Dom. Abr 28th, 2024
  1. Deus amou tanto o mundo

O quarto Domingo da Quaresma está impregnado de luz, uma luz que neste Domingo “Laetare” [“Alegrai-vos!”] é realçada pelos paramentos litúrgicos de tonalidade mais clara e pelas flores que adornam a igreja» (Directório Homilético, n.º 73). Neste contexto de alegria pela “Páscoa que está próxima”, ouvimos no diálogo de Jesus com o fariseu Nicodemos, qual é a missão de Deus para a humanidade: «Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna.»

O anúncio de Jesus a Nicodemos começa com esta declaração do amor de Deus. A frase está relacionada com a afirmação “Deus é amor”, da primeira carta de São João (1 Jo 4, 8.16), que Santo Agostinho descreveu como a essência de toda a Bíblia através da sua original explicação: se houvesse um grande cataclismo na terra, um incêndio universal que destruísse todos os exemplares da Bíblia, exceto uma página, na qual todas as linhas estivessem danificadas e ilegíveis, com exceção das três palavras “Deus é amor”, todo o conteúdo da Bíblia estaria salvo!

O amor de Deus pela humanidade tem o seu ponto culminante na entrega que faz do seu Filho na cruz. A morte de Jesus por cada um de nós é a prova de quanto somos importantes para Deus. Acreditar em Jesus é aceitar um amor que não merecemos, mas que necessitamos. Deus, amando o mundo, salva-o, porque é próprio de Deus ser amor, misericórdia.

Deus toma a iniciativa de nos amar, de abraçar a nossa miséria, de transformar a nossa fraqueza/debilidade em graça. Deus ama o ser humano não porque sejamos perfeitos ou melhores que os outros. Ele ama-nos por aquilo que somos e é a partir da nossa vida que Deus nos salva.

Os discípulos-missionários de Cristo trazem sempre no coração a preocupação por todas as pessoas, independentemente da sua condição social e mesmo moral.

A afirmação de Jesus que hoje meditamos será também um convite a todos, a “quem quer que seja”, a olhar hoje de novo para Cristo Filho de Deus, erguido na cruz e agora elevado à direita do Pai, para contemplar o amor de Deus por nós, para que cada um possa simplesmente dizer “sim” ao dom divino gratuito da vida da graça, «acolhendo-O e deixando-Se transformar por Ele, como se se revestisse com um “traje nupcial” (cf. Mt 22, 12)».

2. Desafios pastorais ao arciprestado de Albergaria

A visita pastoral ao arciprestado de Albergaria-A-Velha realizou-se nos meses de janeiro a março de 2020, tendo sido interrompida pela pandemia da covid-19, quando estava a terminar a visita na paróquia da Branca. Não foi possível fazermos uma celebração final, sendo a celebração de hoje como que um novo impulso pastoral às vossas oito paróquias.

O ponto de partida da nossa reflexão não pode ser outro que aquele que o Papa Francisco denomina de conversão pastoral: «A Igreja deve aprofundar a consciência de si mesma, meditar sobre o seu próprio mistério. Em consequência disso, surge uma necessidade generosa e quase impaciente de renovação, isto é, de emenda dos defeitos, que aquela consciência denuncia e rejeita, como se fosse um exame interior ao espelho do modelo que Cristo nos deixou de si mesmo» (EG 26).

A síntese diocesana da caminhada sinodal, que tem também o contributo das vossas paróquias, apresenta as seguintes propostas de renovação que penso serem fundamentais na vida do vosso arciprestado:

1ª É necessário iniciar processos e caminhos de renovação e de reforma nos diferentes âmbitos e mediações da ação eclesial, passando pela conversão pessoal de cada batizado para que se torne discípulo missionário de Jesus.

2ª A renovação pastoral passa também pela renovação das estruturas e dos mecanismos que garantem a comunhão e a participação de todos na missão da Igreja. A tomada de decisão sobre as opções pastorais de uma paróquia deve ser feita com as estruturas de participação e corresponsabilidade: conselho económico e conselho pastoral, escutando e refletindo os contributos de todos os seus membros e não apenas do pároco. Onde não existem estes conselhos, é urgente que se criem.

3ª É referida muitas vezes a necessidade de haver maior unidade entre os padres e um maior trabalho em rede, não apenas como uma estratégia de rentabilização de meios, mas acima de tudo como testemunho de vida em comunhão.

Caros irmãos: Convido-vos a percorrer juntos o caminho da renovação pastoral. A recente Jornada Mundial da Juventude provou que onde há formação cristã e movimentos apostólicos é possível renovar a Igreja. Só na presença destas exigências básicas: o serviço, o diálogo, o anúncio missionário e o testemunho de comunhão eclesial é que o cristão se pode identificar com Cristo.

Que Nossa Senhora da Assunção, titular da nossa Catedral, e a Princesa Santa Joana, nossa padroeira, e os vossos padroeiros – Santa Cruz de Cristo, Nossa Senhora das Neves, Santa Marinha, S. Vicente, S. Paio, S. Tiago, S. João batista e Santa Eulália – nos ajudem a trilhar caminhos de renovação, a viver e a dar frutos de santidade.

Aveiro, 9 de março de 2024

+ António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro