Qua. Mai 1st, 2024

“Vós sois testemunhas de tudo isto”

  1. A manifestação aos Apóstolos e aos Discípulos (Lc 24,36-49)

Enquanto os discípulos de Emaús regressam a Jerusalém e contam aos apóstolos o que tinham visto, aparece-lhes Jesus. Os discípulos não se mostram crédulos, nem fáceis de aceitar o facto da Ressurreição. Estão cheios de medo, pensando ver um fantasma e, por isso, necessitam provas materiais. O Senhor oferece-lhes três sinais da Sua presença e da Sua identidade com o passado:

1.º sinal: Uma refeição

Na vida de Jesus, as refeições são sempre sinal de fraternidade, amizade e ocasião de lhes comunicar a Sua mensagem. Agora é para lhes tirar os medos, fortalecer a sua fé e dar-lhes a paz.

2.º sinal: Abertura à Palavra de Deus

Esta é outra das constantes de Jesus Ressuscitado com os discípulos: abrir-lhes o entendimento para que compreendam as Escrituras. Tudo o que se passou já estava anunciado. A grande lição de Jesus é que Ele se apresenta como o centro de toda a Escritura. Até Ele, toda ela foi de preparação para a Sua vinda. Depois d’ Ele, tudo será consequência da Sua morte e ressurreição, da Sua vida e da Sua mensagem. Este é o ponto de partida de toda a pregação apostólica, da qual S. Lucas nos oferece um resumo, que será depois amplamente desenvolvido nos Atos dos Apóstolos.

3.º sinal: O Perdão universal

A Ressurreição de Jesus universaliza o perdão e abre a perspetiva estreita e regionalista dos Apóstolos. A Eucaristia, significada na comida, na Palavra e no perdão, já não serão património apenas de uns poucos, mas sim de todos os povos, porque Jesus quer que se pregue a todas as nações, e esta vai ser a missão dos Apóstolos.

Este tríplice motivo vai ser o que semanalmente nos reúne, a nós cristãos, no dia do Senhor, na Páscoa semanal, quando todos juntos celebramos o perdão, nos abrimos à Palavra e oferecemos ao Pai o sacrifício de Jesus Ressuscitado.

2. Desafios ao arciprestado de Águeda

No encerramento da visita pastoral às paróquias do arciprestado de Águeda, em 24 de abril de 2016, já passaram oito anos, apontei alguns desafios para a nossa vida em Igreja: construir comunidades fervorosas e autênticas e, ao mesmo tempo, acolhedoras e missionárias; oferecer caminhos de Evangelho que sejam de iniciação, isto é, que façam apelo aos recursos profundos da pessoa ou que a conduzam àquilo que de mais profundo a pessoa possui; pôr em ação o Evangelho da bondade, pois foi a caridade dos cristãos que lhes conferiu a sua credibilidade.

Precisamos uns dos outros: ninguém pode prescindir dos outros e ninguém se desenvolve sem referência aos outros. Na Igreja, todos somos solidários uns com os outros, pois provém do Espírito a força da comunhão. Sinto que o vosso arciprestado nos seus agentes de pastoral – padres, leigos, movimentos apostólicos – muito têm a crescer em comunhão e participação. A síntese sinodal diocesana afirma que numa Igreja que seja sinal de comunhão todos devem assumir que essa renovação exige a conversão das pessoas e das comunidades. E a comunhão constrói-se em processo, no modo como se tomam determinadas atitudes e como se decide. A tomada de decisão sobre as opções pastorais de uma paróquia deve ser feita com as estruturas de participação e corresponsabilidade: conselho económico e conselho pastoral, escutando e refletindo os contributos de todos os seus membros e não apenas de alguns.

Na Jornada Mundial da Juventude o Papa Francisco disse aos jovens e a cada um de nós: «levantai-vos!» Hoje também quero terminar esta peregrinação jubilar com as palavras do Papa para esta semana das vocações que hoje começa – chamados a construir a esperança e a semear a paz. Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos encerramos, para que possa cada um de nós descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se peregrino de esperança e artífice de paz! Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado e do ambiente que habitamos

Guiados pelo Espírito Santo, queremos ser pedras vivas com as quais Cristo edifica a Igreja diocesana de Aveiro.  Que Nossa Senhora da Glória, titular da nossa Catedral, e a Princesa Santa Joana, nossa padroeira, e cada um dos padroeiros das vossas paróquias, nos ajudem a viver e a dar frutos de santidade neste Jubileu.

Aveiro, 14 de abril de 2024.

+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro