Aveirenses no Episcopado

Rubrica dedicada à divulgação da história de bispos nascidos no território da diocese de Aveiro, nas suas duas fases: entre 1774 e 1882 – 1.ª fase | depois de 1938 – 2.ª fase

Textos da autoria de Monsenhor João Gonçalves Gaspar, recolhidos do livro Diocese de Aveiro: subsídios para a sua história, Aveiro: Edição da Diocese de Aveiro, 2014.

Textos publicados nos dias 24 e 11 de cada mês | A diocese de Aveiro foi restaurada em 1938, com bula do Papa Pio XI, datada de 24 de agosto desse ano, e executada em 11 de dezembro.

João Gonçalves Gaspar (Monsenhor)*

D. frei José da Assunção

Religioso da ordem dos frades menores de S. Francisco, D. frei José da Assunção nasceu em Nariz, povoação da freguesia de Requeixo (Aveiro) até 1819. Eleito bispo de Lamego em janeiro de 1833 pelo Governo miguelista, foi confirmado pelo papa Gregório XVI em 29 de julho do mesmo ano. Já a 12 de abril o mesmo Governo lhe ordenara que assumisse a administração dos bens da Mitra, como se dela houvesse tomado posse. Tendo chegado a Lamego, abriu na catedral uma missão para combater os vícios imorais e o partido constitucional – o que lhe custou caro. Ao aproximarem-se as tropas liberais, teve de fugir por Trancoso e Celorico da Beira; levando consigo as pratas da Mitra, confiou-as nesta vila à guarda de uma senhora, com a recomendação de sigilo e de não as entregar senão a ele ou ao seu legítimo sucessor. De facto, foram restituídas ao bispo seguinte, D. José de Moura Coutinho. Conseguiu chegar a Lisboa, em cujos arredores viveu homiziado até à morte, ocorrida em 18 de outubro de 1841; sepultaram os seus restos mortais no cemitério da freguesia dos Olivais, segundo se diz.
Neste mesmo ano, ao negociar-se um acordo entre a Sé Apostólica e o Governo do nosso país, o secretário de Estado do papa Gregório XVI não se esqueceu de defender a liberdade deste bispo. Em nota dirigida ao primeiro visconde da Carreira, representante de Portugal em Roma, disse o cardeal Luigi Lambruschini, em 09 de setembro: – «Sua Santidade […] espera ser também assegurado em breve que o padre José da Assunção, religioso da Ordem dos Menores de S. Francisco, preconizado no consistório de 29 de julho de 1833 para a igreja de Lamego e canonicamente instituído na mesma por bula apostólica, na qual não exerceu o múnus pastoral pelas conhecidas mudanças do reino, pode assumir-se na forma devida o governo espiritual da dita diocese, para remediar os males a que ela, bem como as outras, se acha sujeita.» Contudo, eram tardias as diligências.
Foi homem de grande eloquência, sendo lendários os seus triunfos como missionário em diversas colónias portuguesas. Deixou alguns livros que tiveram grande voga, sobretudo no Brasil. Citam-se entre eles: – Oração concionatória, ou exortação do clero português, Coimbra, 1791; O defensor da religião em disputa com os incrédulos, publicado em folhetos, sendo o último em Lisboa, 1836; e Apologia dos jesuítas.

* Academia Portuguesa da História