Sex. Abr 26th, 2024

Pe. Franclim Pacheco

Breve comentário
O texto desde domingo é o primeiro duma série de três textos que apresentam a imagem da vinha. Além deste, temos a parábola do pai que manda os dois filhos trabalhar na vinha (Mt 21,28-30) e a história dos arrendatários que maltratam os diversos enviados pelo dono e que, por fim, matam o filho do dono para ficar com a vinha (Mt 22,33-41).
Na figura da vinha, aparentemente simples e quotidiana, a Escritura condensa uma realidade muito rica e profunda, cada vez mais densa de significado à medida que os textos se vão aproximando da revelação plena em Jesus. Em 1Rs 21 é narrado o episódio violento que envolve Nabot, um súbdito do corrupto rei Acab, que possuía uma vinha próximo do palácio do rei. Por amor à vinha, herança dos pais, ele acabou por perder a vida e a vinha. Isaías 5 diz-nos claramente que a vinha é uma imagem do povo de Israel: «A vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel; os habitantes de Judá a sua plantação preferida (Is 5,7). O Senhor amou este povo com um amor infinito e eterno, selado com uma aliança inviolável; Ele cuida dele, precisamente como faria um vinhateiro com a sua vinha, fazendo tudo para que possa dar os melhores frutos. Mas a história evangélica de hoje centra-se na relação entre o proprietário da vinha e os vários contratados a horas diferentes, pagos com critérios diversos.
A parábola dos operários contratados para trabalhar na vinha em diversas horas do dia pode criar dificuldades aos leitores que, colocando-se do lado dos trabalhadores da primeira hora, consideram injusto o que fez o dono da vinha e, em última análise, contestam a atitude de Deus.
Com os da primeira hora, o dono da vinha ajustou um denário por dia. Com os seguintes ficou acordado «o que for justo». Com os da última hora nada foi acordado nem prometido. Mais surpreendente é o sistema de pagamento em que os da primeira hora podem constatar que os da última hora recebem o mesmo que foi acordado com eles: um denário, que efectivamente lhes é dado. Parece ser injusto mas, de facto, não é. «Não acordaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai…». O dono da vinha age numa perspectiva de bondade e generosidade: os da última hora têm o mesmo direito a viver. Não trabalharam mais apenas porque ninguém os contratou.
O único dinheiro que é dado a todos é o reino dos céus que Jesus trouxe sobre a terra; é a possibilidade de entrar a fazer parte da salvação messiânica. A parábola começa por dizer: «O reino dos céus é semelhante a um homem proprietário…».
O problema é, uma vez mais, o da posição de hebreus e pagãos, de justos e pecadores, em relação à salvação anunciada por Jesus. Jesus apresenta, uma vez mais, um Deus diferente: não um Deus tipo comerciante que paga a cada um conforme as acções, estabelecendo diferenças de tratamento, mas um Deus que é um pai bondoso, acolhedor.
Mesmo os pagãos (e os pecadores, os publicanos, as prostitutas, etc.) que com a pregação de Jesus se decidiram por Deus, enquanto estavam longe («ociosos»), não ocuparão no reino uma posição diferente e inferior. Também eles se sentarão à mesma mesa e gozarão da plenitude dos bens messiânicos. E mais: porque muitas vezes eles se mostram mais prontos a acolher o Evangelho, ao contrário dos «justos» da «primeira hora», realiza-se o que Jesus diz na conclusão da parábola: «os últimos serão os primeiros e os primeiros últimos».