Seg. Abr 28th, 2025

Aveirense Ilustre

Filipe Rocha: Padre, filósofo e professor universitário

Cardoso Ferreira (Textos)

Filipe Rocha, natural da Choca do Mar (Vagos) notabilizou-se como padre, professor universitário e investigador na área da Filosofia e da Educação.

Filipe Rocha nasceu no lugar de Choca do Mar (freguesia de Calvão, no concelho de Vagos), no dia 9 de dezembro de 1933, e faleceu em Aveiro, no dia 18 de novembro de 1996.

Foi na sua terra natal, Choca do Mar, que fez os estudos primários, mudando-se depois para o Seminário de Aveiro (de 1945 a 1953), onde concluiu o ensino secundário, após o que, rumou a Lisboa, para frequentar o Seminário dos Olivais (de 1953 a 1957), onde concluiu o curso de Ciências Eclesiásticas (Teologia), o que lhe permitiu a sua ordenação sacerdotal.

Mais tarde, na Universidade Gregoriana (em Roma, Itália) tirou o bacharelato em Filosofia (1959) e licenciou-se em Filosofia com a tese “Sinceridade e mentira na criança e no adolescente” (1960). Em janeiro de 1976, na Universidade Católica Portuguesa, em Braga, defendeu a tese “Cibernética e liberdade – maneira de pensar o homem?”, com que se doutorou em Filosofia.

Carreira docente

De regresso a Portugal, após a licenciatura em Itália, Filipe Rocha iniciou uma profícua carreira no ensino, primeiro, ao nível secundário e, mais tarde, universitário, terminando a carreira como catedrático na Universidade de Aveiro.

A sua primeira função docente foi no Seminário de Aveiro, onde, entre 1960 e 1974, lecionou cadeiras como Filosofia, Antropologia, Ética, Metodologia e Pedagogia. Depois, foi professor de História do Pensamento Antigo e História do Pensamento Moderno no Instituto Superior de Estudos Teológicos do Porto (1972-1974) e de História do Pensamento e Filosofia da História no Instituto de Ciências Humanas e Teológicas (1975).

No ensino universitário, Filipe Rocha foi professor na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, Braga, (1972-1979) de Liberdade em Situação, Filosofia da Evolução, Filosofia da História, Filosofia das Ciências Biológicas e Epistemologia das Ciências Humanas.

No ano de 1979 Filipe Rocha ingressou no Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Aveiro, onde se manteve até 1996 (ano da sua morte) e onde se tornou professor catedrático (1986). Aqui exerceu funções docentes na área de Fundamentos da Educação (História e Filosofia da Educação), sendo responsável pelas disciplinas de Introdução às Ciências da Educação, Evolução dos Sistemas Educativos, Correntes Pedagógicas Contemporâneas, Filosofia da Educação, História da Educação em Portugal, Educação e Valores, Formação Pessoal e Social.

Ainda na universidade aveirense, orientou seminários curriculares dos estágios pedagógicos e investigação em torno da Filosofia da Educação e Pedagogia.

Autor de vasta obra publicada

Como complemento da sua carreira académica, Filipe Rocha escreveu uma vasta obra, sobretudo de temática pedagógica, de que são exemplos “Liberdade em situação” (Braga, 1971) “Cibernética e liberdade: maneira nova de pensar o homem?” (Braga, 1976), “Teorias sobre a História” (Braga, 1982), “Correntes pedagógicas contemporâneas” (Aveiro, 1988), “Fins e Objectivos do Sistema Escolar Português: I. Período de 1820 a 1926” (Porto, 1984), “Correntes Pedagógicas Contemporâneas” (Aveiro, 1988), “Educar em valores” (Aveiro,1996). “Pedagogos aveirenses: I. Lima Vidal (1874-1958)” (Aveiro, 1996), “Pedagogos aveirenses: II. Homem-Christo (pai) (1860-1943)” (Aveiro, 2003), este último, já a título póstumo.

A essas obras, junta-se uma série de artigos científicos publicados em revistas da especialidade, nomeadamente: “Revista da Universidade de Aveiro”, “Revista Portuguesa de Pedagogia” e “Revista Portuguesa de Filosofia”.

Considerado como sendo o seu trabalho científico-pedagógico de fundo, o livro “Fins e Objectivos do Sistema Escolar Português: I. Período 1820-1926” é, ainda hoje, uma obra de referência sobre a evolução do siste

ma educativo português durante um século. Filipe Rocha considerava que para o período posterior ainda não havia distância suficiente para se fazer uma aceitável abordagem diretamente histórica.

No entanto, este período mais recente também foi alvo da investigação científica de Filipe Rocha, em especial os “Pedagogos Aveirenses” dessa época, os quais tiveram grande repercussão na região, como foram os casos de João Evangelista de Lima Vidal, Homem Christo (pai) e Jaime de Magalhães Lima.

 

Filósofo e pedagogo

A par da Filosofia, também a Educação esteve no centro da investigação científica de Filipe Rocha, para quem “educar é construir a liberdade para todos os homens”, mas se  “o homem não é um ser abstrato e intemporal; senão concreto, dotado de determinada hereditariedade, criado neste ou naquele ambiente, portador de um certo número de traumas uterinos e infantis, condicionado por numerosas influências climatéricas e alimentares, sujeito às influências do meio humano, da publicidade, etc”, então “como ser ele próprio, isto é, livre, no meio de tão numerosos influxos situacionais?”

Igualmente, Filipe Rocha escreveu que “educar é ajudar a criança e o jovem a serem homens na verdadeira acepção da palavra, proporcionando-lhes os meios de o conseguir. Esta tarefa implica, como é evidente, antes de mais, a resposta a esta pergunta fundamental: que é o homem? O enigma do homem tem sido o problema capital de toda a reflexão humana e, pode crer-se, continuará a sê-lo no futuro. Para a elucidação dele devem c

 

oncorrer todos os meios de investigação ao alcance do homem”, defendendo que as modernas tecnologias devem ser aproveitadas para esse fim, nomeadamente a Cibernética.

 

Numa outra perspetiva, Filipe Rocha realçou que “educar é preparar o homem para, como indivíduo e membro de Comunidades (familiar, local, regional, nacional, planetária), construir o futuro. O homem é, de facto, o construtor da história”. No entanto, isso levantou-lhe questões como “quais os dinamismos que levam o homem a construir a história? Qual a percentagem de liberdade que, ao homem, resta nessa construção? Qual o papel do indivíduo e da coletividade em semelhante construção?”, como resposta, avançou que “a perspectivação da situação do homem como construtor da História é um elemento fundamental da sua educação. Ignorá-lo seria expormo-nos a formar homens antecipadamente condenados à frustração!”

 

 (A rubrica «Aveirenses ilustres» é promovida em parceria com o jornal diocesano Correio do Vouga)