Aveirenses no Episcopado
Rubrica dedicada à divulgação da história de bispos nascidos no território da diocese de Aveiro, nas suas duas fases: entre 1774 e 1882 – 1.ª fase | depois de 1938 – 2.ª fase
Textos da autoria de Monsenhor João Gonçalves Gaspar, recolhidos do livro Diocese de Aveiro: subsídios para a sua história, Aveiro: Edição da Diocese de Aveiro, 2014.
Textos publicados nos dias 24 e 11 de cada mês | A diocese de Aveiro foi restaurada em 1938, com bula do Papa Pio XI, datada de 24 de agosto desse ano, e executada em 11 de dezembro.
João Gonçalves Gaspar (Monsenhor)*
D. Manuel Batista da Cunha
Na história da diocese de Aveiro, aparece-nos a eminente figura do padre dr. Manuel Batista da Cunha, que nela desempenhou cargos de responsabilidade pelo período de dez anos, de 1871 a 1881. Tendo nascido no lugar de Paradela, da freguesia de Espinhel (Águeda), no dia 16 de abril de 1843, viria a frequentar as faculdades de direito e de teologia na Universidade de Coimbra; formado em 1870, durante algum tempo exerceu a advocacia em Águeda e posteriormente o magistério no seminário de Aveiro, onde foi eminente professor de hermenêutica. É nesta ocasião da sua vida, precisamente em 1871, que D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, arcebispo de Braga e administrador apostólico de Aveiro, o designou como vigário-geral substituto, «para servir na ausência do efetivo», em virtude de o dr. Pires de Lima se encontrar frequentemente fora da diocese por causa dos afazeres no parlamento.
Após a extinção do bispado de Aveiro, passou a viver em Coimbra, sendo professor no seminário dessa cidade. Em 30 de janeiro de 1888, foi nomeado vigário-geral de Lisboa e, em 01 de junho, escolhido pelo papa Leão XIII como arcebispo titular de Mitilene, recebendo a ordenação em 15 de julho. Posteriormente, em 08 de agosto de 1899, iniciou o múnus episcopal na arquidiocese de Braga, após a nomeação régia e confirmação papal. Tendo sido proposto cardeal pelo Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça em 11 de fevereiro de 1900, a Sé Apostólica não lhe concedeu essa dignidade. Em 12 de fevereiro de 1912, o Governo da República desterrou para fora dos seus distritos os bispos portugueses, por dois anos, em virtude de terem tomado a defesa dos direitos da Igreja Católica, após a publicação da Lei da Separação do Estado das Igrejas, de 20 de abril de 1911. D. Manuel Batista da Cunha decidiu ir viver em Vila do Conde, onde faleceu no dia 13 de maio de 1913. Os restos mortais foram trasladados em 23 de maio de 1916 para o cemitério da sua terra natal (Paradela – Águeda) e, em 17 de novembro de 1989, para o panteão dos arcebispos de Braga, na sé metropolitana (mons. José Augusto Ferreira, Fastos Episcopaes da Igreja Primacial de Braga, IV, pgs. 508 e ss.).
O padre Manuel Rodrigues Vieira (Farrapos de memória e de história – I, ADA, vol. IV, 1938, pg.210) apelidá-lo-ia de «grave, sábio, bondoso, muito versado em direito paroquial e administrativo, justamente considerado e estimado, como o foi sempre em toda a sua vida.»
* Academia Portuguesa da História
Imagem: Wikipédia