxo pejado de pó e sujidade acumulados há anos, duas estátuas de relevo: a do padroeiro São Martinho de Tours, por certo das origens da atual Igreja (séc. XVII), e a de São Francisco de Paula (séc. XVIII). Ambas as peças foram prontamente intervencionadas pela D. Emília Pereira, conservadora restauradora, com a ajuda de benfeitores, somando-se a um plano de intervenção alargado que tem restituído o património artístico de Salreu, que se encontrava em degradação.

A particularidade da conjugação destas várias coincidências motivou a reflexão da comunidade e o desejo de estreitar os laços espirituais com São Francisco de Paula, que deixou um apelo a uma vida simples, humilde, com uma forte dimensão penitencial e quaresmal, tendo como imperativo a Caridade.

Assim, nesta quarta-feira, 2 de abril, às 19h00 celebrou-se a Eucaristia festiva presidida por D. António Moiteiro, na presença de Padre Marco Gagliardi e Frei Enzo Cordeiro, frades mínimos que vieram propositadamente de Roma, do Padre João Paulo Henriques, arcipreste, e dos padres Jorge Gonçalves e Nuno André, do clero do Arciprestado de Estarreja-Murtosa, na presença de uma assembleia numerosa que encheu a Igreja Paroquial.

No decurso da celebração foram chamados pelo pároco, padre Nuno Duarte, os cerca de 40 candidatos que se apresentaram para a formação da primeira fraternidade da Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula no nosso país, que permitirá semear os valores da conversão pessoal e comunitária ao estilo do santo eremita de Paula. Diante do Senhor Bispo manifestaram a sua intenção de progredir na formação e no crescimento espiritual, tendo recebido das mãos do prelado uma biografia de São Francisco de Paula.

Seguiu-se à Eucaristia um momento cultural com a intervenção da conservadora restauradora da imagem, de Padre Marco Gagliardi e de D. António Moiteiro, finalizando-se o evento ao som da guitarra clássica tocada pelo prof. Victor Castro.

SÃO FRANCISCO DE PAULA

Francisco nasceu em Paula, na Calábria, em 1416. Acometido em criança por um abcesso no olho esquerdo, os seus pais recorreram à intercessão de S. Francisco de Assis e prometeram que em caso de cura a criança usaria por um ano inteiro o saio franciscano. Curado, cumpriu o voto entrando para o convento de São Marcos Argentano, em Cosenza, com a idade de 13 anos, onde logo manifestou fortes dons de piedade e de oração. No final da sua estadia no convento fez uma peregrinação a Assis e Roma em busca de uma vida religiosa resumida ao essencial e mais apropriada para si. Regressado a Paula, iniciou um período de vida de eremita e de despojamento, no que foi imitado por outros dois jovens que se lhe juntaram. Em 1435 construiu uma capela e três celas e fundou a ordem dos Mínimos (o que quer dizer, ainda menos que os frades menores do pobre de Assis) ou ordem dos Eremitas de São Francisco, juntando aos três votos habitualmente firmados pelos franciscanos, pobreza, castidade e obediência, mais um, o do jejum quaresmal. Em 1452 conseguiu a aprovação diocesana e a permissão para instituir um oratório, um mosteiro e uma igreja. Em 1474, o Papa Sisto IV reconheceu oficialmente a nova Ordem. O reconhecimento da regra com o nome atual da Ordem dos Mínimos ocorreu durante o pontificado do Papa Alexandre VI (1492-1503).

Sendo um dos santos a quem se atribui maior número de milagres, foi chamado pelo rei de França Luís XI para que o curasse de grave enfermidade. Quando, por ordem do papa se dirigiu à corte francesa, disse ao rei que pediria a Deus pela sua saúde, mas o que mais lhe pediria seria pela saúde da alma porque o importante seria assegurar a posse da verdadeira vida. S. Francisco acompanhou o rei na sua enfermidade e este, reconciliado com Deus, gozou de uma morte tranquila.

Morreu em Plessis, a 2 de Abril de 1508 (Sexta-feira Santa). Foi canonizado pelo papa Leão X em 1519 e é o padroeiro dos marinheiros.

Em 1497 foi fundada em Espanha por São Francisco a primeira fraternidade de leigos vinculada aos Mínimos, a Ordem Terceira, que foi aprovada pelo papa Alexandre VI em 1503 e que ainda hoje une muitos cristãos aos ideais espirituais do eremita calabrês. Alguns dos seus membros ilustres foram Santa Joana de Valois (rainha de França), São João de Deus e São Francisco de Sales.

+info: www.ordinedeiminimi.it
https://terziariminimi.org

Fotos: cortesia Carlos Marques