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Comunidades pastorais serão aprovadas em assembleia sinodal

Comunidades pastorais serão aprovadas em assembleia sinodal

Correio do Vouga, edição de 15 de outubro de 2025

Realizou-se no dia 11 de outubro uma jornada pastoral no Seminário de Aveiro, que significou o início oficial do ano pastoral. A jornada centrou-se na questão da criação das comunidades pastorais, que deve ser um processo essencialmente sinodal.

Bispo de Aveiro vai convocar assembleia sinodal para daqui a um ano e aponta três atitudes no processo de construção das comunidades pastorais: discernimento, misericórdia e sinodalidade.

D. António Moiteiro apresenta três atitudes para a mudança

 A Diocese de Aveiro está num processo de junção voluntária de paróquias – as chamadas comunidades pastorais – para que seja mais fiel à sua missão. “A nossa diocese de Aveiro tem como propósito, no plano pastoral para o triénio (2024-2027), criar e implementar as comunidades pastorais como resposta às urgências e desafios do tempo presente, às solicitações e propostas do povo santo e fiel de Deus”, disse D. António Moiteiro, na abertura da jornada pastoral que decorreu no Seminário de Aveiro, no dia 11 de outubro. Esta mudança está a ser levada a cabo para que a Igreja local cumpra melhor a sua finalidade. “A tarefa de evangelizar constitui a missão essencial da Igreja: ela existe para evangelizar. Num tempo que é novo, marcado por uma cultura diferente, plural, multifacetado e pluricultural, só mudando e adequando os modelos organizativos e os processos de ação pastoral, podemos transmitir o que não muda”, disse D. António Moiteiro, que apresentou três palavras ou atitudes a assumir neste processo de mudança: discernimento, misericórdia e sinodalidade. Por discernimento entende-se a capacidade de “ver claro entre”, “escolher separando”. “O discernimento é uma operação, um processo de conhecimento, que se realiza através de uma observação vigilante e uma experimentação atenta, com o fim de nos orientar na nossa vida, sempre marcada pelos limites e pelo não conhecimento”, disse o Bispo de Aveiro, acrescentando que “o discernimento cristão não se pode reduzir a um método e a uma técnica de introspeção, de maior conhecimento de nós mesmos, mas é um itinerário que requer a intervenção de um dom do Espírito, de uma ação da graça”. O segundo valor ou atitude é a misericórdia, que “é o nome de Deus e isto exige que vejamos a Igreja como lugar para todos, um hospital de campanha, uma Igreja de portas abertas onde todos cabem”. A terceira prática é a da sinodalidade, o “caminhar juntos dos cristãos com Cristo e para o Reino de Deus, em união com toda a humanidade”. A sinodalidade tem as suas exigências. Implica o encontro em assembleia nos diversos níveis da vida eclesial, a escuta recíproca, o diálogo, o discernimento comunitário, a formação de consensos como expressão da presença de Cristo no Espírito e a tomada de uma decisão em corresponsabilidade diferenciada”, disse D. António Moiteiro.

Assembleia sinodal concluirá processo da criação das comunidades pastorais

O Bispo de Aveiro anunciou que convocará para o primeiro trimestre do próximo ano pastoral (2026/27) uma assembleia sinodal para aprovar as comunidades pastorais. “O calendário que nos propomos percorrer leva-nos à constituição e escuta de grupos de leigos, consagrados, diáconos e sacerdotes em todas as comunidades cristãs, a fazermos sínteses daquilo que o Espírito diz à Igreja que está em Aveiro, para no primeiro trimestre do próximo ano pastoral (outubro-dezembro) realizarmos uma Assembleia sinodal com representantes de toda a Diocese, a fim de implementarmos, progressivamente, as comunidades pastorais”, disse na comunicação que abriu a jornada do dia 11 de outubro. Noutro momento do dia, no final da manhã, D. António Moiteiro voltou a dizer que só assinará os decretos de criação das comunidades pastorais que corresponderem de facto à vontade dos cristãos e das comunidades.

“A sinodalidade não é uma novidade absoluta”

“A sinodalidade não é uma novidade absoluta. É um processo de compreensão do Concílio Vaticano II e uma forma de ser necessária para que a Igreja hoje possa evangelizar”, disse
o padre espanhol José San José Prisco. Segundo o professor de Direito Canónico (em Salamanca) e especialista convidado do último Sínodo dos Bispos, a sinodalidade volta a ser falada
nos nossos dias porque regressa a compreensão da Igreja como “Povo de Deus”, depois de umas décadas de domínio da teologia da “Comunhão”. “Povo de Deus” é uma conceção fundamental no
documento conciliar “Lumen Gentium” (sobre a identidade de Igreja), mas durante as décadas de 1980 e 1990 sublinhou-se mais o traço da “Comunhão”, devido ao medo das ideologias que
conviviam com a Teologia da Libertação, a qual realçava a ideia e categoria teológica de “Povo de Deus”. Porque a Igreja é “Povo de Deus” e é “reflexo da Trindade” todos os batizados são corresponsáveis, ao contrário da visão hierárquica que deixava tudo nas mãos do clero.
O sacerdote deixou claro que a sinodalidade “não é um romper com a Tradição”, um “parlamentarismo”, “o triunfo da opinião” nem uma “proposta ideológica”. Mas é “reforma em continuidade”, “comunhão hierárquica”, “busca da verdade”, “expressão da ação do Espírito”.
José Prisco manifestou várias vezes o seu agrado por encontrar um salão cheio de agentes pastorais, leigos na sua maioria, e considerou positivo que o processo de criação das comunidades pastorais na Diocese de Aveiro seja algo alargado e envolvente, que “leva tempo”, em vez de ser “uma questão de despacho burocrático”.

Seguem-se quatro encontros paroquiais

O processo de criação das comunidades pastorais está agora em cada paróquia, com a realização de quatro encontros. Os primeiros dois devem acontecer até dezembro. E os outros dois, de janeiro a março de 2026. No final de cada par de encontros, as reflexões devem ser enviadas para a equipa diocesana. O esquema foi explicado no dia 11 de outubro por Pedro Ventura, que integra a Equipa de Pastoral Diocesana. O responsável insistiu no convite a outras pessoas que não fazem parte do mesmo grupo ou mesmo que não andam pela igreja, para que tudo seja mais representativo. Para cada encontro há um esquema e métodos próprios. P.e Pedro Barros, que também integra a Equipa Diocesana de Pastoral, disse que a equipa está “disponível para ir aos encontros”, embora deixasse bem claro que o protagonismo deve ser de quem está nas paróquias. De abril a julho de 2026 realizam-se as assembleias arciprestais. O documento síntese será apresentado no dia 5 de julho e a assembleia sinodal para aprovação das comunidades pastorais será marcada pelo Bispo de Aveiro entre outubro e dezembro de 2026.

Temáticas dos encontros

 O primeiro encontro de reflexão nas paróquias tem como tema “Que sonhos para a igreja de amanhã?”. o segundo segue a mesma linha, mas a questão é colocada em relação à “nossa paróquia”. no terceiro encontro, pergunta-se “Que realidades para a igreja de amanhã? comunidades pastorais, uma realidade?”. no quarto e último encontro, pergunta se: “comunidades pastorais: o que queremos?”. enquanto o segundo e quarto encontros são “mais de diálogo”, o primeiro e o terceiro são essencialmente de escuta, com intervenções de todos (dois minutos cada), sem debate, e com períodos de silêncio, como no sínodo em Roma.

Correio do Vouga, edição de 15 de outubro de 2025

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