• 234 377 430
  • comunicacao@diocese-aveiro.pt
bispo
Missa Crismal – Homilia

Missa Crismal – Homilia

1. O Espírito do Senhor me ungiu e me enviou

O Espírito que habita em plenitude na pessoa de Jesus enviou-o a anunciar a Boa nova aos pobres, e introduz cada um de nós no mistério do Deus vivo e verdadeiro. É o Espírito que age nos crentes e nos homens de boa vontade, e suscita a generosa disponibilidade e a alegria evangelizadora de cada um de nós, que fomos chamados a proclamar, com a nossa vida e a nossa palavra, a Boa Nova da salvação, a consolar os que andam amargurados, a levar aos aflitos uma coroa em vez de cinza, a alegria aos aflitos e o louvor em lugar de um coração abatido. Sem o Espírito Santo não existe a Igreja, porque sem ele não há a possibilidade de uma vida cristã segundo o coração de Cristo.

Com o óleo da esperança e da consolação, o sacerdote faz-se próximo de cada pessoa, não dispondo de si, mas confiando, todas as manhãs, ao Senhor o seu tempo para se deixar encontrar pelas pessoas e fazer-se encontrar por elas. Sabe que o Amor é tudo. O seu estilo de vida simples e essencial, sempre disponível, apresenta-o credível aos olhos das pessoas e aproxima-o dos humildes, numa caridade pastoral que o torna livre e solidário. É um homem de paz e de reconciliação, um sinal e um instrumento da ternura de Deus, atento a difundir o bem com a mesma paixão com a qual os outros cuidam dos próprios interesses.

O segredo do sacerdócio consiste naquela sarça ardente que marca a fogo a nossa existência, a conquista e a molda com a de Jesus Cristo, verdade definitiva da sua vida. É a amizade com o seu Senhor que o leva a abraçar a realidade diária, com a confiança de quem acredita que a impossibilidade do homem é possibilidade para Deus.

2. Peregrinos de esperança

O Jubileu que estamos a viver coloca a esperança no coração da vida cristã, porque ela nasce do amor e funda-se no amor e, por isso, «precisamos de transbordar de esperança (cf. Rm 15,13) para testemunhar de modo credível e atraente a fé e o amor que trazemos no coração; para que a fé seja jubilosa, a caridade entusiasta; para que cada um seja capaz de oferecer ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem o recebe» (Bula do jubileu, 18).

A esperança cristã é a âncora que nos ajuda a ter a certeza de que o trabalho sinodal sobre as comunidades pastorais que estamos a realizar na nossa Diocese tem de ser fruto de um discernimento no Espírito, para encontrarmos caminhos que nos ajudem a realizar a missão da Igreja, que é essencialmente anunciar o Evangelho de Jesus.

Neste sentido, queria pedir a todos os sacerdotes que tivéssemos muito presente nos nossos trabalhos pastorais dois jubileus que vamos celebrar no tempo pascal: no dia 10 de maio o jubileu das nossas crianças e adolescentes e no dia 1 de junho o das famílias. Ambos vão ser celebrados no Santuário de Vagos e as respetivas equipas – o departamento da catequese e da infância e o secretariado da pastoral familiar – estão a elaborar os respetivos programas. Peço o vosso apoio e entusiasmo para estes dois jubileus diocesanos nos quais onde as famílias têm um papel muito importante.

3. O discernimento no Espírito

O discernimento eclesial «não é uma técnica organizativa, mas uma prática espiritual a ser vivida na fé. Requer liberdade interior, humildade, oração, confiança recíproca, abertura à novidade e abandono à vontade de Deus. Nunca é a afirmação de um ponto de vista pessoal ou de um grupo, nem se resolve na simples soma de opiniões individuais; cada um, falando segundo a sua consciência, abre-se à escuta daquilo que os outros em consciência partilham, para procurarem juntos reconhecer “o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2,7)» (Sínodo 2024, 82).

Discernir não é defender a própria maneira de pensar, a própria iniciativa e a própria independência, mas renunciar ao saber que procede do mundo, para encontrar o saber que procede de Deus. Isto passa por aprender a reconhecer a ‘voz de Deus’ dentro de nós. Diz-nos a experiência que quando a Igreja não responde satisfatoriamente aos anseios espirituais e existenciais do mundo na sua realidade histórica concreta, o mundo cria respostas e caminhos que procuram satisfazer as necessidades e angústias existenciais.

O caminho de renovação em que todos estamos empenhados, e que as 18 assembleias sinodais realizadas em toda a nossa diocese, com a participação de 564 representantes dos Conselhos arciprestais de pastoral e de todas as paróquias, é um bom sinal deste nosso caminhar. O ambiente criado, a forma positiva como é vista a missão da Igreja e a necessidade de sermos capazes de olhar para o futuro, como foram aqueles que nos precederam, é o caminho sinodal que todos devemos percorrer. Agora, é necessário que a Assembleia Diocesana de 6 de julho recolha o contributo de todos e avancemos para a etapa de escuta e de discernimento do maior número possível de pessoas, que pertençam às nossas comunidades cristãs ou andem afastadas, porque também a elas deve chegar o caminho sinodal. Toda a renovação autêntica exige coragem, dinamismo e conversão interior de pessoas e estruturas, nomeadamente a Cúria diocesana. Caminhar juntos, com respeito, com escuta e diálogo mútuos, essa é a catequese para o nosso tempo; é também uma forma de sinodalidade, um caminho comum.

4. Uma Diocese agradecida

O documento final do Sínodo dos Bispos, referindo-se à presença dos presbíteros numa Igreja sinodal, diz-nos que nós somos chamados a viver o nosso serviço numa atitude de proximidade com as pessoas, de acolhimento e de escuta de todos, abrindo-nos a um estilo sinodal. Os Presbíteros “constituem com o seu Bispo um presbitério” (LG 28) e «colaboram com ele no discernimento dos carismas e no acompanhamento e orientação da Igreja local, com uma atenção particular ao serviço da unidade. São chamados a viver a fraternidade presbiteral e a caminhar juntos no serviço pastoral» (nº 72).

Hoje, agradecemos o dom do sacerdócio dos Padres Abílio Manuel Ferreira Araújo e Nicolau Claro Miranda Barroqueiro pelos seus 25 anos de ordenação (2-1-2000), os Padres Adérito Rodrigues Abrantes e Manuel Armando Rodrigues Marques pelos 60 anos de serviço à nossa Diocese (25-7-1965), dando-se a curiosidade de estes quatro sacerdotes terem sido ordenados pelo Senhor D. Manuel de Almeida Trindade, enquanto bispo diocesano e emérito, e o Padre José Marins Belinquete (3-7-1955) pelos seus 70 anos de sacerdócio. Aos que celebram o seu jubileu sacerdotal, e a todos os sacerdotes do nosso presbitério, agradeço a dedicação e colaboração no esforço que todos estamos a fazer para respondermos ao que a missão da igreja pede a cada um de nós, hoje. A comunhão presbiteral é o sinal mais eficaz da missão evangelizadora da nossa diocese de Aveiro. Agradeço também aos diáconos, enquanto cooperadores do bispo, e aos consagrados, sinal de esperança cristã, a sua dedicação e testemunho na vida da nossa Diocese.

Lembramos no coração do nosso bom Deus o P. Manuel António Carvalhais, que nos deixou no passado dia 18 de fevereiro, pedindo-lhe que continue a interceder por nós e pelas novas vocações.

Queridos sacerdotes, o Papa Francisco, na sua autobiografia, diz-nos que «os cristãos não são os do “grande futuro atrás das costas”; a sua nostalgia do futuro é trepidante: com saudades do futuro, tal como diz Pessoa no seu Livro do Desassossego». Caminhar juntos, com respeito mútuo, com escuta mútua e diálogo, essa é a catequese para o nosso tempo; é também uma forma de sinodalidade, um caminho comum. 

Que Maria, a mulher do sim, nos ensine a viver o nosso sacerdócio com alegria e generosidade ao povo santo de Deus.

Amen.

_______

Catedral de Aveiro, 17 de abril de 2025

António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo

GALERIA DE IMAGENS: https://photos.app.goo.gl/xpjKaC6jKp2vH6yD8

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *