Dom. Mai 5th, 2024

 

Luís Manuel Pereira da Silva*

‘Palavras’ é o mais recente livro de Miguel de Oliveira Panão, um escritor prolífico, inteligente e – fica demonstrado nesta obra – sábio. Miguel Panão publica, regularmente, no site da Comissão Diocesana da Cultura|Aveiro, numa rubrica dedicada ao diálogo entre ciência e religião.

Num estilo com que contam os seus leitores, Panão confirma, neste livro, a expectativa de que a escrita seja um outro modo de sentir o palpitar da existência humana, nas suas múltiplas facetas e dimensões, em dinamismo de ‘abertura’. Não é, aliás, por acaso, que a última palavra escolhida seja ‘aberta’.

Este é um livro que se lê com a companhia de um caderno (já partilhei, aliás, com amigos meus editores, a sugestão de criarem ‘livros-cadernos’: livros com uma parte de caderno em que se fazem as anotações que as reflexões do autor nos proporcionam)… Este é um daqueles livros em que, desde a primeira página, associamos a companhia de um caderninho onde anotamos ‘ideias brilhantes’ ou, neste caso, palavras particularmente eloquentes.

Miguel Panão tem um estilo inconfundível, mas a lembrar José Luís Martin Descalzo, que, nos seus vários livros de ‘razões para…’ que fizeram as delícias dos ibéricos (escrevia em espanhol, mas, em boa hora, as suas obras foram traduzidas e múltiplas vezes editadas pela Editorial Missões para português), partia da vida, dos eventos aparentemente mais banais para, daí, chegar ao âmago da vida. Panão toma, aqui, as palavras como guia, mas serve-se delas para, consciente que está de que a linguagem é a nossa via de acesso ao mundo, olhar a existência na sua transparência. As suas afirmações são suportadas numa leitura que cruza atenção à vida e solidez da reflexão cuidada e aturada. Não há texto em que não se refira estudo ou um facto que suporta o que se afirma. Mas com a simplicidade que caracteriza a genialidade. Não a do simplismo. Os textos de Panão são, só na aparência, simples: a simplicidade de quem já alongou o olhar e, pedagogicamente, partilha saber amadurecido em ‘casco de carvalho’. O que serve é apreciável pelo mais refinado escanção.

‘Palavras’ tem, ainda, a particularidade de poder ser lido em sequência ou de forma ‘atomística’ (cada parte é ‘indivisível’, como recorda o próprio Panão), lendo aleatoriamente ‘palavras’ que, pela sorte, a Providência indicar.

Este é um livro feito de surpresas. As surpresas da vida e do próprio pensar, bem certo. Surpresas que fazem a sua leitura um permanente desejar estar, mas também avançar. O leitor deleita-se com cada reflexão, mas está em caminho para um novo em que possa descobrir uma nova ideia ou um novo acontecimento ou evento que suporta uma linha de pensamento ainda não percorrida.

Aqui se encontram a ciência (Panão deixa, em diversos passos, emergir a solidez do cientista que é), a fé (com que se percebe ser iluminada toda a reflexão, não como quem possui um outro saber, mas como quem se dispõe a nunca parar no agora e no finito, mas se abre – mais uma vez, a abertura! – ao infinito), a cultura, a literatura, a epistemologia e tantos âmbitos do pensar humano…

‘Palavras’ é muito mais do que um livro. É um areópago de encontros.

Que o seja para cada leitor que com ele e nele se encontrar, pois, como recorda, com um estilo aforístico, ‘somos mais do que pensamos ser porque não somos ainda tudo o que poderemos ser’. (p. 240).


O livro é uma Edição de Autor feita através da Amazon.
Para Portugal, os leitores poderão obtê-lo através da Amazon Espanha, mas também através de qualquer loja Amazon.
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*Professor, Presidente da Comissão Diocesana da Cultura e autor de ‘Bem-nascido… Mal-nascido… Do ‘filho perfeito” ao filho humano’