Qui. Mar 27th, 2025

No 20.º aniversário da Morte do Pe. Arménio

Padre Arménio – Músico. A sua relação com os órgãos de Aveiro [15]

Domingos Peixoto

Conclusão

Mosteiro de Jesus – Aveiro. Tesouros musicais. Ofícios rimados e sequências nos códices quatrocentistas é o título da tese de doutoramento do Pe. Arménio, defendida na Universidade de Aveiro em 24 de Julho de 1996. Na defesa, após várias observações feitas pelo arguente e demais elementos do júri, recordo-me de uma passagem da intervenção do Professor Telmo Verdelho (coorientador), que não consigo reproduzir textualmente, mas que dizia o seguinte: ‘A tese do Pe. Arménio não é perfeita, mas isso não é o mais importante; o que verdadeiramente importa é que ele revelou tesouros, tesouros escondidos do nosso património, e o seu estudo é um incentivo para subsequentes trabalhos de investigação.’

Tratando-se embora de contextos distintos, poderíamos dizer algo idêntico a respeito do trabalho orientado ou efetuado pelo Pe. Arménio nos órgãos de Aveiro. Ele não foi perfeito nem o poderia ter sido – tanto na recuperação dos históricos, como na construção do da igreja do Seminário – pois nem o Pe. Arménio nem os organeiros seus colaboradores tinham formação aprofundada nesta área. Mas, de facto, não é isso o mais importante. O que verdadeiramente interessa é que o Pe. Arménio revelou, da melhor forma que pôde, tesouros realmente escondidos do nosso património organológico. Na verdade, estava patente o rosto dos órgãos, mas não a sua fala. A generalidade da população da cidade, – familiarizada com o som do harmónio e, mais tarde, dos instrumentos electrónicos – nunca lhes tinha escutado a voz… O próprio Pe. José Henriques da Silva, depois de todo o seu cepticismos quanto ao que poderia sair daquele emaranhado da mecânica, não esconde o seu deslumbramento perante a sonoridade celestial produzida pelo órgão do Seminário.

O Pe. Arménio, além de ter sido um amador no sentido mais genuíno do termo, era movido pelo amor da Beleza, para a qual a música é um caminho privilegiado. Por isso, o fascínio pela voz do rei dos instrumentos chegou até aos nossos contemporâneos de Aveiro, guiado pela sua fé intrépida e pela sua mão habilidosa. Foi uma chama que se acendeu e nunca mais se apagou, uma luz que, embora bruxuleante… brilha, para usar a expressão de Jorge de Sena. Brilhou sempre e continua a iluminar veredas estreitas ao longo das quais encontramos já os restauros dos órgãos históricos da Misericórdia e do coro alto do Museu, diversos instrumentos antigos e modernos em igrejas da Diocese e, como ponto mais alto, o grande órgão da catedral, que um dia dialogará (assim o cremos) com o  com o seu irmão mais velho – o histórico – a ‘menina dos olhos’ do Pe. Arménio.

Dentro da evangelização através da música, o percurso organístico do Pe. Arménio foi um gesto sorridente que apontou para a Beleza suprema. Para terminar, a palavra da testemunha que, numa frase lapidar, sintetiza o seu apostolado musical – a sua irmã Assunção:

“[O Pe. Arménio] da música fazia a linguagem de Deus, que é preciso ouvir na beleza harmónica das notas e na delicadeza dos sons”[1].

[1] sinfonia, p.20.