Qua. Mai 1st, 2024
  1. O Testemunho em Jerusalém (Act 3, 1-10)

    O terceiro Domingo da Páscoa convida-nos a refletir sobre o episódio da aparição do Ressuscitado aos Onze e aos outros discípulos, que teve lugar imediatamente após o encontro de Cristo com os dois discípulos no caminho de Emaús. Da Palavra de Deus escutada emergem pelo menos três aspetos importantes da missão que os discípulos são chamados a realizar: a presença consoladora e iluminadora de Cristo, apesar da confusão e das dúvidas dos discípulos; o conteúdo fundamental da pregação em Seu nome; e o papel dos discípulos como testemunhas “de todas estas coisas”.

    Jesus tinha prometido aos discípulos que a sua pregação seria acompanhada de sinais (Mc 16,15-20). A cura de um coxo por parte de Pedro e João, em representação do grupo e em “nome de Jesus de Nazaré”, significa isto mesmo. Este sinal é como que uma credencial perante o povo porque eles são os portadores da salvação oferecida por Jesus.

     O discurso de Pedro continua a linha constante dos discursos apostólicos que encontramos no livro dos Atos dos Apóstolos: cumprimento das profecias do Antigo Testamento; Cristo, entregue pelo povo à morte, foi ressuscitado pelo Pai; os apóstolos são testemunhas disto mesmo; a obra de Cristo exige conversão, para que se perdoem os pecados.

2. Desafios pastorais para o arciprestado

No dia 26 de fevereiro do ano passado, no encerramento da visita pastoral, no Santuário de Nossa Senhora de Vagos, deixei alguns desafios pastorais que hoje quero recordar e pedir que sejam implementados nas paróquias do vosso arciprestado.

1º Uma pastoral que tenha em conta aquilo a que o Papa Francisco chama de conversão pastoral, apelando a que todas as comunidades se esforcem por empregar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão.

2º Uma nova forma de presença de Igreja nas nossas comunidades cristãs. O modelo de Igreja que se vive e experimenta em muitas comunidades, paróquias e movimentos, não favorece a participação e a missão, nomeadamente dos leigos. A Síntese Sinodal Diocesana, onde as vossas paróquias tiveram o seu contributo, diz-nos que transparece uma Igreja com um rosto ainda muito clerical, sobretudo na tomada de decisões. Embora o número de sacerdotes diminua, não podemos deixar de estar presentes como Igreja nos lugares onde estão as pessoas. É uma presença diferente, mas o viver e celebrar a fé tem de ser uma realidade. Dar mais importância e voz aos conselhos pastorais é uma prioridade pastoral. Para isso tais conselhos devem ser expressão da diversidade da comunidade paroquial.

3º Em todas as Eucaristias de encerramento da visita pastoral referi a necessidade de uma formação cristã mais profunda, de modo que cada um de nós saiba dar as razões da sua fé. Sem uma paixão pela Palavra de Deus – a pessoa de Jesus – não teremos o fogo necessário para sermos evangelizadores. E isto nasce da formação cristã. Nós temos de saber dar as razões da nossa fé. Num tempo em mudança, como é o nosso tempo, sentimos que a ignorância religiosa é algo que prolifera, a todos os níveis, nas nossas comunidades cristãs. Temos de apostar intensamente na formação cristã. Sinal disto mesmo, é a dificuldade que temos tido de muitas paróquias sintonizarem com a formação proposta nos nossos Programas de Pastoral.

4º A assiduidade à Eucaristia dominical, dia da Ressurreição do Senhor, é indispensável para fortalecer a fé pessoal e o sentido de comunidade, sendo esta “Família das famílias cristãs”. Comunidades que rezam e, ao mesmo tempo, são berço de novas vocações à vida matrimonial, à vida sacerdotal e de consagração, são forças vivas de evangelização.

Na Jornada Mundial da Juventude o Papa Francisco disse aos jovens e a cada um de nós: «levantai-vos!» Hoje também quero terminar esta peregrinação jubilar com as palavras do Papa para esta semana das vocações que hoje começa – chamados a construir a esperança e a semear a paz. Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos encerramos, para que possa cada um de nós descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se peregrino de esperança e artífice de paz! Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado e do ambiente que habitamos

Guiados pelo Espírito Santo, queremos ser pedras vivas com as quais Cristo edifica a Igreja diocesana de Aveiro. Que Nossa Senhora da Glória, titular da nossa Catedral, e a Princesa Santa Joana, nossa padroeira, e cada um dos padroeiros das vossas paróquias, nos ajudem a que sejamos fortes na fé, perseverantes na esperança e generosos na caridade.

Aveiro, 13 de abril de 2024.

+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro