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Homilia do Jubileu dos Sacerdotes 

Homilia do Jubileu dos Sacerdotes 

Sagrado Coração de Jesus 

1. O Senhor é meu pastor, nada me falta 

O profeta Ezequiel diz-nos que assim como o pastor se preocupa com o seu rebanho, quando se encontra entre as ovelhas dispersas, assim se preocupa Deus com o seu rebanho. Deus procura a ovelha que se tinha perdido, reconduz a que se tinha tresmalhado, cuida a que está ferida e vigia sobre a que está gorda e forte (cf. Ez 34, 12.16). 

O pastor de que fala a parábola que escutámos no Evangelho é o próprio Deus. Dirigindo-se aos responsáveis da comunidade, prescinde das noventa e nove ovelhas que estão salvas e vai à procura da que está perdida. Destaca-se a obrigação de o pastor evitar que se percam. Ao insistir na particularidade de “uma ovelha” indica-se que não se trata de uma sociedade massificada, mas que cada um dos seus membros é único para Deus, e deve sê-lo para os seus irmãos. 

Encontramos nas três parábolas de S. Lucas – o pastor, a moeda e o filho que saiu de casa – um final semelhante: necessidade de partilhar a alegria, porque se encontrou o que estava perdido. Facilmente os seus ouvintes entendem e experimentam esta alegria do pastor, da mulher e do pai; mas para aqueles que não são protagonistas no encontro do perdido, sentem-se alheios a esta alegria. Nos três casos, torna-se imprescindível o convite: “Alegrai-vos comigo”, “Tinha de fazer uma festa e alegrar-me”

2. O amor de Deus derramado nos nossos corações 

A leitura de S. Paulo aos Romanos centra-nos no amor de Deus que foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi concedido, mostrando assim o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores. 

Celebramos este ano os 350 anos das aparições do Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, no mosteiro de Paray-le-Monial, com um jubileu que começou em 27 de dezembro de 2023, data do aniversário da primeira aparição, e que encerra hoje, dia 27 de junho de 2025, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, com o lema “Devolver amor por amor”. 

O núcleo da mensagem que foi transmitida no santuário de Paray-le-Monial está contido nas palavras que Santa Margarida ouviu: «Eis aqui este Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se tem poupado até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor». É fundamental a declaração de amor que se destaca na primeira grande aparição. Jesus diz: «O meu divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e em particular para contigo, que, não podendo já conter em si as chamas da sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e manifestar-se-lhes para os enriquecer de seus preciosos tesouros, que eu te mostro a ti».  

Santa Margarida Maria resume tudo isto de uma forma poderosa e fervorosa: «Ali me descobriu as maravilhas do seu amor e os segredos insondáveis do seu Sagrado Coração, que sempre me tinha conservado escondidos até àquele momento em que mos abriu pela primeira vez, mas de modo tão real e sensível que me não deixou lugar a nenhuma dúvida». Nas declarações seguintes, reafirma-se a beleza desta mensagem: «Ele me mostrou as maravilhas inexplicáveis do seu puro amor, e o excesso a que ele tinha chegado em amar os homens». 

Também a nós hoje, sacerdotes desta Igreja de Aveiro, são dirigidas as palavras que Santa Margarida ouviu: «Eis aqui este Coração que tanto tem amado os homens, que a nada se tem poupado até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor». 

3. Pastores para um presbitério 

O nosso Programa pastoral para este triénio afirma que «temos de fazer opções pastorais que estimulem e consciencializem a todos no papel premente e importante da corresponsabilidade ministerial, na presença eclesial no território e nos organismos e pessoas que são rosto da Igreja diocesana». 

A vivência do Ano Jubilar, bem como os 75 anos do nosso seminário de Aveiro, cuja Igreja é dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, devem despertar em cada um de nós sentimentos de esperança e a sentirmo-nos chamados a colaborar na missão de sermos “peregrinos de esperança”. O jubileu dos sacerdotes do nosso presbitério constitui um apelo a reforçarmos a nossa comunhão para um testemunho mais credível do Evangelho. 

A este propósito, desejo partilhar convosco três reflexões que o Papa Leão XIV fez aos sacerdotes da sua diocese de Roma, e que são também para nós palavras que interpelam e de comunhão com o sucessor de Pedro. 

A primeira nota, que me é particularmente cara, refere o Santo Padre, é relativa à unidade e à comunhão. Na chamada oração “sacerdotal”, como sabemos, Jesus pediu ao Pai que os seus fossem um (cf. Jo 17, 20-23). O Senhor sabe bem que só unidos a Ele e entre nós podemos dar fruto e testemunho credível ao mundo. O presbítero é chamado a ser homem da comunhão, pois ele é o primeiro que a vive, alimentando-a continuamente. Sabemos que hoje esta comunhão é impedida por um clima cultural que favorece o isolamento ou a autorreferencialidade. Nenhum de nós está isento destas ciladas que ameaçam a solidez da nossa vida espiritual e a força do nosso ministério. Caminhar juntos é sempre garantia de fidelidade ao Evangelho; juntos e em harmonia, procurando enriquecer a Igreja com o próprio carisma, mas tendo sempre como referência o único corpo do qual Cristo é a Cabeça. 

A segunda nota que vos desejo transmitir é relativa à exemplaridade. Peço-vos com o coração de pai e pastor: esforcemo-nos todos por ser sacerdotes credíveis e exemplares! Deixai-vos continuamente atrair pelo chamamento do Mestre, para sentir e viver o amor da primeira hora, aquele que vos impeliu a fazer escolhas fortes e renúncias corajosas. Se juntos procurarmos ser exemplares numa vida humilde, então conseguiremos exprimir a força renovadora do Evangelho para cada homem e mulher de hoje e de sempre. 

Uma última nota que vos quero confiar é a do olhar para os desafios do nosso tempo em chave profética. O Senhor quis-nos precisamente a nós neste tempo cheio de desafios que, às vezes, nos parecem maiores do que as nossas forças! Somos chamados a abraçar estes desafios, a interpretá-los evangelicamente, a vivê-los como ocasiões de testemunho. Não os evitemos, nem desanimemos! Que o compromisso pastoral e da formação se torne para todos uma escola para aprender a construir o Reino de Deus no hoje de uma história complexa e, ao mesmo tempo, estimulante. 

Peçamos ao Senhor Jesus Cristo que do seu Coração brotem rios de água viva para curar as feridas que nos infligimos, para reforçar a nossa capacidade de amar e servir, para nos estimular a fim de aprendermos a caminhar juntos, para celebrarmos unidos o banquete do Reino celeste. Aí estará Cristo ressuscitado, harmonizando todas as nossas diferenças com a luz que brota do seu coração aberto. 

Catedral de Aveiro, 27 de junho de 2025 

António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo 

Oração ao Coração de Jesus 

Senhor 
hoje procuramos a companhia 
do teu terno Coração, 
procuramos-te a ti, 
que tens palavras 
que fazem arder o peito, 
que derramas compaixão 
sobre os mais pequenos e pobres, 
os que sofrem 
e sobre todas as misérias humanas. 
Desejamos conhecer-te melhor, 
contemplar-te no Evangelho, 
estar contigo e aprender de ti, 
da caridade com que te deixaste tocar 
por todas as pobrezas. 
Dá-nos, Tu que nos mostraste o amor do Pai 
amando-nos sem medida 
com o teu Coração divino e humano, 
a graça do encontro contigo, 
de um encontro que mude, 
modele e transforme os nossos planos; 
para que só te busquemos a ti, 
em todas as circunstâncias, 
na oração, nos trabalhos,  
nos encontros e na rotina diária. 
Sê para nós fonte de onde brota 
toda a consolação. 
Amen.

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